Violência

Em primeiro mês de quarentena, número de mulheres baleadas dobrou no Grande Recife

De acordo com levantamento feito pela Fogo Cruzado, entre os dias 21 de março e 20 de abril de 2020, houve um aumento de 38% na quantidade de tiroteios na RMR

Mayra Cavalcanti
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Mayra Cavalcanti
Publicado em 21/04/2020 às 14:06 | Atualizado em 21/04/2020 às 14:06
Arquivo/JC Imagem
Crime (Imagem ilustrativa) - FOTO: Arquivo/JC Imagem

Nas cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), o isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus não resultou em uma redução na violência urbana. De acordo com levantamento feito pela plataforma Fogo Cruzado, na região, entre os dias 21 de março e 20 de abril de 2020, foram contabilizados 162 tiroteios, número 38% maior que em 2019, que resultaram em 194 pessoas baleadas e 110 mortas. No ano passado, no mesmo período, foram 117 tiroteios, que deixaram 113 feridos e 81 mortos. O número de mulheres baleadas também é alto e representa o dobro do ano passado.

Segundo o levantamento, entre março e abril de 2020, 12 mulheres foram baleadas na RMR. Destas, cinco morreram e, entre as vítimas, estava uma grávida de nove meses. Em 2019, no mesmo período, foram seis pessoas do sexo feminino baleadas, dentre as quais quatro faleceram. Edna Jatobá, porta-voz da plataforma Fogo Cruzado em Pernambuco, declara que, com o isolamento social, as mulheres sentem mais dificuldades de denunciar os agressores.

"Muitas mulheres chefes de família, que trabalham no comércio informal e em uma situação de fragilidade econômica, podem evitar a denúncia para conseguir sobreviver. Isso é trágico porque as mulheres estão dentro de casa com seus agressores. Não estamos falando de confinamento por consciência, mas tem uma parcela da população que está em casa porque não encontra trabalho", acrescenta.



Sobre o aumento dos tiroteios de forma geral, a porta-voz explica que o aumento seguiu a tendência de outros estados, como o Ceará e o Rio de Janeiro, que também tiveram dados expressivos relacionados à violência. "O mês que a gente imagina que as pessoas estão em casa, que a atividade nas ruas é menor, tem esse desejo, essa esperança de que os crimes aconteçam menos. O que a gente viu aqui foi o contrário", relata. Segundo ela, a característica de premeditação dos crimes em Pernambuco e o foco das autoridades e da imprensa no coronavírus podem ser fatores que influenciaram no aumento dos casos.

"Em Pernambuco, temos muitos crimes planejados e que buscam uma oportunidade para acontecer. Existe pouco movimento nas ruas, o foco da mídia, das forças policiais e da sociedade tem sido a pandemia, então, essas pessoas que já têm a intenção de praticar crimes encontram um ambiente que as encoraja, porque podem fazer um cálculo de que existe menos risco de serem pegas", afirma Edna. Os dados do levantamento mostram que, na comparação com 2019, houve um aumento de 36% no número de mortos e de 163% no número de feridos em decorrência de tiroteios.

Os bairros onde mais ocorreram os tiroteios foram Ponte dos Carvalhos (Cabo de Santo Agostinho), com seis registros; Várzea (Recife), com cinco; Ibura de Baixo e Torrões (Recife), cada um com quatro e Águas Compridas (Olinda), com três disparos/tiroteios. Edna comenta que o perfil das vítimas atingidas e os locais onde os crimes aconteceram, entre março e abril de 2020, não diferem muito dos levantamentos anteriores, excetuando o bairro da Várzea, que normalmente não aparece entre os mais violentos.

Para Edna, é necessário que Estado faça um esforço maior no levantamento dos dados, para saber quem são as vítimas, onde moram, a faixa etária e outras características. "A gente vê todo o esforço do Estado na divulgação das vítimas do coronavírus, e este está sendo um bom trabalho. Mas temos uma quantidade muito grande de pessoas que morrem vítimas de violência. A gente espera o mesmo comportamento, que exista transparência nos dados. Estas são informações preciosas. Governo e sociedade precisam delas".

Violência contra a mulher diminuiu em março, diz SDS

Por Amanda Rainheri

No mês em que os casos de novo coronavírus (covid-19) começaram a aparecer em Pernambuco e o isolamento social foi decretado, o Estado registrou menos casos de violência de gênero. De acordo com balanço divulgado pela Secretaria de Defesa Social (SDS) nesta quarta-feira (15), durante o mês de março a redução atingiu as diferentes formas de crimes contra a mulher, em relação ao mesmo período do ano passado. Estupros caíram pela metade, homicídios de mulheres reduziram 40% e casos de violência doméstica diminuíram 22,18%.

Os dados da Secretaria de Defesa Social (SDS) mostram que os homicídios com vítimas do sexo feminino caíram de 20, em 2019, para 12 em março de 2020. Dentro desse total, os feminicídios ficaram no mesmo patamar, com quatro vítimas. Os casos de estupro passaram de 234 no ano passado para 126 em março último. Já os registros de violência doméstica contra a mulher, que eram 3.838 no terceiro mês de 2019, passaram para 2.979 este ano.

Como denunciar

Atualmente, Pernambuco conta com Delegacias da Mulher em Santo Amaro (Recife), Prazeres (Jaboatão dos Guararapes), Cabo de Santo Agostinho, Paulista, Vitória de Santo Antão, Goiana, Caruaru, Surubim, Afogados da Ingazeira, Garanhuns e Petrolina. Onde não houver uma unidade especializada, a população pode procurar qualquer delegacia de plantão da cidade onde se está para fazer o registro da ocorrência.

Importante recado em tempos de novo coronavírus: a Polícia Civil incluiu uma série de crimes no rol dos delitos que podem ser registrados por meio da Delegacia pela Internet (no site www.sds.pe.gov.br), mas isso não vale para os casos que envolvam agressões físicas e sexuais. Denuncie, informe-se sobre a rede de proteção por meio da Ouvidoria Estadual da Mulher, no fone 0800-281-8187. Em caso de emergência policial, ligue para o 190.

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