Atualizada às 17h13
Quatro organizações criminosas que atuavam com tráfico internacional de drogas, transporte rodoviário de cocaína e lavagem de dinheiro foram alvos da operação Além-Mar, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira (18) em treze estados brasileiros. Entre as organizações, uma era estabelecida em Pernambuco e foi alvo de 38 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão. Formada por pessoas ligadas ao setor de transporte de cargas, o grupo era responsável por transportar e armazenar a droga, além de ocultá-la em containers, até que ela fosse encaminhada para um porto em cidades do Norte e do Nordeste brasileiro, principalmente Natal (RN), de onde era levada por navios de carga e veleiros para a Europa.
Os detalhes da operação foram apresentados nesta terça-feira pela PF, em coletiva de imprensa na sede da instituição, no Bairro do Recife, no Centro da capital pernambucana. De acordo com a superintendente regional da PF em Pernambuco, a delegada Carla Patrícia Cintra, o objetivo da polícia com a Além-Mar era de desmantelar as organizações, identificar todos os envolvidos e descapitalizá-los. Durante as investigações, que foram iniciadas em 2018, foram apreendidas mais de 11 toneladas de cocaína.
"São quatro organizações criminosas que atuavam de forma separada, mas ao mesmo tempo, coordenada. São organizações que cuidam desde a internacionalização da droga no país, até o abastecimento e ocultação da droga em território nacional, para internacionalização posterior. Paralelamente às três, ainda tem outra que funcionava como verdadeiro banco privado", comenta.
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Segundo a Polícia Federal, o esquema funcionava assim: a droga era produzida na Bolívia e levada para o Paraguai. De lá, ela seguia de helicóptero da cidade de Pedro Juan Cabellero (Paraguai) até São Paulo, onde caminhões-tanque eram carregados com a cocaína. Saindo de São Paulo, a droga era transportada pelas rodovias brasileiras até chegar em locais onde eram armazenadas para, em momento oportuno, containers serem "contaminados" com elas e distribuídos nos portos do Rio Grande do Norte, Ceará e Pará. Em seguida, o material era levado por navios de carga para países europeus, como Espanha, Bélgica, França e Holanda.
Para que o esquema funcionasse, eram empregadas, segundo a polícia, algumas estratégias, como o uso de helicópteros, ao invés de aviões de pequeno porte, já que o primeiro é menos suscetível à atuação do sistema de fiscalização do espaço aéreo brasileiro. Outra tática era o uso de caminhões-tanque para o transporte rodoviário da droga, já que a carga do veículo não é aberta durante o transporte para fiscalização.
A delegada Adriana Vasconcelos, uma das responsáveis pela investigação, afirma que as organizações utilizavam o transporte multimodal. "Envolve, num primeiro momento, a chegada da droga ao Brasil com uso de aeronaves. Num segundo momento, o deslocamento rodoviários da droga até os pontos de depósito e armazenamento e, por fim, a destinação dela através do modal marítimo", explica.
Em Pernambuco, dos 13 mandados de prisão, nove foram cumpridos e quatro pessoas já são consideradas foragidas pela polícia. Entre os detidos estão quatro empresários, além de funcionários e motoristas do setor de transporte rodoviário e um piloto do tráfico. A PF comentou que mais de um dos mandados foi cumprido no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, mas não detalhou quantos.
"São empresários, funcionários e motoristas do setor de transporte de carga que se passam, perante a sociedade, como empresários, mas que estão viabilizando o tráfico internacional de cocaína", declara Adriana Vasconcelos. Sobre os mandados de prisão, a delegada ainda conta que o piloto do tráfico, que foi alvo da operação em Pernambuco, teve um enriquecimento repentino. "O piloto teve um incremento patrimonial, em três anos, absurdo. Uma pessoa que tinha um veículo usado e agora tem seis a sete aeronaves", relata.
Além de Pernambuco, os mandados foram cumpridos nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo. Ao todo, a PF está cumprindo 50 mandados de prisão (sendo 20 de prisões preventivas e 30 de prisões temporárias), 139 de busca e apreensão, além de bloqueios de valores em contas bancárias. Até as 15h30 desta terça, foram apreendidos 55 veículos, entre carros de luxo e caminhões, oito aeronaves, entre helicópteros e aviões, que estavam nos estados de São Paulo, Pará, Distrito Federal e Pernambuco, além de três barcos e R$ 361 mil em espécie. Na ação, foram empregados mais de 600 policiais federais.
Das quatro organizações, três eram estabelecidas em São Paulo, enquanto uma era de Pernambuco. Enquanto duas atuavam diretamente com o tráfico de drogas, e tinham como líderes Sérgio de Arruda Quintiliano Neto (Minotauro) e Romilton Queiroz Hosi, ambos presos pela PF no ano passado, uma fazia o transporte e armazenamento da droga, enquanto a quarta atuava como um banco paralelo, não oficial.
Durante a fase sigilosa das investigações, foram presas 12 pessoas. Apenas entre os meses de março e julho deste ano, durante a pandemia do novo coronavírus, quando os grupos criminosos não reduziram as atividades, a polícia apreendeu mais de 1,5 tonelada de cocaína relacionada às organizações criminosas.
Conheça como atuavam as quatro organizações criminosas
Organização 1
Liderada por Sérgio de Arruda Quintiliano Neto (Minotauro), envolvido na guerra de facções na fronteira do Brasil com o Paraguai. Foi preso em 2019 pela Polícia Federal. Estabelecido na cidade de São Paulo, o grupo era responsável por trazer a droga do Paraguai para o Brasil, através da fronteira no município de Ponta Porã (MS), e pela distribuição para organizações criminosas no País e na Europa.
Organização 2
A organização era liderada por Romilton Queiroz Hosi, que passou dez anos foragido e era procurado pela Polícia Federal e pela NCA (Polícia do Reino Unido). Também preso em 2019. Estabelecida em Campinas, parceira da organização 1, recebia a cocaína que entrava no Brasil e fazia a distribuição interna e a exportação da droga.
Organização 3
Liderada por empresários pernambucanos que trabalham no setor de transporte de carga. Estabelecida em Recife, é formada por empresários, motoristas e funcionários de empresas de transporte rodoviário que transportavam e armazenavam a droga até que elas fossem ocultadas em containers.
Organização 4
Estabelecida na região do Brás, em São Paulo, a organização funcionava como um banco paralelo, disponibilizando uma rede de contas bancárias, titularizadas por empresas fantasma ou em nome de "laranjas", para movimentação de recursos de terceiros, de origem ilícita, mediante controle de crédito/débito.
Três fases de funcionamento das organizações
1ª fase - Internação da cocaína pela fronteira com o Paraguai e armazenamento no interior de São Paulo;
2ª fase - Transporte interno da droga para as regiões de embarque marítimo e armazenamento em galpões;
3ª fase - Transporte internacional mediante embarque da droga em navios de carga (contaminação de containers) ou veleiros.
Apreensões
De acordo com a Polícia Federal, durante toda a Operação Além-Mar que apreendeu quatro organizações criminosas que atuavam com tráfico internacional de drogas, transporte rodoviário de cocaína e lavagem de dinheiro, foi apreendido 55 veículos, três helicópteros, duas aeronaves, três embarcações, 52 HD's, 82 celulares, R$ 361 mil, 33 prisões e 139 buscas e apreensões.
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