Voo 115: 30 anos depois de acidente aéreo no Ipsep, Zona Sul do Recife, tecnologia garante mais segurança em aviões
Três décadas após o desastre, especialistas em ciências aeronáuticas continuam apontando o erro humano como fator de influência em quase todos os acidentes aéreos
Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), falhas humanas, mecânicas e de treinamento contribuíram para a queda de um avião Bandeirante, em uma praça do bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife, há 30 anos, em 11 de novembro de 1991.
O acidente vitimou 17 pessoas, entre elas duas que não estavam na aeronave: um idoso e uma criança. Horas após o acidente, a esposa de uma das vítimas também havia sido incluída entre os mortos. No dia seguinte, porém, a informação foi desmentida.
- Voo 115: os 30 anos do acidente aéreo que matou 17 pessoas no Ipsep e chocou Pernambuco
- Tristeza e ansiedade: os sentimentos que tomaram conta de quem cobriu a queda do Voo 115, há 30 anos na Zona Sul do Recife
- Voo 115: Trinta anos após queda de avião no Ipsep, relembre acidentes aéreos que marcaram a história de Pernambuco
Três décadas após o desastre, especialistas em ciências aeronáuticas continuam apontando o erro humano (seja do piloto, copiloto, controlador de tráfego aéreo ou do responsável pela manutenção) como fator de influência em quase todos os acidentes aéreos.
As imagens da tragédia no Ipsep
“Mesmo atualmente, dificilmente você terá algum caso em que o fator humano não tenha sido decisivo. Os controles de produção de uma aeronave são muito rígidos, então, hoje, é muito raro ser um fator material a causa de uma queda”, afirma o especialista em ciências aeronáuticas, com mais vasta experiência como gerente de aeroportos, Adilson Paradella.
Por outro lado, ele lembra que avanços significativos foram registrados na área da aviação nos últimos 30 anos, o que contribuiu para uma intensa redução no número de tragédias aéreas. “Se compararmos o número de acidentes aéreos na década de 1990 com o quantitativo atual, veremos uma drástica diminuição. Isso porque a tecnologia está dentro das cabines dos aviões hoje, se tornando uma grande aliada da aviação”, pontua.
Atualmente, as chances de um avião cair, principalmente em voos comerciais, são mínimas. A Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) calcula que acontecem 5,2 milhões de voos seguros para cada acidente. De acordo com as estatísticas, seria possível viajar todos os dias durante mais de 20 mil anos sem nunca sofrer um acidente aéreo fatal.
“Hoje em dia, a aviação é totalmente diferente do que era há 30 anos. Por exemplo, toda parte de gerenciamento de voo é online. Com isso, é possível que fabricantes de motores de aviões identifiquem problemas mesmo após a aeronave estar toda montada e bem distante da fábrica”, diz Paradella.
Confira a entrevista completa
Quais eram as principais características de um avião Bandeirante há 30 anos, quando ocorreu o acidente no bairro do Ipsep?
Há três décadas, os Bandeirantes eram completamente analógicos, não tinham os recursos tecnológicos que temos hoje. Na verdade, toda a aviação era muito analógica naquela época. Quase tudo que hoje é feito por um software, tínhamos que fazer na mão, no lápis. Ou seja, os aviões, principalmente os Bandeirantes, eram 100% analógicos, com quase nenhum recurso tecnológico. Mas isso não indicava insegurança ou motivo para queda de aviões.
O que, de fato, mudou na aviação da década de 1990 até hoje? Quais foram os principais avanços tecnológicos, sobretudo em relação à segurança das aeronaves?
Hoje em dia, a aviação é totalmente diferente do que era há 30 anos. Por exemplo, toda parte de gerenciamento de voo é online. Com isso, é possível que fabricantes de motores de aviões identifiquem problemas mesmo após a aeronave estar toda montada e bem distante da fábrica. A empresa observa na telemetria um problema no motor, liga para a companhia aérea e informa a situação. A partir daí suspendem o uso do avião até corrigirem o problema. É uma mudança radical em termos de acompanhamento. Isso é percebido no cotidiano. Se compararmos o número de acidentes aéreos na década de 1990 com o quantitativo atual, veremos uma drástica diminuição. Isso porque a tecnologia está dentro das cabines dos aviões hoje, se tornando uma grande aliada da aviação.
Então, a tecnologia tem sido preponderante para evitar acidentes, como o que envolveu o Bandeirante da Nordeste Linhas Aéreas?
Com certeza. Ela se tornou aliada de verdade da aviação. Além disso, na aviação, nada é por acaso. Tudo é muito estudado. Para se ter uma ideia, a Embraer está desenvolvendo um avião de menor porte no modelo turboélice, que tem uma turbina traseira a fim de que, no futuro, seja usado hidrogênio nele. Então, vemos como a tecnologia é fantástica e tem ajudado a aviação. Neste mesmo avião, há sistemas projetados para identificar fissuras e rachaduras na fuselagem. É a garantia de mais segurança. Se a gente tivesse uma tecnologia dessa há 30 anos, muito provavelmente, não haveria vítimas por causa desse acidente no Ipsep, porque o avião sequer sairia do aeroporto, o sistema logo iria apontar a falha.
Diante do que você falou, podemos ver que, com a ajuda da tecnologia, os acidentes aéreos diminuíram, mas não acabaram. Então, quais são os principais fatores que causam as tragédias, erro humano?
São fatores humanos e falhas mecânicas, que englobam falhas estruturais em algum ponto da aeronave. Entre os fatores humanos, há erros de leitura dos comandantes, como, por exemplo, aquele acidente de Eduardo Campos. Ali, houve uma leitura equivocada do piloto, que fez um procedimento não recomendado, o que acabou resultando na tragédia. Mesmo atualmente, dificilmente você terá algum caso em que o fator humano não tenha sido decisivo. Os controles de produção de uma aeronave são muito rígidos, então, hoje, é muito raro ser um fator material a causa de uma queda. Em outros casos, a experiência do piloto é crucial para impedir que desastres aconteçam. A tecnologia é importantíssima, mas o fator humano ainda é e sempre será essencial para evitar acidentes.
Testemunhas dizem que a tripulação conseguiu diminuir o tamanho da tragédia, que poderia ter matado mais pessoas. A experiência foi importante?
Sem dúvidas. Eles conseguiram desviar de prédios onde viviam mais de 1 mil famílias. Tem que ter experiência para isso, para sustentar um avião em queda pelo máximo que der. Se eles tivessem ajuda da tecnologia na época, a história poderia ter sido outra.