O cenário de uma das festas mais tradicionais da capital pernambucana está diferente em 2020. Não existem barraquinhas colocando à venda imagens, camisetas, terços, escapulários ou rosas. Também não há o vai e vem de pessoas devotas no entorno da Basílica do Carmo, igreja dedicada à Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife, localizada no bairro de Santo Antônio, Centro da cidade. A pandemia do novo coronavírus (covid-19), que mudou a rotina e impôs novos protocolos de distanciamento e higiene também impactou as comemorações da Virgem do Carmelo. A festa, que iniciou na última segunda-feira (6), segue até o dia 16, dia da santa e, pela primeira vez, não terá procissão, para evitar aglomerações.
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Até a próxima quarta-feira, as missas na basílica acontecem diariamente em quatro horários: às 7h, 10h, 12h e 15h. A entrada está limitada a 30% da capacidade da igreja, o que significa que cerca de 100 fiéis podem acompanhar as celebrações religiosas em cada horário. A entrada é feita por ordem de chegada, mas quem quiser participar do novenário, da vésperas solenes e de encerramento precisa se inscrever previamente, através do WhatsApp (81) 99723-9140.
No dia de Nossa Senhora do Carmo, próxima quinta-feira, serão presididas cinco missas. As cerimônias começam às 5h seguem às 8h, 10h, 13h e 16h. A Missa Solene de Encerramento, às 10h, será celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.
A costureira Ana Sena, de 50 anos, está entre os que pretendem agendar presença. "Eu venho todos os anos e participo da procissão. Vou fazer o cadastro e participar este ano da missa", conta. Devota de Nossa Senhora do Carmo, ela acompanhou a celebração religiosa na última quinta-feira do lado de fora da basílica. Uma história de amor e fé que a pandemia não conseguiu abalar. "Tudo o que peço com fé, ela me atende", confessa. Emocionada, Ana lembra o acidente que o filho sofreu há 13 anos. "O médico disse que, se sobrevivesse, ele ficaria em estado vegetativo. Cheguei em casa e orei para a santa, dizendo que se fosse para viver em sofrimento, que ela o levasse para junto do Pai. No dia seguinte, meu filho teve morte cerebral. Deu tempo de doar todos os órgãos, para salvar outras pessoas", conta.
A devoção também levou a aposentada Maria do Carmo Rosa, 67, até a basílica, para acompanhar as homenagens à santa. "É minha padroeira. "No dia 16, eu sempre vinha cedo, acompanhava todas as missas e participava da procissão. Fico muito triste de ver a igreja vazia agora, mas é necessário", argumentou. A aposentada, que faz parte do grupo de risco da doença, frequenta as missas bem equipada. Além da máscara, também usa face shield, uma espécie de proteção de plástico para evitar contato com o rosto, e carrega álcool em gel na bolsa.
Os cuidados também são tomados dentro da igreja. Ao entrar, os fiéis têm temperatura verificada e acesso a álcool em gel. No interior do templo, os bancos têm, no máximo, dois fiéis sentados cada, para que o distanciamento recomendado pelas autoridades de saúde seja obedecido. Seguindo o protocolo de abertura da Arquidiocese de Olinda e Recife, não há água benta nem panfletos litúrgicos, para evitar a disseminação da doença. A saída acontece por outra porta e novamente os fiéis recebem álcool em gel para higienizar as mãos. A lojinha com artigos religiosos também está em funcionamento no interior do templo. Até o dia 15, a loja da igreja funciona das 7h30 às 19h. No dia 16 de julho, o horário de funcionamento vai das 5h às 16h.
Reitor da basílica, o frei Rosenildo Alexandre reforçou que todos os cuidados estão sendo tomados. "A Prefeitura do Recife têm higienizado diariamente a basílica. Se trata de uma higienização que dura 24 horas", explica. O religioso pediu ainda compreensão dos fiéis neste novo momento, que será passageiro. "A gente pede que não aglomere em frente à igreja, caso não consiga entrar para acompanhar a missa. Faça sua oração, sua homenagem em frente, mas não fique nas entradas, para manter garantir a segurança."
Segundo o frei, no dia da santa, a imagem peregrina ficará em cima de um altar, que será montado na entrada principal do templo. Esta é a primeira vez em 324 anos em que a imagem não percorrerá as ruas do Centro da capital. Para ele, apesar das restrições, a festa não perderá o seu brilho, que emana da devoção. "O próprio povo recifense pediu ao Papa para que Nossa Senhora do Carmo se tornasse padroeira da cidade. As pessoas trazem em si essa devoção, essa identificação com Maria, com a mulher singela que ela foi."
Quem não puder acompanhar as celebrações pessoalmente, pode assistir as liturgias em transmissões ao vivo pelo canal do Youtube, pelo Facebook e pelos perfis no Instagram @basilicadocarmorecife e @tvcarmelo.
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