
Em meio à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, a Compesa anunciou ontem um novo calendário de abastecimento, aumentando a quantidade de dias sem água em diversas localidades da Região Metropolitana do Recife (RMR) e afetando a vida de 2 milhões de pessoas. A justificativa, segundo o órgão, é a previsão de chuvas abaixo da média para os próximos meses. Em um diagnóstico apresentado ontem, a companhia apontou que o nível dos reservatórios é o pior dos últimos dez anos.
Na Barragem Botafogo, por exemplo, que abastece os municípios de Olinda, Paulista, Igarassu e Abreu e Lima, a situação é extremamente crítica, com apenas 5,98% da capacidade de acumulação total. Segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), a previsão não é de melhora. Ao que tudo indica, os próximos três meses devem ser de chuva abaixo da média nos pontos mais afetados da RMR.
"A previsão climática para os próximos meses - janeiro, fevereiro e março - é uma grande probabilidade dos acumulados ficarem abaixo da média. Já estamos em um período que não tem previsão de muita chuva, porque estamos fora do período chuvoso, e a previsão se consolida de que essa pouca chuva ainda será abaixo da média climatológica", explicou a diretora de Regulação e Monitoramento da Apac, Crystianne Rosa.
Assim, a solução encontrada pela Compesa foi rever o calendário de abastecimento em localidades dos municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata e Moreno. As mudanças passam a ser implementadas, de forma gradual, a partir da próxima segunda-feira.
Com as mudanças, Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu passam a ter um dia com fornecimento de água e sete sem. Camaragibe fica com um dia de água e 15 sem. Em São Lourenço, o esquema é de um dia de fornecimento para 10 sem água. Já Moreno fica com dois dias de água e nove sem. Os demais municípios serão parcialmente afetados. No Cabo de Santo Agostinho, alguns bairros ficam 16 horas com fornecimento e 24 horas sem; em outros serão 16 horas com e 36 sem água. Em Jaboatão dos Guararapes, mais de 20 bairros ficarão vinte dias sem água e apenas um com fornecimento. O Recife também foi afetado em boa parte dos bairros. A lista completa pode ser conferida no site do JC (jconline.com.br).
A falta de água em muitas dessas localidades não é novidade para os moradores. E com mais dias de racionamento, as famílias vão precisar economizar e acumular água em baldes, por exemplo, o que não é o ideal. A água limpa parada pode atrair os vírus da dengue e zika - espalhando doenças.
No Sítio Histórico de Olinda, algumas casas chegam a bater a marca de mais de 20 dias sem registrar a chegada de uma gota d'água sequer. "Sempre houve o descaso. Algumas ruas sofrem com mais intensidade que outras, chegando a passar mais de 20 dias sem água", revelou Vanessa Nobre, que é moradora do Varadouro. Vanessa teve prejuízos causados pela falta de abastecimento. "A água chegou no domingo passado (17), mas passou quase 15 dias sem. Temos um empreendimento de alimentação e tivemos que suspender as atividades semana passada."
No bairro de Peixinhos, a situação também é crítica. "São cerca de cinco dias sem água. Quando chega, é sempre fraca nas torneiras. Quem tem cisterna consegue ficar melhor, mas quem não tem precisa apelar para os baldes mesmo", conta o repositor Eduardo Santos. Para ele, a diminuição do fornecimento é inaceitável. "Vai ficar horrível. É complicado para quem tem família, filhos pequenos, como eu que tenho dois filhos e estou desempregado", afirmou. Morador do mesmo bairro, o marceneiro Sérgio Soares também reclamou da falta de água. "Temos que deixar panelas abastecidas com água. Quando chega, acaba logo."
A advogada Priscila Bernardo, que vive no Carmo, no mesmo município, está sem água desde o dia 2. Ela tentou solicitar um caminhão pipa gratuito da Compesa, mas não teve sucesso. "A única regularidade é o recebimento das contas, que aqui já veio bem alta, mas quanto ao serviço, é desrespeito e descaso que encontramos."
A Compesa informou que investimentos estão sendo feitos desde o ano passado. "Estamos investindo R$ 20 milhões em ações para ampliar a oferta de água e para trazer segurança hídrica aos sistemas", assegurou a presidente da Compesa, Manuela Marinho.
Entre os investimentos, estão a reativação e perfuração de 30 poços na RMR. O trabalho iniciou em 2020 nos morros da Zona Norte do Recife e seguirá sendo executado em outras áreas da capital e em Goiana, Abreu e Lima, Igarassu, Olinda e Paulista. O incremento representará mais de 550 litros de água por segundo.
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