Sob risco de extinção, 34.489 filhotes de cavalos-marinhos são soltos em estuários do litoral pernambucano
Os filhotes são criados em cativeiros por reprodução natural
Cerca de 34.489 filhotes de cavalos-marinho, da espécie Hippocampus reidi, foram soltos em estuários de Suape, no Cabo de Santo Agostinho, e em Maracaípe, no município de Ipojuca, ambos no Grande Recife. A ação faz parte do projeto Hippocampus, focado na preservação de cavalos-marinhos, apoiado pelo Complexo Portuário de Suape, e acontece desde agosto de 2020.
Sob risco de extinção, os animais são reproduzidos em laboratório, de forma natural, e soltos pela equipe em regiões de estuário. As gestações duram entre 12 e 15 dias.
Os casais reprodutores também são resgatados das localidades. Segundo a bióloga Rosane Silveira, do total de filhotes, 80% foram introduzidos no estuário do Rio Maracaípe e 20% nos cursos do Massangana e Ipojuca.
“Essa é uma prática modesta, os animais nascem e, no dia seguinte, soltamos. Quanto menores, maiores as chances de sobrevivência eles tem. Toda a pesquisa é feita manualmente para medir, pegar os dados dos filhotes e adultos”, explica a bióloga.
A espécie possui características de mudança de cor de acordo com o ambiente e pode chegar a média de 15 centímetros na fase adulta. De acordo com Silveira, a taxa de sobrevivência natural é baixa, ela estima que cerca de 1% dos filhotes sobrevivam.
“O mais difícil é o cultivo desses animais, pois implica em uma série de fatores. Os Hippocampus de Maracaípe, por exemplo, estão muito mais ameaçados devido ao turismo. Montamos essas ações para garantir a sobrevivência da espécie até que o poder público resolva atuar e fazer a proteção”, declara a líder do projeto.
Preservação de ecossistemas
Assim como outras espécies que passam pelo estuário, os cavalos-marinhos também fazem parte do ecossistema aquático e integram a cadeia alimentar. Em caso de extinção das espécies, todo o ambiente pode sofrer. “Temos que achar um ponto de equilíbrio entre a preservação e o turismo, não condenamos as pessoas que fazem esse trabalho. O poder público precisa agir”, defende Rosana.
O diretor de meio ambiente e sustentabilidade de Suape, Carlos Cavalcanti, defende a iniciativa de preservação e diz que o tema é “prioridade máxima” do complexo. “Para Suape é fundamental os indicadores de preservação ambiental. É muito importante para mostrarmos que as operações realizadas com embarcações tenham qualidade ambiental. Com isso, conseguimos trazer a estrutura dos laboratórios do Hippocampus para dentro das instalações”, afirmou.
O convênio do complexo com o projeto de pesquisa tem prazo de encerramento para janeiro de 2022, mas, segundo o diretor, ele deve ser renovado. Segundo Carlos Cavalcanti, a expectativa é que sejam investidos cerca de 20 milhões. “O passo seguinte é tentar ampliar a participação de outras empresas que queiram apoiar esse projeto que ele tinha quando estava em porto. Pretendemos instalar o centro de visitação do Hippocampus para que possamos abrir o espaço para turistas e moradores locais. Além do laboratório e aquários, a ideia é criar um centro com gastronomia local, espaço cultural, apetrechos de pesca, área para convivência”, informou.
Projeto Hippocampus
Originário de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o projeto Hippocampus é uma Organização Não Governamental que trabalha há 26 anos com a conservação dos cavalos-marinhos. Há 21 anos no município do Ipojuca, litoral de Pernambuco, o Instituto trabalha em parceria com as universidades: UFPE, UFRPE, UEFS-BA, UFS, USBA, UNESP, UNISANTA, órgãos ambientais municipais, estaduais e federais, sendo membro da União Internacional para a Conservação da Natureza-IUCN.
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Na sede em Pernambuco, o espaço contava com laboratório de pesquisa e centro de visitação, no qual recebia turistas e interessados para verem os cavalos-marinhos. No entanto, em 2020 o local fechou. “Atualmente, estamos funcionando em uma sala, só com laboratório no Complexo de Suape. Tivemos que fechar a nossa sede de visitação, tínhamos mais de 30 aquários. Tudo por causa da falta de apoio público”, afirmou a bióloga.
Procurada pelo JC, a prefeitura de Ipojuca disse que o projeto não faz mais parte das ações de preservações ambientais do município, mas que existem outros meios de monitoramento de cavalos-marinhos. Até o momento, não foram informados quais os métodos usados.