Com fogo não se brinca

Cerca de 40% das ocorrências de queimaduras são em crianças, alerta a Sociedade Brasileira de Queimaduras

Marcos Barreto, médico do Hospital da Restauração (HR) e vice-presidente da SBQ alerta sobre os cuidados necessários em tempos de pandemia, quando as crianças passam mais tempo em casa

Vanessa Moura
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Vanessa Moura
Publicado em 09/06/2020 às 13:05 | Atualizado em 09/06/2020 às 13:36
Foto: Jailton Junior/TV Jornal
De acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), cerca de 40% das ocorrências de queimaduras são em crianças - FOTO: Foto: Jailton Junior/TV Jornal

Cerca de 40% das vítimas de acidentes que provocam queimaduras, são crianças, de acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). Por conta disso, neste Junho Laranja, mês voltado para prevenção de incidentes causados pelo manuseio do fogo, a SBQ traz a campanha "Com Fogo Não Se Brinca", que pretende mobilizar e conscientizar pais, responsáveis e profissionais de saúde sobre os perigos destes incidentes. Só em 2019, de acordo com o Ministério da Saúde, mais de 20 mil crianças foram vítimas de queimaduras no país.

Por conta das medidas de isolamento social provocadas pela pandemia do novo coronavírus, as famílias tiveram suas rotinas transformadas. As crianças, por exemplo, com as aulas presenciais suspensas, agora passam muito mais tempo em casa do que antes, por isso, é de extrema importância que pais e responsáveis estejam atentos para que os pequenos não se envolvam em acidentes domésticos.
De acordo com Marcos Barreto, que é vice-presidente da SBQ e chefe da Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital da Restauração (HR), localizado na área central do Recife, neste período de pandemia, em que as crianças passam muito tempo em casa, é importante estar atento a todos os cômodos da casa.

"Estamos vivenciando uma experiência nova em 2020, com as crianças passando grande período dentro de suas casas e tendo acesso a diversos meios causadores de acidentes. É importante observar todos os cômodos da casa e limitar o acesso às tomadas, que precisam ser vedadas para proteção desses pequenos.”, revelou o médico.

Baseado no número de ocorrências registrados no HR, Marcos Barreto destacou que o carro-chefe dos acidentes domiciliares que envolvem crianças está relacionado à cozinha, e principalmente à líquidos quentes. "Cerca de 55% das internações na UTQ são de crianças, porém um detalhe importante é que essas crianças recebem alta hospitalar mais rapidamente que os adultos, devido a menor gravidade, quando levamos em consideração a extensão de superfície corpórea queimada e a profundidade das lesões”, disse. Já em relação aos adultos, as lesões mais comuns são provocadas por agressões, incêndios e traumas elétricos que “são extremamente graves”, exigindo maior tempo de recuperação e agravamento.

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Um outro grande fator preocupante quando se trata do risco de queimaduras, são as fogueiras, tradicionalmente acesas em período junino. Segundo Marcos Barreto, nos anos anteriores, o acendimento de fogueiras e a utilização de fogos explosivos levou bastante pessoas ao setor de queimados do Hospital da Restauração. Em um balanço parcial de queimados do São João, divulgado no ano passado, foram 41 pessoas atendidas e 20 internadas por queimaduras no período de 12 a 25 de junho. Destes atendimentos, 23 eram crianças, número maior que o de 2018, onde foram apenas 11 crianças queimadas durante as festas juninas. No entanto, tais ocorrências não devem ser registradas este ano, já que, por conta da pandemia da Covid-19, várias cidades em Pernambuco proibiram as fogueiras de São João, inclusive Recife.  

Álcool em gel

Por conta das medidas sanitárias de combate à covid-19, a população brasileira passou a incorporar o uso do álcool 70% em suas rotinas de higiene pessoal. Eficaz na prevenção do vírus, este tipo de produto pode causar grandes acidentes se utilizado de forma imprudente, por ser altamente inflamável.

Ainda de acordo com Marcos Barretto, a substância tem provocado diversas ocorrências nos últimos dias. Ele orienta que, sempre que possível, a higienização das mães com água e sabão devem ser priorizadas, e o uso do álcool reduzido à pequenas quantidades e em casos específicos. "O álcool na forma de gel deve ser manuseado e carregado em pequenas quantidades. O que não devemos fazer é usá-lo de forma indiscriminada em casa, pois no ambiente doméstico contamos com o acesso a água e sabão com frequência. O uso de álcool em gel é para situações emergenciais, em transporte público onde você toca nas cadeiras e nos corrimões, por exemplo. É extremamente importante também retirar a substância do alcance das crianças", disse ele, que reiterou, “quanto menos álcool dentro de casa melhor".


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