Um passeio pela Rua do Bom Jesus, no Recife, considerada uma das mais bonitas do mundo e agora exclusiva para pedestres
A partir desta segunda-feira (24), a passagem de veículos será proibida na via. Agora, os encantos da Rua do Bom Jesus só poderão ser vistos a pé
A charmosa Rua do Bom Jesus, que fica no bairro do Recife, Centro da capital pernambucana, já arrancava suspiros de turistas e moradores locais antes mesmo de ser considerada uma das 20 mais bonitas do mundo pela revista americana Architectural Digest no último ano. O conjunto de cores, comércios e sobrados que remonta os tempos coloniais do Brasil e que carrega em si a identidade do povo recifense agora pode ser visto - apenas - bem de perto. É que a partir desta segunda-feira (24) a via se torna exclusiva para pedestres; ou seja, a passagem de veículos será proibida no local.
A prioridade à caminhabilidade dará ao visitante a oportunidade de conhecer o trecho entre a Avenida Marques de Olinda até a praça Artur Oscar, que compreende a rua, sem as barreiras de um automóvel, observando as construções históricas e culturais presentes no Bom Jesus, como o Balé Popular do Recife, a Caixa Cultural, a Embaixada de Pernambuco, com os Bonecos Gigantes de Olinda, a Sinagoga Kahal Zur Israel, a Praça do Bom Jesus e a Torre Malakoff - além de, claro, a Feirinha de Artesanato, que acontece aos domingos.
Também foram retiradas 40 vagas de estacionamento rotativo que ocupavam os dois lados da via, o que, para a arquiteta e urbanista Circe Monteiro, que trabalha na Rua do Bom Jesus, é uma mudança positiva, pois poderá “fomentar nossas formas de ocupação do espaço publico”. “É uma rua muito importante historicamente, e dar prioridade para estacionar carro é uma incongruência para os tempos atuais. A prioridade deve ser realmente os pedestres, até para fomentar atividades de permanência nos térreos dos prédios”, argumenta.
A empresária e publicitária Clara Chalaça, de 22 anos, que trabalha no bairro do Recife, costuma almoçar na Rua do Bom Jesus e também aprova a alteração. "Para mim, virou um ótimo ambiente para passar o tempo, porque realmente quem frequenta a rua nos dias de semana são as pessoas que trabalham por perto, o que acaba deixando o clima do espaço legal. Além disso, fica movimentado e sem o estresse de ter carros passando", diz.
Ao anunciar a iniciativa, no dia 7 de maio, o prefeito João Campos (PSB) explicou que o projeto foi pensado com a intenção de trazer "qualidade de vida” e garantir que a cidade do Recife se torne mais humana, valorizando o pedestre, valorizando as pessoas”. “Essa foi um compromisso de campanha que nós fizemos e agora a gente está tendo a oportunidade de transformar em realidade e poder possibilitar que os recifenses venham ainda mais para o Bairro do Recife e que aqui possam andar, caminhar e ver uma das três ruas mais bonitas do mundo”, complementou ele.
O processo de pedestrianização também já foi feito na Avenida Rio Branco, em 2017, e na Rua da Moeda, em 2019, ambas também no Recife Antigo.
Mudanças de trânsito
A pedestrianização da rua inverteu o sentido da circulação das ruas da Guia, Dona Maria Cesar e João Domingos Martins. Assim, os condutores que usavam a Rua do Bom Jesus poderão utilizar a Rua da Guia e a Rua Dona Maria Cesar como rota alternativa. Além disso, os motoristas que vêm do Cais do Apolo pela Avenida Barbosa Lima poderão acessar a Praça do Arsenal pela Rua João Domingos Martins.
A Prefeitura do Recife explica que contou com o apoio de consultorias da NACTO-GDCI para sinalização do projeto, por meio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária. A organização, que é referência mundial em mobilidade sustentável, também forneceu mobiliário urbano como as esferas de concreto para isolar os extremos das vias. Nas áreas de cruzamento com as outras vias, o espaço foi redesenhado para garantir o espaço dos pedestres por meio de sinalização horizontal, diminuindo, assim, os espaços para travessias.
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História da Rua do Bom Jesus
A Rua do Bom Jesus foi a mais importante do Bairro do Recife desde o período da ocupação holandesa, iniciada no século XVII, por conduzir viajantes procedentes de Olinda, segundo estudo da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Pela forte presença dos israelitas, já foi chamada de Rua dos Judeus.
Ainda de acordo com a instituição, era no término da rua que estava situada a Porta da Terra, que, em 1654, se transformou no Arco do Bom Jesus e foi demolida por "exigência do trânsito" em 1850. Até hoje, o Museu a Céu Aberto, localizado entre a Avenida Alfredo Lisboa e a Rua Barão Rodrigues Mendes, conta essa história, a partir da exposição das ruínas da muralha.
Na via também funcionaram a tradicional Botija Francesa, fundada em 1821, o Café Chileno, ponto de reunião de pessoas importantes, e o Hotel e Restaurante Europeu.
