Entre altos e baixos
Com o cenário político, infelizmente, sem grandes novidades e uma economia que termina o ano flertando com a instabilidade, vamos a 2025
Embora o nível de negociação entre o Congresso e o Palácio do Planalto tenha chegado mais uma vez às raias do Supremo Tribunal Federal, no exame de emendas bilionárias com suspeitas de irregularidades e falta de transparência, a temperatura institucional está aparentemente controlada. O ano termina sem grandes turbulências em Brasília, ou o surgimento de lideranças capazes de sair do plano dos estados para uma eventual projeção regional e nacional. A mesmice desfilou nas eleições municipais, com a renovação de mandatos de muitos prefeitos, impulsionados por recursos financeiros e com apoio da conhecida máquina pública da reeleição no Brasil.
Mas a estabilidade política relativa, no equilíbrio cada vez mais precário, e de alto custo, entre o Executivo e o Legislativo, não evitou a manifestação de uma certa instabilidade na economia, que tem na disparada do dólar sua maior expressão. De janeiro a novembro, o déficit nas contas públicas ultrapassa R$ 63 bilhões, rombo que vai a R$ 72 bilhões levando em conta apenas o governo federal. Apesar de serem resultados melhores do que os de 2023, o mercado financeiro vê com ceticismo as promessas de equilíbrio fiscal do governo Lula, em mais um ano de frouxidão nos gastos. A situação das estatais pesa na avaliação: com um buraco de R$ 6 bilhões até novembro, empresas como os Correios, o Serpro e a Infraero apresentaram o pior resultado em 15 anos, com baixa receita e muita despesa.
Mas a economia também teve boas notícias. O desemprego bateu no patamar mais baixo já registrado, com uma taxa de 6,1% no trimestre encerrado em novembro. Trata-se de um dado animador para projetar alguma chance de crescimento com sustentabilidade, se a formação profissional ajudar e os investimentos forem realizados nos locais adequados, o mais breve possível. Sem aumento da capacidade produtiva, o temor é que a inflação volte a acelerar, anulando a boa perspectiva gerada com mais empregos.
O ano para os brasileiros também foi marcado pelo agravamento dos fenômenos climáticos extremos, fazendo o país estampar as notícias em todo o mundo. Seja por causa das enchentes históricas no Rio Grande do Sul, ou na seca aguda na Amazônia e os incêndios florestais em vasta porção do território nacional. Sem esquecer das ondas de calor e das tempestades que atingiram diversas grandes cidades, provocando pânico em áreas de risco e transtornos em toda a população, como a falta de energia prolongada. Os brasileiros vivenciaram momentos que se espalham pelo mundo feito sinais de alerta, segundo os cientistas, de que a crise ambiental é severa e pode ter vindo para ficar, numa espécie de “novo normal climático” ainda indefinido.
A expectativa para 2025 é de mais do mesmo, sem maiores benefícios para a população. Um evento deve chamar a atenção do mundo para o Brasil, com apelo de conjunção entre as esferas política, econômica e ambiental: o encontro da Conferência do Clima em Belém do Pará, em novembro do ano que vem. Daqui para lá, o país precisa fazer a tarefa de casa, para não passar vexame.