A (des)confiança vem do PIB
Um desempenho melhor da economia no terceiro trimestre faz o governo federal comemorar, enquanto a população espera mais resultados
Os percentuais de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são como notas de avaliação da conjuntura para os governos, ampliando ou reduzindo a confiança na gestão cujo desempenho pode se refletir, em parte, no mais importante dado estatístico para a evolução da economia e seu desenvolvimento. São apenas números, mas trazem junto expressões de ansiedade, celebração ou derrota, para as quais nem sempre as justificativas encontram respaldo na realidade. Ou pior, no discurso que faz do PIB o espelho da administração pública, quando engloba outros fatores que contribuem tanto, ou até mais, para o contínuo acompanhamento da vitalidade econômica.
A elevação de praticamente 1% de um trimestre para outro, e de 4% em doze meses, na comparação com o mesmo trimestre de 2023, fez o governo Lula saltar fogos, como se a economia estivesse conferindo à gestão uma nota 10. No entanto, estamos distantes de um crescimento robusto, no adjetivo masculino utilizado pela equipe governamental para qualificar o que seria um grande feito. O índice do PIB veio a reboque da força da indústria, dos serviços e dos gastos familiares dos brasileiros, em condições, como de costume, longe de ideais – em muitos casos, pelo contrário, o valor do trabalho e da capacidade empreendedora da população se depara com estruturas precárias para seus potenciais, problema que vem de muito cedo, desde a educação básica, e se transfere para as universidades e a formação profissional no país, além de um ambiente de negócios prejudicado por diversas questões de infraestrutura.
Tentando conter uma avalanche de desconfiança do mercado sobre o ajuste fiscal e a disposição de um partido historicamente despreocupado com gastos públicos, o governo federal enxerga na boa notícia do PIB – quanto a isso não há ressalvas – um contraponto para animar a confiabilidade da gestão. Porém o tamanho da boa notícia não exime o ajuste, e muito menos o ceticismo de seu cumprimento, ou ainda, a cobrança por resultados mais expressivos do terceiro mandato de Lula, que entra para a segunda metade em algumas semanas. O governo pode querer celebrar um Pibinho mais robusto, que acumula, em 2024, o crescimento de 3,3% até setembro, mas a população ainda espera números e perspectivas melhores de vida.
A recuperação da economia segue oscilante no Brasil, de acordo com o IBGE, sem demonstrar a sustentabilidade necessária para um salto qualitativo de desenvolvimento. Entre outras causas, devido à crise na agricultura, que decresceu quase 1% no terceiro trimestre, em face das dificuldades climáticas enfrentadas desde o início do ano. Embora o PIB em alta e o desemprego em queda possam amparar certo otimismo, a alta do dólar e da inflação emolduram a desconfiança persistente, por exemplo, em relação ao cumprimento da meta de déficit zero para as contas públicas. Resgatar a credibilidade política mantendo o a direção da retomada econômica é o desafio dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, que comandam a equipe dos bastidores formuladores de medidas recheadas de incertezas oriundas do próprio Palácio do Planalto.