Hipertensão, obesidade e diabetes são as doenças crônicas mais comuns entre os brasileiros, segundo pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde este ano. Essas condições são algumas das comorbidades que passaram a preocupar os profissionais de saúde, justamente por serem facilitadoras para as complicações da covid-19. Silenciosas, muitas vezes passam despercebidas durante anos, até que não é mais possível prevenir as complicações que provocam e o caminho é apenas administrar a situação com medicamentos e acompanhamento médico regular.
"A prevenção das doenças cardiovasculares é a principal medida de saúde pública, pois esta é a principal causa de mortalidade atualmente no Brasil. Nos últimos anos, o Brasil viu a obesidade tomar o lugar da desnutrição como grande desafio a ser encarado no campo da alimentação. Bons hábitos alimentares e a prática regular de exercícios físicos devem começar desde a infância, pois a criança com obesidade tende a ser o adulto com doença cardiovascular, diabetes e hipertensão", explica o clínico geral Paulo Tasso, completando que deveria haver campanhas específicas sobre estes assuntos, assim como aconteceu com o fumo. "As campanhas reduziram o percentual de fumantes e este será um aspecto positivo no futuro da saúde da população brasileira", completa.
Além das mais recorrentes na população brasileira, também se destacam a Diabetes Mellitus, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), o tabagismo, as neoplasias malignas e a insuficiência renal crônica. Todas elas ganharam destaque com a pandemia do novo coronavírus, pois médicos e cientistas verificaram que pessoas com comorbidades têm mais propensão a desenvolver as formas mais graves da covid-19. "As comorbidades formam um conjunto de condições que, quando presentes, tornam o paciente mais susceptível às formas graves e complicadas da infecção pelo novo coronavírus, com aumento das taxas de hospitalização e de mortalidade", explica Paulo Tasso.
Em comum, elas têm como características principais um longo tempo de duração, causas múltiplas e serem frequentemente silenciosas em sua evolução. Em muitos casos, a pessoa só procura assistência de saúde quando o quadro está muito avançado ou quando acontece uma consequência mais danosa à saúde, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
É importante lembrar que existe tratamento para todas as principais comorbidades; farmacológicos e sem utilização de remédios. "As medidas não farmacológicas são compostas por mudança de estilo de vida, como melhorar a dieta, parar de fumar e praticar atividades físicas regularmente. Quando estas não são suficientes, ou a doença encontra-se num estágio mais avançado, a medicina dispõe de um amplo arsenal terapêutico para o seu manejo, lembrando, entretanto, que a grande base para o sucesso reside na prevenção", considera Tasso.
Quando as condições já estão instaladas, o caminho é tratar a doença e aprender a conviver com ela. É o que acontece com o funcionário público Jorge Chaves, de 59 anos. Hipertenso e com arritmia cardíaca, ele descobriu a hipertensão na idade adulta, aos 37 anos, mas não deu tanta importância na época. "Passei a tomar a medicação para hipertensão, mas não cuidei das outras questões. Ganhei peso com o passar dos anos e foram surgindo outras coisas; até que fiz um exame que constatou a arritmia e depois a fibrilação atrial", explica.
Ele conta que até a condição ser diagnosticada por exames, ele não sentia nada. "Às vezes eu sentia o coração, mas não era algo que incomodava, então não dei atenção. Com o avanço da idade, comecei a sentir outros sintomas e ganhei também uma hérnia de disco", continua. A situação de Chaves se agravou quando ele teve um entupimento da artéria carótida e precisou realizar um procedimento de emergência. Depois do ocorrido, ele passou a cuidar mais da saúde, fazer dieta, controlar a alimentação e incluiu caminhadas leves na rotina. "Não posso engordar, comer comidas gordurosas, preciso tomar as medicações e não tem como sair dessa rotina", explica, acrescentando que faz acompanhamento médico a cada seis meses.
O distanciamento social necessário para controlar a pandemia da covid-19 atrapalhou os planos de Jorge Chaves. Ele conta que passou e ainda vive momentos de estresse e ansiedade por conta de tudo o que está acontecendo e também por ser considerado do grupo de maior risco para a doença. "No início, não saí de casa. Desde agosto, voltei a fazer caminhadas na rua, com os cuidados de usar sempre máscara, lavar as mãos e usar álcool em gel e com pouco contato com as pessoas", revela.
Esse distanciamento às vezes provoca situações inusitadas. "Encontrei um amigo numa caminhada e foi inevitável apertarmos as mãos, foi espontâneo. Mas em seguida cada um tirou do bolso uma garrafinha de álcool em gel e passou nas mãos. Minha esposa ficou rindo porque tivemos a mesma reação", conta Chaves, rindo um pouco da situação que todos estamos vivendo.
ATENÇÃO ÀS FAKENEWS
O médico Paulo Tasso faz um alerta sobre a quantidade de notícias falsas que têm circulado no contexto da pandemia. No meio de todo o processo de aprendizagem sobre uma nova doença, ele destaca que é comum as pessoas ficarem ansiosas por algo que funcione, inclusive no meio científico e médico – criando expectativas frustradas, além de um componente político inédito numa discussão que deveria ser estritamente técnica. "Houve circulação das mais diferentes inverdades, mesmo nos grupos de mensagens de profissionais de saúde, trazendo riscos à população, com a manutenção de tratamentos cujos resultados foram inócuos ou até mesmo prejudiciais, por uma falsa obrigação de oferecer alguma coisa ao paciente, mesmo que sabidamente sem benefícios", considera o médico.
Por outro lado, Tasso ressalta que as informações de qualidade e com base científica nunca estiveram tão ao nosso alcance. "Todas as grandes publicações científicas, como o The New England Journal of Medicine, o British Medical Journal, o The Journal of the American Medical Association, para citar alguns, assim como as sociedades das diferentes especialidades envolvidas no tratamento de pacientes com o novo coronavírus abriram o seu conteúdo relacionado ao coronavírus, sem cobrar nada, com frequentes atualizações à medida que os ensaios clínicos e outros trabalhos eram publicados", explica Paulo Tasso, finalizando com a frase do senador norte-americano Daniel Patrick Moynihan, morto em 2003: "'Qualquer pessoa tem direito à própria opinião, mas não aos próprios fatos'. Isso nunca foi tão atual", finaliza.
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