Ciclovia em Olinda é símbolo de descaso e abandono
Falta de iluminação e sinalização, além de lixo e vegetação invadindo o espaço, são os principais problemas
Inaugurado há menos de três anos, com a promessa de facilitar a locomoção e oferecer uma alternativa ao uso do carro, o segundo trecho do Eixo Cicloviário Camilo Simões, que vai da Fábrica Tacaruna até o Varadouro, em Olinda, Grande Recife, virou símbolo de descaso com o dinheiro público. A ciclovia, entregue em 2018, tem 2,9 quilômetros de extensão e acumula problemas. Os principais são a falta de iluminação, a sinalização apagada e o lixo que se acumula no entorno.
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A situação não é uma novidade. Em maio de 2018, pouco mais de um mês depois da inauguração do novo trecho, a iluminação foi roubada próximo ao Centro de Convenções. Ainda hoje o trecho é o mais vandalizado, tendo, inclusive, os refletores dos postes levados. Sem a iluminação, resta a escuridão a quem se aventura a passar pelo local à noite. “Como está sem luz, fica tudo apagado. É a própria população que rouba, o que é mais triste. De qualquer forma, falta o governo fazer a parte dele”, opina o ambulante Josias da Silva, 37 anos, que utiliza diariamente a estrutura.
Mas os problemas não se limitam à iluminação. A sinalização está apagada e a vegetação alta invade a ciclovia em vários trechos, assim como o lixo amontoado às margens do equipamento. A reportagem flagrou animais soltos, cruzando as estruturas. Próximo ao giradouro, cavalos ocupavam a ciclovia, obrigando os usuários a se aventurar entre os carros. Já no Varadouro, um porco também obrigava o desvio dos ciclistas para a pista.
Se os problemas preocupam, a falta de entendimento entre governo e prefeitura é ainda mais alarmante. A obra foi executada e entregue pela gestão estadual, através da Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco (Setur-PE), em abril de 2018, com investimento de R$ 1,9 milhão. Mas a pasta afirma que a gestão é de responsabilidade da Prefeitura de Olinda. Já a prefeitura, em nota, informou que realizará vistoria para “identificar a competência na manutenção dos trechos indicados.” Disse ainda que “nos trechos de competência do município, o serviço será iniciado até esta sexta-feira (8)”, sem detalhar quais seriam os locais, mas destacou que a iluminação não é gerida pela prefeitura.
O trecho em questão faz parte de um projeto maior. O Eixo Cicloviário Camilo Simões prevê um total de 33,8 quilômetros de ciclovia, passando pelas cidades de Recife, Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu. O primeiro trecho, que vai do Marco Zero da capital pernambucana até a Fábrica Tacaruna, com 5,1 quilômetros, foi entregue em abril de 2017 e teve custo de R$ 2,4 milhões para sair do papel. Agora o governo está prestes a ampliar o eixo com a construção do terceiro trecho, que irá do Varadouro até o Carmo, em Olinda. Segundo a Setur, responsável pelo projeto e execução, a obra já foi licitada e aguarda o fim do período recursal para assinatura do contrato, ordem de serviço e início das obras.
Para a ciclista e ativista Gaia Lourenço, que é coordenadora da Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo), a ampliação deve ser comemorada, mas o cuidado com as estruturas que já existem precisa ser uma preocupação. “Não adianta só instalar, é preciso cuidar. Está tudo muito precarizado. Precisa de manutenção, de iluminação. Para mulheres ciclistas, isso faz diferença na segurança. Cabe ao poder público - à prefeitura, ao governo – parar com esse cabo de guerra”, opinou.
Gaia defende a origem dos problemas está na falta de prioridade dada pelos gestores públicos aos meios de transporte alternativos ao carro. “O poder público de forma geral é muito resistente a tirar o espaço do carro para priorizar transportes ativos e coletivos. Aquele trecho é instalado na calçada, dividindo espaço com o passeio, que já era precário, mas o espaço para o carro é mantido.”
Ela argumenta que é essa falta de prioridade que faz com que o Plano Diretor Cicloviário (PDC) ainda não tenha saído do papel da maneira que foi concebido. “É um bom plano, a gente participou das audiências e concorda com o que foi posto, falta ser executado de acordo com o que ele determina. Hoje a prioridade tem sido para vias secundárias, onde os carros não oferecem tanto risco. Deveria ser prioridade outros trechos, em avenidas mais movimentadas, como a Agamenon Magalhães”, aponta.