SISMOLOGIA

Tremores de terra são comuns no Grande Recife? Após fenômenos recentes, Geofísico explica

Recentemente, dois eventos foram registrados nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca

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Rute Arruda

Publicado em 01/04/2021 às 8:30 | Atualizado em 01/04/2021 às 9:46
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Constantemente, tremores de terra são registrados em solo pernambucano. No Agreste, o responsável pelos eventos é o chamado Grande Lineamento Pernambuco, uma falha geológica que corta todo o Estado, segue pelo mar e chega até o continente africano. De acordo com o professor e geofísico Aderson Farias Nascimento, chefe do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Labsis/UFRN), que estuda os fenômenos no Brasil, a área já é conhecida pelas atividades há mais de um século, mas, nos últimos anos, os estudos foram aprimorados e os pesquisadores passaram a identificar os tremores em outras regiões. 

Em menos de cinco dias, dois tremores foram registrados na Região Metropolitana do Recife. O primeiro aconteceu no município de Ipojuca, distante aproximadamente 50 quilômetros da capital pernambucana, no último dia 26 de março de 2021, às 2h57, segundo a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR). A magnitude preliminar deste evento foi de 2.1 graus na Escala Richter. O segundo e mais recente foi registrado no município vizinho a Ipojuca, no Cabo de Santo Agostinho, também de magnitude 2.1 mR. O chefe do Labsis resume o que seria um tremor de terra: "é, basicamente, um terremoto, caso a origem da vibração seja o movimento das placas tectônicas". 

Quem mora na região afirma que não sentiu o tremor. O consultor empresarial Inaldo Campelo reside em Ponte dos Carvalhos, Cabo de Santo Agostinho, há 58 anos, e relatou que as pessoas próximas ficaram surpresas ao saber que um tremor foi captado. "Como foi quase de madrugada e de escala muito pequena, muita gente estava dormindo. Eu não senti nada, meus amigos também não. Foi uma grande surpresa para todos nós. Todo mundo comentava: 'teve tremor aqui? não é possível'", comentou. 

O empresário Gilvan Avelino, 33, também disse não ter sentido e nem ouvido relatos de pessoas que presenciaram o fenômeno. "Só soube porque vi as pessoas comentando. Moro aqui há vinte e oito anos e nunca vi algo parecido", frisou. 

Segundo o chefe do Labsis, eventos como esses são mais comuns no Interior do Estado, e estão sendo mais observados no Grande Recife por causa do avanço dos estudos. "O que a gente também acha que pode estar acontecendo é que toda essa região pode estar sendo reativada. Antigamente, nós monitorávamos menos essas falhas geológicas, mas com o avanço dos anos nós passamos a monitorar", disse.

Em Caruaru, no Agreste, somente no segundo semestre de 2020 foram registrados mais de 300 tremores, de acordo com a Rede Sismológica Brasileira. No mês de fevereiro deste ano, segundo balanço da RSBR, dois eventos foram captados. O primeiro, no dia 17, com magnitude 2.0 mR, e o segundo no dia 18, de magnitude preliminar de 1.5 graus na Escala Richter. 

Aderson explica que tremores de magnitude 1.5 graus na Escala Richter já podem ser observados pela população. No entanto, o que vai determinar se será sentido ou não é o horário em que aconteceu e a proximidade com o epicentro do tremor.

"Quem estiver muito próximo da região pode perceber, mas vai depender também do horário. À noite, um tremor de magnitude de, por exemplo, 1.5 ou 2.0 é possível ser sentido. A partir de 2.0, é mais fácil da população perceber alguma coisa. E, geralmente, eles são muito rápidos, questão de dois segundos. Primeiro vem o estrondo, depois o tremor", esclareceu o geofísico.

Os moradores de Caruaru relatam que já estão acostumados com os tremores. "Sempre dá para sentir. Tiveram alguns que foram mais fortes. Geralmente dá um estrondo, estremecendo, como se fosse um trovão, só que vindo de baixo. O som é mais abafado. Já escutei de dia, de tarde, de noite. Mas à noite é quando a gente sente mais, porque é como se a cidade estivesse mais calma, em silêncio", comentou a jornalista Conceição Ricarti, 38, que mora no município há 15 anos. 

Mas a sensação de sentir o primeiro tremor de terra foi assustadora para o orientador educacional Jairo Andrade, 28. Ele está em Caruaru desde o início de 2018 e lembra com clareza de como foi o momento. 

"Eu estava sentado no sofá da sala quando, de repente, ouvi um barulho, as coisas tremendo. Fui correndo falar com minha esposa e ela disse que era normal, até riu do meu desespero. Aqui no nosso bairro não temos tanto, mas já foram registrados dez tremores em um dia só. Hoje eu estou mais acostumado", lembrou. 

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