Após tiroteio em bar, secretário de Defesa quer impedir festas com paredões no Cabo
Troca de tiros provavelmente causada por briga entre gangues rivais acabou com um morto e pelo menos outras nove pessoas feridas nesse domingo (2).
Um dia após o tiroteio em um bar na Praia de Gaibu que vitimou uma pessoa e deixou pelo menos outras nove feridas, Pablo de Carvalho, secretário de Defesa Social do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, detalhou nesta segunda-feira (2) as medidas tomadas para frear a violência no município do Grande Recife. Uma delas seria, segundo ele, a apreensão de "paredões" de som e a interrupção de festas, já que o caso se deu em meio a uma. A cidade foi considerada, em 2020, a segunda com maior número (90 por 100 mil habitantes) de homicídios relativa à população no Brasil - segundo dados publicados no último mês pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
"Estamos formando uma força tarefa para dar uma resposta em várias áreas que trabalham juntas; a urbanização, a regularização de som e de paredão, assim como a investigação e o monitoramento [do caso]. [...] Constatamos que havia um paredão e grupos rivais na situação. A gente vai tomar uma ação agora em conjunto aos Bombeiros e à Polícia Militar para ver os pontos onde essas festas têm acontecido e fazer com que elas não aconteçam mais, [com] apreensão de paredão e controle urbano para evitar esse tipo de festa, porque ela cria oportunidade para esse acontecimento", disse, ao JC.
A polícia trabalha com a hipótese de que a troca de tiros pode ter sido ocasionada pela briga de gangues rivais, mas agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) ainda conduzem as investigações do caso. Segundo testemunhas, mais de 50 disparos teriam sido efetuados. Quatro pessoas atingidas foram levadas para o Hospital da Restauração (HR), no Centro do Recife, inclusive uma criança de 8 anos, e as demais para o Hospital Dom Helder Câmara, no Cabo.
O chefe da pasta municipal também destacou a necessidade de um trabalho conjunto feito entre as forças de segurança da cidade e de Pernambuco para solucionar este caso e impedir que novos aconteçam, e afirmou que, "apesar do Cabo ainda ser um lugar muito violento, houve uma redução de 54% dos homicídios, de 22 para 10, em relação ao ano passado". "Estamos reduzindo 27% de homicídios no ano; então, também há resultados positivos para mostrar", disse.
Leia a entrevista completa:
JORNAL DO COMMERCIO - Ontem uma troca de tiros deixou pelo menos 10 pessoas feridas em Gaibu. Como a secretaria recebeu essa notícia e como vem acompanhando o caso?
PABLO DE CARVALHO - Aqui no Cabo, a segurança municipal trabalha muito integrada com a PM e com a polícia civil. Estamos formando uma força tarefa para dar uma resposta em várias áreas que trabalham juntas; a urbanização, a regularização de som e de paredão, assim como a investigação e o monitoramento [do caso]. A prefeitura não se furta a assumir a responsabilidade e trabalhar junto a esses órgãos; vamos trabalhar nessa parte ostensiva da guarda com videomonitoramento e nas instâncias de controle urbano para ajudar a PM e a PC não só a resolver esse caso, mas a prevenir que outros voltem a acontecer.
JC - Como assim regularizar paredões de som? O que isso influenciou no crime?
PABLO DE CARVALHO - Constatamos que havia um paredão e grupos rivais na situação. A gente vai tomar uma ação agora em conjunto aos Bombeiros e à Polícia Militar para ver os pontos onde essas festas têm acontecido e fazer com que elas não aconteçam mais, [com] apreensão de paredão e controle urbano para evitar esse tipo de festa, porque ela cria oportunidade para esse acontecimento. A gente entende que tem que participar ativamente na segurança para evitar esse tipo de situação.
JC - A festa acontecia dentro dos protocolos contra a covid-19? Estava permitida?
PABLO DE CARVALHO - A gente ainda está fazendo levantamento junto a todos os órgãos para saber se [a festa] estava infringindo alguma regra ou não. Ainda não temos essa resposta, mas teremos em breve. Independente disso, vamos aumentar a fiscalização.
JC - Como é feita essa integração entre as forças policiais, por exemplo, para reduzir os crimes?
PABLO DE CARVALHO - Estamos montando um sistema de segurança que junta todos os órgãos em um só. Na maioria das cidades do Brasil, as instituições trabalham isoladas. Aqui, todas trabalham unidas. A prefeitura não quer esse discurso de dizer que a responsabilidade é do estado, aqui, é do município e do estado. Temos videomonitoramento com 100 câmeras, simultaneamente com a PM e com a prefeitura. O que vemos nelas, passamos para a polícia civil. Temos o Cartão Programa, também estamos contratando 118 guardas que sairão treinados e armados.
JC - Com essa integração, como fica o papel individual de cada polícia?
PABLO DE CARVALHO - A Polícia Civil trata mais da investigação dos crimes, da repressão. A guarda e a PM é mais a questão preventiva; mas a guarda, por lei, tem um viés mais comunitário, e tem a obrigação de dar uma resposta de baixo impacto em crimes como furto, roubo, proteção do patrimônio municipal e diálogo com as comunidades. A guarda também gerencia o videomonitoramento, que serve a todo mundo, o trânsito, que é fundamental para a segurança.
JC - Vocês falam da instalação de câmeras de segurança. Sabe dizer quando, quantas têm e em que pontos da cidade? Quantos servidores fazem esse monitoramento? Como elas ajudam no combate ao crime?
PABLO DE CARVALHO - Cobrem toda a cidade e inclusive uma parte dos engenhos. Nisso, temos 22 servidores, entre guardas, Defesa Civil, pessoal de trânsito.
JC - A que a secretaria atrela o alto índice de homicídios na cidade? Quais particularidades a tornam tão violenta?
PABLO DE CARVALHO - Setenta por cento deles são por narcotráfico, guerra de quadrilhas: o problema central que acontece em todos os grandes centros metropolitanos. Tem um grande tráfego de cocaína que sai da cordilheira dos andes, atravessa o país e depois é lançado para o exterior, como para a África do Sul, Europa e Estados Unidos. Boa parte dele fica nas pequenas cidades, gerando essa guerra entre quadrilhas pelo território que causa toda essa violência e principalmente homicídios.
JC - Sabe-se quais são as regiões mais violentas do Cabo de Santo Agostinho e quantos guardas municipais têm na cidade?
PABLO DE CARVALHO - Ponte dos Carvalhos e Pontezinha. Temos, hoje, 180 guardas; sendo 100 armados. Vamos contratar mais 118 guardas, e todos serão armados. Quando eles tiverem atuando, vamos ter a maior guarda armada do estado de Pernambuco.
JC - No Cabo, os guardas podem usar armas desde 2016. No entanto, à época, a quantidade de homicídios em relação à população era ainda menor do que hoje. Essa permissão, então, é de alguma forma repensada? A SDS do Cabo considera o uso efetivo?
PABLO DE CARVALHO - A lei permite que as guardas sejam armadas, essa é uma decisão de natureza técnica e política. Aqui, no Cabo, a gente arma os guardas, mas o nível de treinamento é muito alto. A lei obriga que façamos um curso de 460 horas de aulas para formá-los; aqui, estamos fazendo de 860 horas, para que eles respeitem os direitos humanos e sejam amigos da comunidade, para que esse armamento seja um instrumento a favor da sociedade e da guarda. A questão do armamento é fundamental desde que se tenha um treinamento adequado, como é o nosso caso, um bom acompanhamento e integração. Considero o uso positivo desde que se tenha um bom treinamento e um bom acompanhamento da corregedoria.
JC - Sabe-se que segurança pública não é feita apenas com policiamento. Que outras ações são feitas pela SDS no intuito de tornar a cidade mais segura?
PABLO DE CARVALHO - A gente trabalha integrado com a Secretaria da Mulher com a Patrulha Maria da Penha; com as instâncias de controle urbano no combate à pirataria; com a Secretaria de Infraestrutura para fazer a iluminação onde o crime é mais forte e junto à Secretaria de Educação. Só existe uma maneira de se falar de segurança hoje em dia: juntando todo mundo. Se não tiver integração, não conseguimos.
JC - Existem projetos e planos de segurança em discussão ou em execução no Cabo? Quais?
PABLO DE CARVALHO - Temos um plano de gestão de segurança de 4 anos. Queremos ampliar o videomonitoramento colocando tecnologia para podermos tirar os guardas do patrimônio e direcioná-los a olhar as pessoas.
JC- Quais são os principais desafios que a secretaria ainda enfrenta na redução dos crimes?
PABLO DE CARVALHO - O desafio é conseguir implantar um sistema de segurança que trabalhe de forma harmônica, como estamos fazendo aqui; o que leva tempo, porque a cultura de segurança municipal é de isolamento; não de integração. Acho que o principal segredo é esse, que a segurança municipal assuma sua responsabilidade, que é o que está acontecendo aqui.
JC - Qual é a meta de redução de homicídios do Cabo de Santo Agostinho para os próximos anos?
PABLO DE CARVALHO - A mesma do Pacto Pela Vida (PPV), de 12% ao mês. Importante dizer que em julho, apesar do Cabo ainda ser um lugar muito violento, houve uma redução de 54% dos homicídios, de 22 para 10, em relação ao ano passado, e estamos reduzindo 27% de homicídios no ano; então, também há resultados positivos para mostrar.