Editorial JC: Mudanças no Planalto apontam para incertezas
Posse Gleisi Hoffmann (PT) no Ministério das Relações Institucionais cria uma enorme expectativa sobre rumos do governo Lula de agora em diante.

Fosse outro representante do leque de apoio político ao governo, a chegada de um novo ministro das Relações Institucionais não causaria tanto alvoroço. Mas desde que o nome da deputada Gleisi Hoffmann foi anunciado, não se fala de outra coisa. E não é para menos.
Desde o início deste terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ex-presidente do Partido dos Trabalhadores especializou-se em criticar a política econômica do Planalto, conduzida pelo colega de partido Fernando Haddad.
Aliás, é no Palácio do Planalto, onde despacha o presidente, que também despachará a ministra Gleisi a partir de hoje, quando toma posse, em Brasília.
Gleisi é uma brava guerreira em favor das causas mais radicais à esquerda, em um governo que não vai para lugar nenhum sem o apoio da centro-direita no Congresso Nacional e no seu próprio ministério. Mas o que preocupa, mesmo, é o alvo especial destinado exatamente ao ministro da Economia, Fernando Haddad, de onde pode vir os maiores erros e acertos de qualquer governo.
Com poucos amigos, inclusive dentro do seu partido, não se sabe ao certo as razões pelas quais o presidente da República convidou a deputada do PT do Paraná para o cargo de ministra palaciana. O fato é que ela substituirá o ministro Alexandre Padilha, também do PT, que assume o Ministério da Saúde, onde a gestão da socióloga Nísia Trindade não resistiu a críticas de gregos e troianos. Uma das razões para a ascensão de Gleisi seria seus méritos na articulação política da campanha vitoriosa de Lula em 2022.
Vivendo um momento difícil, com avaliação em baixa inclusive em regiões como o Nordeste, está claro que o presidente Lula fez uma aposta alta ao escolher Gleisi Hoffmann.
Caso ela não mude - e alguns apostam nessa mudança - a chegada da ministra ao Planalto sinaliza um período de embates dentro do próprio governo, com petardos vindos do Palácio em direção à equipe econômica. Então, o que já não estava bom pode piorar muito. Evidentemente, não é isso que o país espera.
Sem o mínimo de estabilidade e de capacidade de relacionamento estável com o Congresso e com a sociedade - funções da nova ministra - o governo não ganha e o país perde. A não ser que seja fato o que se comenta em Brasília, segundo relatos de membros do Centrão, trazidos pelo jornal o Estado de São Paulo: que a escolha de Gleisi se deu porque o presidente Lula está vendo que "quem não debandou, vai debandar". Ai, de fato, equivale dizer que a campanha pela reeleição estaria nas ruas e caminharíamos, sem dúvida, para um salve-se quem puder. É tudo o que não precisamos.
Confira a charge do JC desta segunda-feira (10)
