"O brilho que ela tinha mudou" por causa dele, diz pai das filhas de manicure que teria sido vítima de feminicídio
Enterro de Dione Gomes da Silva acontece nesta quarta-feira (6) às 14h, em Camaragibe. O principal suspeito de tê-la matado é o namorado, que foi autuado pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver
Com informações da repórter Juliana Oliveira, da TV Jornal
Após dias de procura, o corpo da manicure Dione Gomes da Silva, de 40 anos, foi encontrado nessa terça-feira (5) no Rio Tejipió, no Recife. O principal suspeito* de ter cometido os crimes de feminicídio e ocultação de cadáver, como foram tipificados pela polícia, é o namorado da vítima, um mototaxista. Entre o namoro e a morte, a sequência de fatos lembra outros casos de feminicídio. Primeiro, o namoro parecia normal. Meses depois, atitudes possessivas começaram a aparecer. É o que conta o ex-marido e pai dos filhos da vítima, que prefere não se identificar.
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"O relato dos irmãos que moravam com ela é que, no começo, ela conversava com eles [sobre o relacionamento], era comunicativa. Depois de cinco meses, ele ficou possessivo de ciúmes, e ela não se abria mais, não falava mais, não era a mesma pessoa. Mudou o comportamento. O brilho que ela tinha mudou. Com certeza, ele ficava, de alguma forma, ameaçando ela. [..]", contou o ex.
O suspeito de ter matado e jogado o corpo de Dione no rio se apresentou ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), localizado no bairro do Cordeiro, Zona Oeste da capital, na tarde desta terça-feira (5), acompanhado do advogado. O homem recebeu voz de prisão e foi autuado em flagrante pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver. No final da tarde, ele foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para realizar o exame de corpo delito. Na saída do suspeito, um tumulto foi registrado na delegacia quando populares que estavam no local tentaram linchar o mototaxista.
"Assim que ele entrou no carro, naquela agitação toda, uma senhora colega da Dione perguntou para ele por que ele fez isso. Ele disse, 'me desculpa', como quem diz, 'estou arrependido'. Não adianta ele dizer isso agora, porque a mulher está morta. Por que ele não pensou antes de fazer? Ele premeditou tudo", acusa o pai dos filhos da vítima.
Nesta quarta-feira (6), acontece o enterro de Dione, às 14h, em Camaragibe. É também hoje que o suspeito passará por audiência de custódia online. A polícia segue colhendo depoimentos de amigos e familiares de Dione, com o objetivo de entender a dinâmica do relacionamento e o que pode ter acontecido na noite em que a manicure foi morta.
O ex-marido diz que espera pela justiça de "Deus e da Terra". "Eu espero que ele pague pelo crime que cometeu, quero que seja julgado, mesmo, que fique um bom tempo na cadeia para ver que ele destruiu não só as minhas filhas, que eram muito apegadas a ela, destruiu a família da mãe dela e muitas outras famílias", pede.
*O nome do suspeito não foi divulgado pela Polícia Civil em cumprimento da Lei de Abuso de Autoridade nº 13.869/2019, que, entre outros pontos, proíbe a divulgação de imagens e nomes por parte dos policiais e servidores públicos membros dos Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário e do Ministério Público. A pena é de até quatro anos de prisão, caso a autoridade descumpra a legislação.
O caso
De acordo com familiares e amigos de Dione, ela foi vista pela última vez às 22h do sábado (2), quando saiu da casa onde morava, no bairro de Monte Verde, em Jaboatão dos Guararapes, em direção à casa do namorado, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife.
Ainda segundo a família, a informação recebida é que o namorado da mulher, identificado apenas como Maurício, teria ligado para um parente pedindo para socorrer Dione, que estaria ensanguentada. Ao chegar na Ponte Motocolombó, ele teria solicitado a parada do carro e em seguida jogado a vítima no rio. Ainda não se sabe se Dione foi jogada viva ou morta.
"Ele chegou aqui, bateu na janela e disse que a esposa estava passando mal. Eu imediatamente acordei, peguei o carro, coloquei na beira do portão. Ela estava deitada, com as costas pro chão, um pano branco coberto. Porque ele disse que ela teve um derrame, caiu, bateu a cabeça e ficou sangrando. Aí eu pensei que estava desmaiada", explicou um parente do suspeito, que não terá a identidade revelada.
Ainda segundo ele, após colocarem Dione no carro, o suspeito foi até a casa e pegou um balde com alguns lençóis sujos de sangue, e então os dois saíram em direção à Policlínica de Afogados. "Quando chegou ali na ponte ele falou 'para o carro aí, pô', eu questionei 'pra quê parar?' e ele disse que era pra jogar os panos com sangue. Aí eu parei, mas com medo dele estar com alguma arma ali, alguma coisa. Ele realmente jogou o balde, mas depois abriu a porta de trás do carro e pediu ajuda pra pegar ela", conta a testemunha. "Eu falei que o hospital estava bem pertinho, falei 'vamos levar pro hospital, por favor', aí ele mesmo pegou ela e jogou dentro da maré. Eu fiquei totalmente paralisado", revelou a testemunha, bastante abalada, em entrevista à Rádio Jornal.
Segundo a filha da vítima, que também não terá o nome divulgado, a mãe tinha um relacionamento com o suspeito há apenas nove meses, marcado por ciúmes. "Ele não deixava ela fazer nada. Até um riso que ela desse incomodava ele, chegou ao ponto até de ela terminar com ele, mas como ela tinha o coração mole, ela voltou com ele", contou a filha.
Agora, o que restam são as lembranças dos planos que mãe e filha fizeram para 2021. "Me lembro que a última vez que a gente conversou, ela estava lá em casa deitada na minha cama, e disse que ia construir uma casa atrás da minha para que a gente pudesse viver mais perto uma da outra", contou a filha da vítima.
Confira fotos da busca pelo corpo da manicure: