Atualizada às 18h01
O resultado da reunião entre o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco (Sinepe-PE) e o Governo do Estado satisfez as centenas de representantes de escolas particulares que protestaram, na manhã desta quinta-feira (3), pela volta das aulas presenciais. O ato aconteceu em frente ao Palácio Campo das Princesas e teve como estopim a manutenção da suspensão no ensino básico, enquanto que, a partir do dia 8 de setembro, será permitida a volta presencial na educação superior.
Segundo comunicou a comissão que foi recebida pelas secretarias da Casa Civil e da Educação, o decreto que proíbe a presença nos estabelecimentos desde o dia 18 de março não deve ser prorrogado, e a retomada das atividades nas unidades de ensino deve ser feita a partir do dia 15 de setembro, prazo de validade do documento que tem como objetivo conter o avanço do novo coronavírus.
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Na saída do Palácio, o presidente da entidade, José Ricardo Diniz, relatou que a comissão do Sinepe-PE conversou com o secretário Executivo de Articulação e Acompanhamento da Casa Civil, Carlos Eduardo Cabral, e com o secretário Executivo de Gestão da Rede de Educação e Esportes do Estado, João Charamba. Segundo o sindicalista, foi prometido que haveria um anúncio oficial sobre as indagações da classe na próxima quinta-feira (10), durante coletiva de imprensa semanal do Governo do Estado. "Fomos as vozes de vocês lá. O retorno a todos nós, é que temos um decreto que irá até o dia 15 de setembro, então esta data, obviamente, já está estabelecida. Na quinta-feira, no entanto, haverá um pronunciamento com relação às escolas. A fala deles é que não haverá prorrogação do decreto", disse, enquanto era aplaudido pelos protestantes.
Em nota, o governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Educação e Esportes, informou que "não há definição de data para retomada das aulas presenciais na educação básica". Segundo a gestão estadual, a prorrogação ou não do decreto n° 48.810 depende "da avaliação dos números da pandemia no Estado pela Secretaria de Saúde e de decisão do Governo de Pernambuco".
A reportagem entrevistou cerca de 15 pessoas, entre pais, professores e coordenadores, e todas compartilhavam de um discurso semelhante: elas não cobravam que todas as escolas voltassem ao ensino presencial, mas sim as que tinham condições de manter as recomendações sanitárias, e que fosse dado aos pais o direito de poder levar seus filhos para a aula. "Precisamos realmente que nossas escolas sejam abertas progressivamente, gradativamente, dentro dos protocolos estabelecidos para que nós possamos oferecer as duas modalidades. Se não é possível todas as redes voltarem, que façam o destravamento e o desvinculamento necessário. As famílias que optaram pelo (ensino) remoto já estão tendo esse serviço. Agora, precisamos que esse serviço se estenda para uma questão essencial da escola: o seu ambiente físico e escolar", afirmou Diniz. No Brasil, até esta quinta-feira, apenas quatro estados permitiram a volta às aulas presenciais, Amazonas, Ceará, Maranhão e Pará.
O grupo usou fitas e balões amarelos em alusão ao Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, com o objetivo também de relatar que a educação remota está trazendo prejuízos à saúde mental das crianças. A professora Laís Ramos, 30, que leciona para uma turma de faixa etária média de 8 a 9 anos, compartilha da preocupação. "Eles não estão participando, geralmente desligam a câmera. Estão sentindo muita falta, sempre perguntam quando vão voltar, porque não estão tendo mais aquele vínculo. Quando estão pelo computador, estão com os pais juntos, e, muitas vezes, querem relatar algo e não podem. Estou muito preocupada com o bem estar físico e emocional dos alnos. Além do seu desenvolvimento, porque sabemos que as aulas remotas não são tão completas quanto as aulas presenciais. Está fraco o desempenho dos meus alunos, eles não estão alcançando o objetivo anual. Eles já são maiores e, mesmo assim, não estão conseguindo acessar corretamente os equipamentos, porque a internet cai, nem todos têm acesso", citou.
Nessa quarta-feira (2), houve uma reunião convocada pelo Sinepe que, segundo gestores de escolas, contou com a participação de cerca de 100 instituições de ensino básico. Uma das representantes presentes foi Patrícia Costa, diretora do colégio homônimo que tem 650 alunos, localizado em Paulista, Grande Recife. "A gente gostaria de ter a autonomia e a liberdade para poder voltar às aulas, dependendo do segmento e conforme a aceitação dos pais. Nós fizemos uma pesquisa na escola e 49% respondeu que retornaria com os protocolos rigorosos de segurança". Ela conta que, sem a presença do professor, há dificuldades no aprendizado das crianças. "Com o retorno das atividades dos pais, as crianças, principalmente do ensino infantil, não estão tendo um mediador em casa para poder auxiliá-las", disse.
Pais de alunos também fizeram parte do ato. Nas mãos de Edison Vieira, 57, pai de uma estudante de 15 anos do Colégio Fazer Crescer, estava um documento com mais de 2.800 assinaturas de responsáveis que pediam pela volta do ensino presencial. "Muitas escolas têm feito o ensino remoto com esmero, a exemplo da que a minha filha estuda. Mas o ensino presencial é mais abrangente, porque há a presença do aluno, a comunhão e a amizade entre eles. Se já abriu para vários ramos, como o ensino superior, qual a razão de não abrir para a educação básica? Já está na hora do Governo sinalizar a data que possibilitará o pai a mandar o filho, ou não, não é obrigatório", afirmou.
Já o servidor público Amauri Padilha relatou que é difícil para a sua filha, de 5 anos, ter paciência para assistir às aulas online. "Minha filha está sem educação. Os pequenos não têm paciência e nem aprendizado como têm em um ambiente com socialização", queixou-se. "O principal dos pequenos é a socialização entre eles. Não tem porque o pai ficar em casa trabalhando e dando auxílio à criança, que não vai conseguir 100% do que a escola consegue", desabafou. Ele conta que voltará a trabalhar presencialmente na próxima semana, assim como sua esposa, e que terá que levar a filha para o local de trabalho por não ter com quem deixá-la.
Educadores contra o movimento
Em meio à movimentação, houve quem protestasse contra a volta ao ensino presencial. O professor de História Daniel Max, 49, integrante do grupo Juntos Pela Educação, entidade que existe há 4 anos e conta com cerca de 1.500 associados, disse que as escolas não estão preparadas para a retomada, "ao contrário do que os sindicatos dizem". "80% das escolas de periferia não têm estrutura para cumprir os protocolos. Inclusive, elas não vão fazer nem aferição de temperatura e nem testagem. Então qual a garantia de que a comunidade escolar vai estar segura nesse retorno às aulas?. A entidade diz ter feito um abaixo assinado eletrônico contra a abertura que contou com mais de 200 mil assinaturas, metade dessas de Pernambuco.
Em Pernambuco, dos 2,3 milhões de alunos da educação básica, 400 mil estão matriculados em 2.400 colégios privados. A rede estadual soma quase 600 mil alunos, enquanto o restante está nas escolas municipais e na rede federal. Para Max, permitir a abertura das escolas particulares e manter as escolas públicas fechadas, por eventualmente não conseguirem cumprir os protocolos de higiene e distanciamento, acentuaria a desigualdade. "Já existe desigualdade entre estudante de escola pública e a particular, e ela vai aumentar. Nós achamos também que eles vão garantir apenas o retorno de escolas grandes, que têm mais estrutura. As menores continuam sem estrutura. E se elas abrirem, vão abrir sem seguir protocolo. E aí a gente sabe o que vai acontecer, vai ter gente adoecendo e morrendo por conta da covid."
Suspensão pelo Brasil
Segundo monitoramento diário da Federação Nacional de Escolas Particulares (FENEP), a retomada presencial nas escolas foi autorizada ou iniciada em quatro estados do Brasil: Amazonas, Ceará, Maranhão e Pará.
Outros sete estados tiveram anúncios oficiais de propostas de data para o retorno: Mato Grosso, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Distrito Federal.
As outras dezesseis unidades da federação ainda não têm data definida. O governo de Minas Gerais e a prefeitura de Belo Horizonte, no entanto, elaboram protocolos para volta das aulas.
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