Apesar de o isolamento social ainda ser recomendado devido ao coronavírus, o "novo normal" já está valendo na mobilidade urbana. Pelo menos no trânsito de veículos. Aquela calmaria verificada nos meses de março, abril, maio e em parte de junho não existe mais. Em algumas áreas da Região Metropolitana do Recife, especialmente em determinados corredores viários, a circulação de veículos tem sido intensa. Já aumentou em aproximadamente 50% em relação ao pré-pandemia e só cresce. E, com ele, os velhos problemas de antes: colisões, atropelamentos, retenções, buzinadas à toa e irritação de motoristas novamente apressados como antes da pandemia.
Os números do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), da Secretaria de Transporte e Trânsito de Olinda (STT) e do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE) comprovam a percepção das ruas. Confirmam que as reduções de acidentes, mortes, feridos e infrações comemoradas no auge da pandemia não existem mais. Na época, O isolamento da população reduziu os índices da violência no trânsito com reflexos diretos nas unidades de saúde, permitindo que elas tivessem mais estrutura para receber e cuidar dos pacientes da covid-19. Em hospitais referência no atendimento a politraumatizados houve redução próxima a 40%, um alívio para quem vivencia o drama da ocupação de mais de 60% dos leitos da saúde pública com traumatizados do trânsito.
Mas isso passou. No Recife, por exemplo, o aumento do volume de veículos em alguns dos principais corredores viários da cidade já impressiona pela proximidade com os registros do pré-pandemia. Corredores como a Avenida Mascarenhas de Moraes (via de entrada e saída da capital, na Imbiribeira, Zona Sul), Agamenon Magalhães (pulmão viário da cidade, na área central), Avenida Boa Viagem (na Zona Sul) e a Via Mangue (eixo expresso que conecta a área Sul da capital e do Grande Recife) já têm quase o mesmo tráfego de veículos do pré-pandemia. Segundo a CTTU, antes da crise sanitária, as quatro vias registravam uma circulação de 239 mil veículos por dia. Esse número chegou a cair para 82.800 veículos/dia na fase do lockdown (em maio) e agora já está em 182.191 veículos por dia.
O aumento é verificado em todos os corredores e se acentua no pós-lockdown (no mês de junho), quando o governo do Estado começou a colocar em prática o plano de convivência com a covid-19, retomando algumas atividades. "Percebemos, sim, um aumento de tudo relacionado ao trânsito. Especialmente nas ocorrências de acidentes. Por sorte, o crescimento tem sido gradual. A redução dos registros foi grande e rápida. Mas a volta não. Pelo menos por enquanto", afirma o médico Leonardo Gomes, diretor-geral do Samu Recife. Apesar de o serviço ter registrado números baixos em abril (257 ocorrências), maio (271) e junho (374), em julho o aumento começou a ser verificado: 455 ocorrências.
O médico comenta que também tem percebido os motoristas mais irritados e impacientes ao volante. "As pessoas ficaram mal acostumadas com a ausência de trânsito, com a pouca circulação de veículos. O isolamento social contribuiu para isso também. Muita gente foi forçada a fazer o isolamento e se irritou com isso, canalizando essa irritação no volante", lamentou.
Em Olinda, o cenário é semelhante ao do Recife. Segundo o secretário de Transporte e Trânsito municipal, Rômulo Lamenha, o volume de veículos circulando na cidade já aumentou 40% em relação ao mês de junho. Os dados são de um ponto de monitoramento do tráfego localizado na Praça do Carmo, que pega o corredor da Rua do Sol. via de saída da cidade em direção ao Recife.
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