Trio investigado por agressões contra jovem negro em Maria Farinha é indiciado por injúria racial e lesão corporal
O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público de Pernambuco
Atualizada às 14h50
A Polícia Civil de Pernambuco concluiu o inquérito policial referente ao caso de agressão contra o estudante Lucas Paiva, de 20 anos, em uma marina em Maria Farinha, Paulista, no Grande Recife, no dia 30 de janeiro. O trio de jovens apontado como agressores, dois homens de 23 e 25 anos, e uma mulher, de 23 anos, foi indiciado por injúria racial e lesão corporal. O inquérito foi presidido pelo delegado titular da Delegacia de Polícia da 34ª Circunscrição, em Maria Farinha, Halysson Moji, e já foi encaminhado ao Ministério Público de Pernambuco.
No dia 4 de fevereiro, o advogado de Lucas, Luiz Carlos Tomé, solicitou à polícia que a tipificação do crime fosse alterada de injúria racial para racismo, o que não aconteceu. De acordo com ele, só a primeira parte do inquérito foi enviada ao Ministério Público, mas não a segunda, que contém relatos de funcionários da marina que também teriam sido agredidos, fisicamente e verbalmente.
"Não foi complementado com o depoimento das testemunhas da marina. Estivemos ontem falando com a promotora do MPPE, e ela só estava com a primeira parte do inquérito. Nós passamos para ela o inquérito completo por e-mail, como também os laudos do IML (Instituto de Medicina Legal) de Lucas e de testemunhas", contou o advogado.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da 7ª Promotoria de Justiça Criminal do município do Paulista, afirmou por meio de nota que recebeu o inquérito referente ao caso da MF Marina Clube, em Paulista. O órgão destacou que já realizou audiência informal com os advogados da vítima e solicitou à Polícia a remessa de depoimentos que foram prestados após a conclusão do inquérito, bem como os laudos elaborados pelo Instituto Médico Legal de Pernambuco (IML-PE).
A reportagem do JC entrou em contato com a Polícia Civil de Pernambuco para explicar o caso e atualizará esta matéria quando tiver respostas.
Entenda o caso
Dois homens de 23 e 25 anos e uma mulher de 23 anos foram presos em flagrante por injúria qualificada racial e lesão corporal contra Lucas no dia 30 de janeiro por suspeita de agredir e gritar ofensas relacionadas à cor da pele de um jovem negro de 20 anos na MF Marina Clube, localizada na praia de Maria Farinha.
Segundo o rapaz, ele havia sido convidado para um passeio de lancha por uma amiga que sairia pela manhã; o passeio duraria a maior parte do dia. Ele teria ido junto a um grupo de amigos de ambos. "Quando cheguei lá, ela disse que tinha chamado outros amigos, que eu não conhecia e nunca tinha visto. Até aí tudo bem... eles chegaram e não falaram comigo, nem eu com eles, até o momento em que eu fui tentar passar para pegar uma cerveja. Ele (um dos agressores) me fez um questionamento e eu respondi algo que ele não queria. Aí ele perguntou porque eu tinha respondido aquilo, que aquela não era a resposta que ele queria. Eu disse que aquela pergunta não me interessava muito não, que só queria passar para pegar minha cerveja."
A vítima conta que o homem impediu sua passagem e que, após alguns minutos, ele desistiu de pegar a bebida. "Depois de 1h, ele olhou pra mim do nada e disse 'tá (sic) olhando o que, boy? Não era pra você estar aqui. Aqui não é lugar pra você. Você tem carro? Cadê seu carro? Tu é pobre, tu é preto, tu não merece estar aqui'. Aí eu falei que enquanto ele estivesse lá, não ficaria junto. Aí a irmã dele falou 'sai mesmo, pobre. Sai mesmo, preto. Não era pra você estar aqui.'"
Lucas relatou que nesse momento falou com o marinheiro e disse que iria pular da lancha, mas o profissional não permitiu. Ao invés disso, ele parou na marina mais próxima. "Eu já desci gritando para o pessoal do restaurante, dizendo que ele queria vir pra cima de mim, que queria me agredir. Quando olho pra trás, ele já estava próximo, já veio batendo em mim. Meus amigos chegaram, empurraram ele e me tiraram. Aí o pessoal da marina me ajudou e me escondeu pra ele não vir pra cima de mim. Eu passei muito tempo escondido, escutando a gritaria lá fora."
O garoto permaneceu na cozinha do estabelecimento até a chegada da polícia. Testemunhas confirmaram a versão do garoto e o trio foi encaminhado para a Delegacia de Polícia Civil de Paulista.