Tristeza e ansiedade: os sentimentos que tomaram conta de quem cobriu a queda do Voo 115, há 30 anos na Zona Sul do Recife
Em 11 de novembro de 1991, um avião Bandeirante caiu em um praça no Ipsep cerca de 30 segundos após decolar do Aeroporto Internacional dos Guararapes
Há exatos 30 anos, quando a principal notícia do dia deveria ser uma manifestação realizada por trabalhadores do Porto do Recife, que cobravam a rápida apuração do assassinato de um arrumador do terminal, a jornalista Rosália Rangel, pouco após ter encerrado mais um dia de trabalho na redação do Jornal do Commercio, recebeu informações sobre uma notícia que jamais desejara dar: a queda de um avião bem próximo à sua casa, no bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife, matando 17 pessoas, entre elas duas que não estavam na aeronave. Horas após o acidente, a esposa de uma das vítimas também havia sido incluída entre os mortos. No dia seguinte, porém, a informação foi desmentida.
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“Como já morava nas proximidades do local onde ocorreu o acidente, lembro de, ainda no ônibus, um garoto correndo do lado do veículo gritando que um avião havia caído na praça. A parada do ônibus era próxima ao local. Fui até lá. Mas, como o acidente havia ocorrido há pouco tempo, havia muita gente, e os policiais não deixavam ninguém passar, até por conta do perigo de explosões”, relembra ela, que foi uma das responsáveis por cobrir o trágico acidente.
“O sentimento das pessoas que moravam perto da praça era de desespero, curiosidade, tristeza e muita agonia por ter vizinhos atingidos pela queda”, conta Rosália, afirmando que, no dia seguinte, na redação, o clima era bem parecido com o sentido na praça: “tristeza e ansiedade”.
‘Cenário de guerra’
Quem também relembra os bastidores daquela agoniante cobertura é o jornalista Rodrigo Barros, à época estagiário do JC. Assim como Rosália, ele já não estava na redação. Havia terminado seu expediente antes do acidente. Quando recebeu a notícia da queda do avião, Barros estava largando da faculdade.
“Eu soube do acidente, ainda na noite em que aconteceu, por uma coincidência: uma amiga que estava comigo e morava no Ipsep, perto do local da ocorrência, recebeu as primeiras informações por telefone. Comecei a pedir mais informações”, conta ele, explicando que apenas no dia seguinte foi ao local do desastre.
“[Quando cheguei lá,] o cheiro era forte, uma mistura de combustível com outros materiais. Tinha fumaça, destroços e muita gente, porque havia Bombeiros, Polícia Científica e outras forças de segurança. Era um cenário de guerra, mas precisei me ambientar rápido para conversar com as pessoas.”
As imagens da tragédia
Diferente de Rosália e Rodrigo, a jornalista Carmen Almeida estava na redação do JC no momento da queda do avião. “Não havia outro assunto na redação. Chocou todo mundo”, rememora ela. “Ficamos todos assustados e querendo informações”, completa Carmen, explicando que, assim como os colegas, apenas no outro dia foi até o local, mas o cenário ainda era devastador.
“São 30 anos, não lembro muito dos detalhes, mas o cheiro sim. Ficou na lembrança, era de querosene e mais outros cheiros, que acredito serem dos corpos, além de todo material da aviação e vizinhança”, afirma ela.
“Quando cheguei na praça senti tristeza, os vestígios do acidente, a vizinhança triste com as mortes, as outras crianças, segundo contaram os vizinhos, ficaram chocadas”, conclui.
‘Quando lembro disso, me arrepio’
Atual diretor de redação do JC, o jornalista Laurindo Ferreira foi um dos primeiros repórteres a chegar na praça onde caiu o Bandeirante, prefixo PT-SCU, que fazia o Voo 115 da Nordeste Linhas Aéreas. À época, Ferreira escrevia para a revista Veja e estava na sucursal da publicação no bairro de São José, Centro do Recife, quando soube do acidente.
“Ouvimos a notícia pelo rádio e saímos correndo, eu e um repórter fotográfico. Quando chegamos lá, aquela cena me impactou. A primeira coisa que vi foi um corpo de uma mulher grávida com a mão sobre a barriga, talvez, na tentativa de proteger o bebê. Quando lembro disso, me arrepio”, diz Laurindo, lembrando que na sua chegada ainda era possível ver as chamas e fumaças saindo dos corpos.
Quem também participou da cobertura foi a jornalista do JC Angela Fernanda Belfort, que à época trabalhava como correspondente da Folha de S.Paulo na capital pernambucana. Ela relembra as cenas daquele dia e define como as “mais tristes” que viu na vida.
“Eu estava esperando somente o Jornal Nacional acabar para largar. No entanto, a última frase do apresentador do JN foi: acabou de cair um avião, no Bairro de Ipsep, no Recife. Fui com um taxista ao local, estava tudo escuro devido à falta de energia. Ao se aproximar do local, o cheiro das pessoas queimadas ficava mais forte”, relembra ela. “Foi uma das cenas mais tristes que vi na vida: tudo carbonizado. O cheiro das pessoas queimadas era insuportável, muito triste e apontava para o tamanho da tragédia”, completa.