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Automedicação é conduta de risco comum entre brasileiros

Hábito de consumir remédios sem prescrição atinge 77% dos brasileiros e pode mascarar doenças graves

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Publicado em 23/12/2020 às 7:06 | Atualizado em 23/12/2020 às 10:53
RAÍTZA VIEIRA/HC-UFPE/DIVULGAÇÃO
COSTUME PERIGOSO Médica Christyanne Rodrigues vê forte componente cultural no hábito brasileiro da automedicação - FOTO: RAÍTZA VIEIRA/HC-UFPE/DIVULGAÇÃO

A pandemia da covid-19 destacou um hábito tão comum quanto perigoso da população brasileira: a automedicação. Seja aquele chazinho ou o livre consumo de medicamentos vendidos sem receita, o fato é que uma pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFC) de 2019 apontou que nada menos que 77% dos brasileiros têm o hábito de se automedicar. O CFC também estima que no Brasil exista uma farmácia para cada 3.300 habitantes. O País está entre os dez que mais consomem medicamentos no mundo.

Durante a pandemia, esta prática ficou mais evidente e arriscada – com a circulação de mensagens falsas que prometem a cura para a covid-19. Esse vírus pouco conhecido, para o qual foram criados os primeiros protocolos de tratamento à medida que os casos foram se espalhando, fez muita gente tomar sem prescrição remédios indicados para vários tipos de doenças – de verminoses a enfermidades reumáticas.

"Com a pandemia, o ser humano foi colocado à prova. Muitas pessoas que se achavam imortais se veem com chance real de chegarem à UTI, do distanciamento da família e até o risco real de morte. Isso fez com que a população buscasse algo como uma cura indelével, uma tábua de salvação. E muitas pessoas, incluindo profissionais de saúde, se distanciaram da ciência. A própria politização fez a pandemia no Brasil girar em torno dessas medicações, como azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina. Vários estudos mostraram que não trazem benefícios no cenário da covid-19. E mesmo 10 meses depois do início da pandemia, a gente ainda vê muitas pessoas utilizando dessas medicações sem saber os riscos", alerta a médica do Hospital das Clínicas da UFPE, Christyanne Rodrigues.

Ela considera que a automedicação é uma questão cultural do brasileiro, com fácil acesso às farmácias, e também tem relação com a dificuldade de conseguir atendimento de saúde, principalmente para a parcela mais carente da população. A ampla disponibilização de informações na internet e redes sociais dá a falsa impressão de que o leigo pode fazer seu diagnóstico. "Não é incomum a gente encontrar o paciente que chega já dizendo o diagnóstico e qual é a medicação que devemos prescrever", destaca a clínica geral, lembrando a mensagem sempre associada à publicidade de remédios. "No final, vem a mensagem: 'ao persistirem os sintomas, um médico deverá ser consultado'. O médico deve ser consultado só se os sintomas persistirem; e não 'vá ao médico para ter sua prescrição'".

O farmacêutico Valdemir Cordeiro de Paula, chefe do Setor de Farmácia do HC-UFPE, alerta também para o uso sem controle dos remédios caseiros – incluindo chás, plantas e extratos, considerados naturais pela população. "Muitas vezes os extratos de plantas e chás não têm só aquela substância conhecida. Há outras substâncias, que podem trazer várias reações ao paciente, muitas vezes inesperadas. A orientação do profissional de saúde deve ser para qualquer tipo de substância, seja chá, planta ou um medicamento. Porque um horário, uma interação, um alimento, uma reação inesperada, tudo são os riscos potenciais que o paciente corre quando em contato com esses tipos de substâncias", salienta.

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