moradia

Poucas famílias das palafitas do Bode serão transferidas para habitacional erguido na área do antigo Aeroclube

De acordo com o líder comunitário do Bode, na Zona Sul do Recife, o sonho de morar no Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II será vivenciado apenas por 162 famílias, enquanto a comunidade conta com 1,5 mil

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Bruna Oliveira

Publicado em 09/06/2021 às 13:08 | Atualizado em 09/06/2021 às 18:53
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Com informações de Mário Oliveira, da TV Jornal

Reivindicação dos moradores da comunidade do Bode, localizada no Pina, na Zona Sul do Recife, as obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II, que estão sendo erguidos na área do antigo Aeroclube, às margens da Via Mangue, no mesmo bairro, foram o início do sonho de moradia para cerca de 1,5 mil famílias que precisam se abrigar dentro de palafitas na comunidade. Este sonho, no entanto, poderá não se realizar para a maioria delas, visto que o projeto só conta 600 residências e, de acordo com o líder comunitário Samuel Costa, apenas 162 famílias da área serão contempladas com um lar.

"A gente se depara com essa situação, onde as pessoas que moram aqui, em torno da maré, não vão ser contempladas com o projeto. A gente vê a precariedade onde nós tínhamos a esperança de urbanizar a área. Faço uma pergunta ao poder público: com essa ação, essa área será urbanizada? Na minha visão não vai ser", declarou o líder comunitário.

TIÃO SEIQUEIRA/JC IMAGEM
Samuel Costa é líder comunitário do Bode - TIÃO SEIQUEIRA/JC IMAGEM

>> Maior parque da cidade, creche e Upinha 24h: veja projeto da Prefeitura do Recife para terreno do antigo Aeroclube

De acordo com o líder, as outras 438 moradias irão contemplar moradores de outras localidades da Região Metropolitana do Recife. Ainda segundo ele, o cadastro das pessoas que receberão as moradias está sendo feito pelo Ministério de Desenvolvimento Regional. No projeto, também está prevista a urbanização da área que será executada pela Prefeitura do Recife. As obras para erguer o conjunto estão sendo executadas pelo governo Federal.

Por meio de nota, a gestão do município explicou que repassou para a Caixa Econômica Federal, banco que financia a obra dos dois habitacionais, o cadastro de 800 famílias que estariam morando em situação de vulnerabilidade na comunidade do Bode. Entretanto, a seleção dos moradores depende de critérios utilizados no Cadastro Único para programas sociais do governo.

O Ministério do Desenvolvimento Regional, por sua vez, informou que os apartamentos serão destinados a famílias de baixa renda, mas não deu nenhuma garantia de que as pessoas que vivem nas palafitas da comunidade serão contemplados com as moradias. O líder comunitário Samuel tem medo de que os beneficiados de outros locais não se adaptem à realidade da comunidade do Bode.

"Temos um grande exemplo que aconteceu no caso do Conjunto Habitacional Casarão do Cordeiro I e II, na Iputinga, em que famílias saíram de Brasília Teimosa, não se adaptaram e voltaram. Com esse projeto querem empurrar essas pessoas nas quais as lideranças da comunidade ainda nem tomaram conhecimento", falou Samuel Costa. 

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Palafitas localizadas na comunidade do Bode, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife - BERG ALVES/JC IMAGEM
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Obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II - BERG ALVES/JC IMAGEM
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Obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II - BERG ALVES/JC IMAGEM
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Obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II - TIÃO SEIQUEIRA/JC IMAGEM
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Palafitas localizadas na comunidade do Bode, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife - TIÃO SEIQUEIRA/JC IMAGEM
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Palafitas localizadas na comunidade do Bode, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife - TIÃO SEIQUEIRA/JC IMAGEM
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Palafitas localizadas na comunidade do Bode, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife - BERG ALVES/JC IMAGEM
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Obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II - BERG ALVES/JC IMAGEM
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Obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II - BERG ALVES/JC IMAGEM
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Obras do Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II - BERG ALVES/JC IMAGEM

Uma cama para cinco pessoas

Uma das pessoas que vive nas palafitas é a dona de casa Eliane Maria da Silva, 59. Há 40 anos a sua realidade é resumida a um barraco de pouco mais de 5m², ao qual ela chama de casa. No espaço apertado ainda moram o marido, a filha e dois netos. No local, tudo é improvisado: o fogão e a geladeira ficam ao lado da única cama, enquanto fios expostos geram energia para a residência. Apesar de pouca, ela ainda conserva a esperança de conseguir um apartamento no Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II.

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Dona Eliane Maria da Silva mora, com mais quatro pessoas, em uma Palafita - TIÃO SEIQUEIRA/JC IMAGEM

"Meu principal sonho é ter minha casinha para aparar meus filhos e ter uma vida melhor. Do jeito que está aqui é muito difícil. Aqui tem muitos ratos, tem escorpião, baratas. Dormimos um por cima do outro, é difícil para todos que moram em um buraco desses. Quando vejo o habitacional penso que o meu sonho é ter uma moradia daquela. Tenho a esperança de conseguir e, ao mesmo tempo, não tenho", desabafou a mulher.

De acordo com a dona de casa, autoridades políticas já estiveram na comunidade prometendo habitações, mas até hoje, as promessas não foram cumpridas. "A gente se sente bem achando que vai ganhar, mas depois de tanto tempo acaba se sentindo mal, porque os anos passam e só ficam as promessas, sem que nada aconteça", concluiu.

Demanda antiga por um habitacional

As obras do habitacional estão sendo realizadas na área do antigo Aeroclube, que foi desapropriada em 2013 para a construção da Via Mangue. Destinado à formação de oficiais desde 1940, o terreno entrou em pauta diversas vezes na Câmara Municipal do Recife. 

Em 2017, um plebiscito simbólico realizado entre moradores do bairro apontou a construção de moradias como o melhor destino para o terreno onde estão sendo feitas as obras, no antigo Aeroclube. Foram mais de cinco mil votos. Desses, 3.427 definiram moradia como prioridade (67%); 384 votos foram para a construção de um parque (7%); 1.268 optaram pelas duas alternativas (24%); 12 votaram nulo (0,24%) e dois em branco (0,04%).

Os habitacionais eram promessa antiga de Geraldo Julio. Ainda em 2012, o prefeito anunciou a construção, mas apenas em 2018 foi aprovada a construção de um habitacional pelo Minha Casa Minha Vida, programa do Governo Federal.

Projeto

PREFEITURA DO RECIFE/DIVULGAÇÃO
ETAPAS Projeto inclui creche, parque e Upinha, mas para isso não há prazo - PREFEITURA DO RECIFE/DIVULGAÇÃO

O projeto, que foi apresentado à imprensa em setembro de 2020, contempla um parque urbano com 11,9 hectares de área total, pista de cooper, circuito para bicicletas, quadra polivalente, campo de areia, pista de skate, de bicicross e de patins e patinete, além de um parcão e estacionamento com 108 vagas. O espaço terá parque infantil e academia de ginástica acessíveis para pessoas com deficiência. Está prevista ainda a construção de uma Upinha 24h e um creche municipal para 224 crianças.

Também será reservado um espaço para a preservação de 75% da antiga pista de pouso do Aeroclube e construção de um memorial sobre o histórico aeródromo.

De acordo com a gestão municipal, o investimento total é de R$ 99,5 milhões, dos quais R$ 72,5 milhões são de investimentos para a construção do Parque Aeroclube, somados às obras de infraestrutura, tratamento de esgoto e intervenções viárias. Para a creche municipal e para a Upinha, a previsão é de que sejam gastos R$ 6 milhões cada. E a urbanização da Comunidade do Bode custaria R$ 15 milhões. A proposta de viabilidade econômica feita pela prefeitura é destinar 13,1% do terreno para leilão ou concorrência pública à iniciativa privada. O vencedor arcaria com todo o custo da parte pública do projeto.

PREFEITURA DO RECIFE/DIVULGAÇÃO
ETAPAS Projeto inclui creche, parque e Upinha, mas para isso não há prazo - PREFEITURA DO RECIFE/DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO/PCR
Com 11,9 hectares de área total, o Parque Aeroclube será 52% maior que o Parque da Jaqueira - DIVULGAÇÃO/PCR
DIVULGAÇÃO/PCR
Estão sendo construídos os Habitacionais Encanta Moça I e II, destinados aos moradores das palafitas do Bode, também no Pina, no antigo Aeroclube de Pernambuco - DIVULGAÇÃO/PCR

Detalhes do projeto

  • Habitacionais Encanta Moça I e II com 600 moradias
  • Maior parque urbano da cidade com 11,9 hectares, anfiteatro, pista de Cooper, de ciclismo
  • Upinha 24h
  • Creche para 224 crianças
  • Espaço de preservação da história do antigo Aeroclube de Pernambuco com manutenção de 75% da pista de pouso e decolagem original
  • Urbanização da margem do Rio Pina, na comunidade do Bode
  • Alargamento de Vias, construção de ciclovia, implantação de iluminação pública e outras melhorias estruturais no entorno do terreno

Infraestrutura

O projeto prevê um reforço na infraestrutura urbana da comunidade Encanta Moça, com o alargamento da Rua Gago Coutinho, e implantação de ciclovia ligando à avenida Domingos Ferreira, instalação de Sistema de Abastecimento de Água e de Estações de Tratamento de Esgoto, além de iluminação pública e outras melhorias. Além disso, está prevista a urbanização da margem do Rio Pina, no Bode.

 

 

 

 

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