Na teoria, quando anunciado em 2011 pelo então governador Eduardo Campos (falecido em agosto de 2014), o Ramal Cidade da Copa, que atravessa as cidades de Camaragibe e São Lourenço da Mata, ambas na Região Metropolitana do Recife (RMR), seria uma das soluções de mobilidade para os municípios, já que o projeto incluía a construção do Terminal Integrado de Cosme e Damião. Seis anos depois da última Copa do Mundo no Brasil e de várias promessas, as obras ainda não foram concluídas. Além do Viaduto V2, que deveria ter seis faixas e possui apenas duas, a via acumula problemas, como vegetação alta, que atrapalha a visibilidade dos condutores, falta de sinalização, acúmulo de lixo no canteiro da pista e iluminação precária.
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Projetada para ligar o Terminal Integrado de Camaragibe à Arena de Pernambuco, em São Lourenço, a via tem cerca de seis quilômetros de extensão e tinha conclusão prevista para 2013. Por ela, o motobói Fábio Monteiro, 46 anos, passa todos os dias. Para ele, a situação afeta diretamente seu dia a dia e seu trabalho. Em junho deste ano, ele sofreu um acidente e se machucou após ser atingido por um carro. “O mato está alto e você não vê o meio-fio. De noite é que você não enxerga mesmo, fica aquela escuridão, você é capaz de perder o controle e pegar o meio-fio”, diz o motobói, morador do bairro de Santa Mônica, em Camaragibe.
Ele conta que um dos trechos mais perigosos fica na saída do Viaduto V2, em direção à Arena de Pernambuco. Sem sinalização, o caminho é complicado para quem não conhece a área. “Não dá para dirigir por aqui, já aconteceram diversos acidentes. Se a pessoa seguir em frente, pega a contramão e pode bater em outro carro. Não concluíram o viaduto, foi dinheiro jogado no lixo.Ele balança, tem pista estreita e enche de buraco no inverno”, relata. Fábio comenta que,por ser uma via administrada por vários órgãos, ninguém se responsabiliza. “Não tenho esperança de que o Ramal fique pronto um dia. Infelizmente,aqui é terra de ninguém”.
A desesperança do motobói é compartilhada pelo comerciante Eugênio Alexandre, 52 anos. Ele se mudou para Santa Mônica na época em que as obras estavam em curso. Apesar de não se arrepender da mudança, Eugênio avalia que a via mais próxima ao TI de Camaragibe representa um perigo para pedestres. “É uma frustração porque o governo prometeu melhorias e hoje até para caminhar ficou difícil. O trânsito é confuso, não tem sinalização nem faixa de pedestres. A prefeitura diz que é do Estado e o Estado nada faz”,Segundo o Estado, foram contratados projetos que estão em execução declara. Para a dona de casa Ivonete Santos, 59 anos, que atravessa um trecho do ramal diariamente a pé, os riscos são altos.
“Moro aqui há 31 anos. Depois da construção,acabou o caminho para quem anda a pé. O viaduto não foi concluído. Quando chove fica mais difícil e, para fazer a travessia é um perigo. As pessoas se arriscam muito porque vem carro dos quatro lados. Não tem um sinal, não tem passarela, não tem nada”, reclama. O Ramal Cidade da Copa vai da Avenida Belmino Correia, em Camaragibe, até a Arena de Pernambuco. No projeto inicial apresentado pelo governo do Estado, a ideia era de que a via tivesse pista exclusiva de ônibus e duas de carro em cada sentido. O investimento inicial era de R$ 132 milhões.
Para a construção das pistas, o governo realizou obras viárias e de urbanização, que envolveram a desapropriação de terrenos. Em 2018,a empreiteira Mendes Júnior, alvo da Operação Lava Jato, abandonou a construção. No mesmo ano, o governo abriu licitação para contratar uma empresa de consultoria para elaborar projetos, no valor de R$ 372.532,91. À época, o governo afirmou que estavam em tramitação os projetos complementares para finalizar o Ramalda Copa, que incluíam infraestrutura, iluminação e sinalização, e que, em 2017, foi iniciado serviço estrutural no Viaduto V2. A etapa terminou em outubro de 2018, com investimento de R$ 4,7 milhões. As obras foram alvo de duas auditorias especiais do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE).
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Estado (Seduh), por meio de nota, informou que foram contratados, e estão em desenvolvimento, projetos para conclusão de trechos remanescentes do ramal. “A Seduh atenta ainda que, até o fim do ano, será licitada a parte das obras que dará funcionalidade plena ao Ramal da Copa. A Seduh ressalta que alguns contratos, como o do viaduto V2, foram interrompidos nos primeiros meses da pandemia, em virtude da priorização das ações de combate à covid-19, o que provocou algumas alterações em seu cronograma original”, disse o órgão. O custo para a conclusão, de acordo com o governo, será de R$ 17 milhões.
A Prefeitura de São Lourenço da Mata afirmou que realiza cotidianamente o recolhimento do lixo na cidade. Sobre a iluminação, informou que vai enviar, na próxima semana, uma equipe de técnicos eletricistas para avaliar a situação e que será iniciada a manutenção da iluminação pública. Já sobre a capinação, disse que, na próxima semana, uma equipe será enviada ao local. Também por nota, a Secretaria de Serviços Públicos de Camaragibe informou que vai mandar uma equipe no local para verificar se o trecho do ramal faz parte do município. “Sendo verificado que o trecho faz parte da cidade de Camaragibe, as equipes da pasta buscarão alternativas para resolver o problema”, registra a nota. Não há “trechos” de abandono. A equipe encontrou descaso no percurso inteiro, entre os municípios de Camaragibe, onde a situação é ainda pior, e São Lourenço da Mata.
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