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Homem que invadiu rádio diz que não ameaçou apresentador: ''Em nenhum momento falei em Bolsonaro''

Segundo ele, o apresentador o tinha xingado dias atrás, durante programa ao vivo

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Bruna Oliveira

Publicado em 08/04/2021 às 16:07 | Atualizado em 08/04/2021 às 17:10
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Suspeito de cometer crime de ameaça contra o radialista Júnior Albuquerque, por motivos políticos, em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, na última terça-feira (6), o apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Sófocles Bezerra, de 47 anos, afirmou que compareceu à rádio por motivação pessoal e que em nenhum momento ameaçou o homem. Segundo ele, o apresentador o tinha xingado dias atrás, durante programa ao vivo.

"Não sou político, sou um ouvinte de rádio e perdi o controle. Em nenhum momento falei em Bolsonaro, quem me conhece sabe que não sou assim. Minha intenção era pedir respeito e receber um pedido de desculpas. Reconheço que errei, mas não o ameacei e nem sou bandido, eu tenho uma família", declarou.

Em conversa com a reportagem do Jornal do Commercio, Kynho Tricolor, como também o suspeito é conhecido, disse que costumava frequentar a rádio e que já conhecia a equipe que compõe o veículo. De acordo com ele, o atrito com Júnior Albuquerque teve início por meio de conversas no aplicativo WhatsApp.

"Eu fazia parte de um grupo que ele tem no WhatsApp, e ele me bloqueou, porque lá ele coloca a opinião dele política de esquerda, enquanto eu rebatia com figurinhas de direita. Na ocasião ele até me chamou de retardado", disse.

>> Homens invadem estúdio de rádio no Agreste de Pernambuco e ameaçam agredir radialista que criticou Bolsonaro

Ainda segundo o suspeito, no dia 16 de março, um outro apresentador teria feito uma brincadeira com Júnior durante um programa ao vivo, em que pedia para que o homem desbloqueasse Kynho no WharsApp. Foi nesse momento que Júnior teria feito xingamentos a ele.

"Ele disse que eu precisaria mudar a minha cabeça retrógrada, me chamou de idiota, de cafajeste. Misturou com coisas de governo e nos programas seguintes começou a soltar indiretas para mim, sem dizer o meu nome, mandando ir lá defender o presidente", declarou.

Após os episódios, Sófócles, então, teria pedido a outro apresentador para comparecer a um programa no dia 26 de março, em que queria sentar ao lado de Júnior, para, segundo ele, Júnior fazer as declarações "na sua cara". No entanto, ele acabou não participando.

Já na terça-feira (6), Kynho, acompanhado de três homens, que de acordo com ele estavam lá para apoiá-lo, foi até a rádio. "Não houve nenhuma invasão, lá fica tudo aberto. Eu esperei dar comercial para entrar no estúdio e os outros três ficaram na porta me esperando. Quando entrei cumprimentei todo mundo", disse.

Discussão

Em sua versão, o apoiador do Bolsonaro contou que ao ser questionado sobre o motivo que o teria levado até o estúdio afirmou que foi "para Júnior dizer frente a frente o que disse durante o programa um outro dia". De acordo com ele, Júnior afirmou não querer conversa e falou que estava apresentando o programa. 

"Ele disse que não queria conversa comigo. Depois falou frases como 'me bata ou então vá embora' e ficou perguntando se eu iria bater nele. Eu disse que não iria bater, que era fácil falar no microfone, mas que cara a cara ninguém fala. Foi nessa hora que me aproximei do microfone e dei uma batidinha na espuma", falou o suspeito.

Segundo Kynho, Júnior afirmou ainda que o pedido feito por ele ao outro apresentador, para participar do programa no dia 26 de março, seria uma ameaça. Insistindo no assunto, enquanto o apresentador dizia que estava apresentando o programa, o suspeito teria sugerido que os dois conversassem fora do estabelecimento.

"Eu falei 'se não quer dizer aqui, diga lá embaixo, eu espero você'. Foi nessa hora que bati no relógio. Enquanto isso, os outros apresentadores pediam para eu ter calma e me retirar do local, que foi o que fiz. Mas em nenhum momento eu ia bater nele, a questão é que falo muito alto e rápido", disse.

Após o episódio, Júnior Albuquerque realizou boletim de ocorrência na Delegacia de Santa Cruz do Capibaribe. Com isso, Sófocles irá responder pelo criminalmente por ameaça. Além disso, o comunicador informou que irá registrar denúncia no Ministério Público de Pernambuco nesta sexta-feira (9), às 9h.

"Quando receber intimação vou contar a minha versão, porque foi ele quem me esculhambou durante o programa, tocou no meu nome. Isso não é agressão?", indagou.

Relembre o caso

O radialista Júnior Albuquerque teve foi surpreendidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante seu programa, em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. Em entrevista à Rádio Jornal, nesta quarta-feira (7), o comunicador relatou o ocorrido e disse que nunca havia passado por uma situação parecida, destacando que "a época da ditadura já passou".

"Nunca tinha acontecido. A gente já faz rádio há cerca de 10 anos. Nesse programa eu já estou há cerca de três anos (...) Nunca tinha passado por um constrangimento desse tamanho, e nunca achava que iria passar. Até porque a gente vive numa democracia plena, a época da ditadura já passou", afirmou.

Segundo o apresentador, ele deixa o espaço aberto para que as pessoas possam expor opiniões contrárias às suas. "Como lá é um programa opinativo, eu sempre digo: essa é a minha opinião. Quem tiver uma opinião contrária, eu respeito. Democracia é isso. Democracia é para a gente debater ideias", afirmou. "Esse pessoal parece que o único entendimento que tem é o da violência", completou o radialista.

Ao final do programa, ele e o dono da rádio seguiram até a delegacia do município e registraram um Boletim de Ocorrência. De acordo com radialista, ainda esta semana, ele irá procurar o Ministério Público da cidade.

Júnior contou também que já conhecia dois dos agressores de vista, pois eles costumam fazer críticas durante as transmissões ao vivo do programa. "A gente nunca pensou que eles teriam tal atitude, de invadir um local de trabalho, uma emissora de rádio, um veículo de comunicação, para tentar intimidar e agredir”, disse.

A Associação de Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope) repudiaram a agressão.

Leia a nota da Asserpe

A Asserpe condena o episódio de invasão de um estúdio de rádio na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, ocorrido nesta terça (6).

A Rádio Comunidade tinha programa apresentado pelo radialista Júnior Albuquerque. Segundo relatos, ele cobrava maior atuação do Governo Federal na pandemia e foi surpreendido por militantes políticos do presidente Jair Bolsonaro que invadiram os estúdios, o intimidaram e o ameaçaram.

O fato de tratar-se de emissora comunitária não associada não muda a posição de nossa entidade, por tratar-se de ameaça à liberdade de imprensa, a qual defendemos de forma altiva. Também porque abre um perigoso precedente que ameaça todos os veículos, inclusive comerciais.

A Asserpe espera resposta a altura em virtude da gravidade do incidente pelas autoridades que investigam o caso.

A Asserpe defende de forma intransigente a liberdade de imprensa conquistada pelos veículos de comunicação e condena todo ataque à esse direito fundamental.

Por fim, se solidariza com o radialista Júnior Albuquerque e à Rádio Comunidade, esperando que fatos como esses não se repitam.

Leia a nota do Sinjope

O Sinjope condena mais um ato de violência contra profissionais de comunicação cometido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Na terça-feira (06), na véspera do Dia do Jornalista, homens invadiram o estúdio da Rádio Comunidade, em Santa Cruz do Capibaribe, e ameaçaram o radialista Júnior Albuquerque.

A invasão ocorreu depois que o radialista cobrou maior atuação do Governo Federal no combate à pandemia do novo coronavírus. Uma cobrança que está sendo feita pela maioria da população brasileira. No entanto, estimulados pelas atitudes do próprio presidente, que promove ataques quase que diários contra profissionais de comunicação, seus simpatizantes tentaram intimidar o radialista.

O Sinjope recrimina de maneira inflexível qualquer ataque a liberdade de imprensa e espera que o caso seja investigado pelas autoridades policiais do Estado. A liberdade de imprensa é fundamental para manutenção da democracia. Apenas projetos de ditadores podem levantar sua voz contra uma imprensa livre e atuante.

Importante destacarmos que os ataques à imprensa no Brasil mais que dobraram em 2020, em relação ao ano anterior. Foram registrados 208 casos de violência física contra os profissionais em 2019 e 428 em 2020, o que representa um aumento de 105%, de acordo com o Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa em 2021, divulgado pela Fenaj. E o aumento é resultado direto de uma série de atitudes do presidente da República com o objetivo de descredenciar a imprensa para poder espalhar mentiras nas redes sociais e ganhar a adesão da população.

“Segundo este estudo, o presidente Bolsonaro é responsável por mais de 40% dessas agressões. Com isso, ele estimula e autoriza a prática de violência contra o exercício da profissão de comunicador. Não podemos permitir isto”, comentou o presidente do Sinjope, Severino Junior.

Por fim, o Sinjope deseja se solidarizar com o radialista Júnior Albuquerque e com a Rádio Comunidade.

 

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