Calor de rachar em 2024

O ano que pode ser o mais quente já registrado fez as populações sofrerem com fenômenos intensos, deixando cientistas e governos em alerta

Publicado em 28/12/2024 às 0:00
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Um relatório sobre os efeitos dos eventos climáticos extremos no ano que está terminando revela que tivemos mais de um mês com temperaturas elevadas ao nível de risco à saúde em 2024 – 41 dias acrescentados à média no planeta. O estudo foi realizado em conjunto pela World Weather Attribution e pela Climate Central, que identificaram a causa das mudanças climáticas no deslocamento forçado de milhões de pessoas de seus lugares, e na morte de pelo menos 3.700 indivíduos. Para os responsáveis pelo estudo, os efeitos nunca foram tão evidentes, e mostraram com tanta ênfase o risco das mudanças climáticas para a humanidade e a biodiversidade na Terra.
Em apenas cinco países da África, as enchentes deste ano provocaram cerca de duas mil mortes. Com baixos níveis de emissões de gases poluentes, os africanos têm sido os mais afetados pelos efeitos das mudanças do clima, o que demonstra a dimensão inequivocamente global do problema – ou todas as nações buscam o mesmo objetivo, para reduzir a emissão de gases e amenizar o calor, ou todos vamos ver as consequências cada vez maiores. O preocupante é que, além de não termos sinal de coesão nas providências ambientais, nada garante, a essa altura, que uma reversão da mudança climática é possível – o ponto sem retorno pode ter sido ultrapassado. E qualquer redução do atual ritmo de aquecimento planetário e seus efeitos ainda pode levar alguns anos para começar, se fizermos, em conjunto, tudo que precisa ser feito.
As temperaturas acima do usual foram observadas na atmosfera e nos oceanos, alterando a configuração das condições de manutenção e propagação da vida em variados ambientes e ecossistemas. O planeta em que surgimos e que estamos consumindo é um habitat perturbado pela ação humana. Difícil crer que a espécie predatória será capaz de interromper a voracidade e restaurar o equilíbrio na biosfera. A febre medida em ondas de calor sufocante – acima de 50 graus Celsius – e o aumento do número e da força de ciclones, não deixa de parecer uma resposta à ocupação do planeta pela humanidade, em voracidade que afetou velozmente, em escala exponencial no último século, os recursos naturais ao nosso redor.
Na realidade marcada por secas severas e tempestades turbinadas pelo calor, a urgência por medidas de convivência com as mudanças climáticas é similar à que solicita uma reação uníssona dos governos nacionais para a contenção da temperatura global. Pois o que está ruim pode ficar pior, se os termômetros subirem ainda mais nos próximos anos, como é previsto caso não consigamos reduzir as emissões de gases do efeito estufa, nem frear as consequências já em curso. O calor de rachar deste ano é um sintoma da irresponsabilidade ambiental compartilhada pelas lideranças dos países e pelas populações, que não quiseram ou não puderam dar prioridade à pauta da sustentabilidade. As perdas acumuladas em 2024 apontam para um cenário difícil pela frente.

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