Sem Galo da Madrugada, foliões vão até a Ponte Duarte Coelho, no Recife, "suprir falta da folia"
Neste Sábado de Zé Pereira, foliões que curtem a festa, cancelada por causa da pandemia, foram reviver memórias no local que abriga todos os anos alegoria que é marca registrada do bloco
Neste Sábado de Zé Pereira, não fosse a pandemia, você estaria lendo neste texto depoimentos de foliões fantasiados, felizes e animados para brincar mais um ano no Galo da Madrugada, bloco que é orgulho de todo pernambucano que ama o Carnaval. Saberia que, como nas últimas duas décadas, a Ponte Duarte Coelho, bem no Centro do Recife, estaria interditada para abrigar a alegoria gigante desse que se torna o animal mais querido e falado do mês de fevereiro. Que o empurra empurra seria inevitável, o calor idem. Que faltaria espaço para a multidão que acompanha a agremiação. Mas sem isso por causa do coronavírus, o consolo que alguns brincantes encontraram foi visitar a ponte, mesmo sabendo que a encontrariam vazia e silenciosa.
"A gente veio tentar suprir essa falta da folia que já é uma tradição aqui no Estado. Viemos tentar nos confortar um pouco pela ausência do Galo. O sentimento é de tristeza, mas estamos conformados", contou o educador físico Sérgio Ricardo Mangueira, 47 anos.
Ele e a esposa, Joana D'Arc Alves, 41, brincam no bloco há pelo menos 20 anos. Moram em Olinda. Chegaram no Centro da capital pernambucana de bicicleta, na manhã deste sábado. Mesmo sem folia, Sérgio estava com um colar de haviano, Joana com um enfeite na cabeça. "O coração está apertado, é difícil explicar. Passa um filme na cabeça, lembrando de tantas farras boas que fizemos no Galo", comenta Joana.
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Antes de passar pela Ponte Duarte Coelho, o casal foi na Praça Sérgio Loureto, tirou foto com a estátua do Galo. Também na sede do bloco, ali pertinho. Joana ainda aproveitou para comprar sombrinha de frevo, fitas e copos coloridos.
"Vamos fazer nosso Carnaval em casa. Quero assistir à live de Ivete Sangalo", conta Joana, que até camisa mandou fazer para ver a apresentação da cantora baiana. "Ao mesmo tempo que estamos tristes, a gente compreende o cancelamento do Carnaval. Está certíssimo para que continue com o isolamento e assim prevenir esse vírus que está provocando uma catástrofe no mundo", ressalta Sérgio.
As imagens do Centro do Recife vazio neste Sábado de Zé Pereira
Com máscara para se proteger da covid-19 e brilhos coloridos nos olhos, a funcionária pública Riva Santa Rosa, 50 anos, também esteve na Ponte Duarte Coelho. "Vim à procura do Galo, mas sabia que não iria encontrá-lo. Queria reviver pelo menos de alguma forma o Sábado de Zé Pereira. É um dia que todo o Recife se encontra aqui, toda aquela energia", diz Riva.
"Esse ano, infelizmente, por conta da pandemia ficou faltando isso. Para diminuir a falta, quis estar aqui na ponte. Tirei uma foto da estátua do Galo que fica perto do caranguejo, na Rua da Aurora, só para registrar o momento", explica Riva. "Coloquei um pouco de brilho no rosto porque amo fantasia, adoro me enfeitar. Nem que seja discretamente, é uma maneira de tentar aproveitar o sábado de Carnaval", ressalta a funcionária pública.
Para o vendedor Matheus Braz, 20 anos, a passagem pela ponte foi casual neste sábado. É seu caminho para o trabalho, no Bairro de São José. "Estou achando estranho porque no ano passado, neste mesmo dia, eu estava aqui no mesmo lugar, em cima da ponte, mas para curtir o Galo", diz Matheus.
"Acho que se tivessem cancelado o Carnaval do ano passado teríamos o Carnaval hoje. O coronavírus não teria se propagado tanto como aconteceu", destaca Matheus. Se o pensamento da Matheus está correto ou não, não se sabe. A certeza é que o desejo de milhares de foliões, pernambucanos e de outros cantos, é que em 2022 a ponte esteja lotada de gente, neste Sábado de Zé Pereira, celebrando a vida e sem medo da covid-19.