POLÍCIA

MPPE investiga envenenamento de pelo menos dez gatos em Caruaru, no Agreste de Pernambuco

Caso aconteceu no bairro do Riachão. O crime de maus-tratos contra animais prevê detenção de três meses a cinco anos de reclusão

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Katarina Moraes

Publicado em 08/02/2022 às 14:31 | Atualizado em 08/02/2022 às 15:32
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Com informações da TV Jornal Caruaru

O medo paira sobre os tutores de gatos que vivem no bairro do Riachão, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Isso porque, do último domingo (6) até esta terça (8), cerca de 10 felinos foram envenenados e mortos na região - o que fez com que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da cidade, abrisse um procedimento administrativo sobre proteção dos animais, com o intuito de apurar as denúncias de maus-tratos na localidade.

O problema já se estende há, pelo menos, cinco anos. Com medo de que alguma crueldade acontecesse com os seus gatos, a dona de casa Maria José Gomes, de 34 anos, instalou telas por todo o quintal, impedindo as saídas dos animais; mas na última sexta-feira (4), as irmãs “Sapeca” e "Branquinha” conseguiram escapar de casa. “Elas subiram no telhado, eu chamei e coloquei para dentro, mas já estavam envenenadas”, contou.

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Por volta das 23h, ouviu Sapeca emitir um som incomum, e a viu se debatendo. “Não deu tempo de socorrer”, disse Maria, que chora só em ver a foto da gata. Às 3h, foi a vez de Branquinha apresentar sintomas. “Ela estava toda se tremendo e babando, mas eu consegui salvá-la, porque o veterinário veio correndo. Ele a medicou e a deixou no soro. Graças a Deus ela ficou bem. Gastei entre R$ 500 a R$ 600 com o tratamento."

A vizinha, a operadora de caixa Renata Veruska, 40, havia tido um de seus gatos envenenados há mais ou menos cinco anos. Por isso, ela tinha decidido não adotar mais animais, “mas quem gosta de bicho termina criando”, disse. Até semana passada, ela tinha quatro felinos em casa e cuidava de mais dois que vivam nas ruas - um deles também morto por substâncias tóxicas. “Ele ficava se debatendo, como se fosse desmaiar. A gente fez os primeiros socorros e quando íamos levar para o veterinário, ele morreu. “É muito difícil. Meu marido adoeceu por conta disso. Sinto-me impotente. Eu fico com medo”, relatou.

CORTESIA
Sapeca tinha apenas dois anos quando foi envenenada - CORTESIA

A crueldade contra animais é um crime ainda subnotificado, mesmo que preveja detenção de três meses a um ano, além de multa a quem cometê-lo, aumentando para 2 a 5 anos de reclusão, multa e proibição da guarda caso se trate de cão ou gato. A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) informou que em 2020 foram registradas 292 ocorrências a respeito de crueldade contra animais em Pernambuco. Em 2021, foram 288. Especificamente em Caruaru, computaram-se 11 ocorrências desse tipo de crime em 2020. No ano seguinte, foram 16.

A Comissão de Defesa Animal da Ordem de Advogados do Brasil em Caruaru (OAB) demonstrou preocupação com a incidência de maus-tratos contra animais na cidade. "Uma pessoa que pratica esse tipo de crime é plenamente capaz de ser presa por causa disso", assegurou a advogada Lorena Geovana, integrante da Comissão.

A frequência com que os crimes têm ocorrido na localidade - segundo Renata, foram quatro gatos envenenados entre a sexta e o último sábado - fez com que a população pedisse socorro ao presidente da Comissão Permanente dos Direitos dos Animais da Câmara Municipal caruaruense, o vereador Anderson Correia (PP), solicitando ações do parlamentar. Do local, ele gravou vídeos para as redes sociais informando que irá instalar câmeras na rua para identificar os responsáveis “por essa barbárie”. “Não podemos aceitar isso, pois quem envenena um animal, pode fazer isso com um ser humano. Precisamos colocar quem fez isso atrás das grades, por meios legais, e vamos fazer isso com um procedimento na delegacia”, defendeu.

O médico-veterinário Luis Gustavo Fonseca recomenda que os tutores tenham carvão vegetal ativado em casa para ministrar ao animal como medida emergencial caso ele seja envenenado. "Deve ser misturado na água e administrado direto na boca. Vai aliviar um pouco, diminuir a absorção do veneno, mas é apenas um auxiliar. Caso aconteça, o tutor deve correr para uma clínica ou chamar um veterinário", orientou. Como precaução, ele indica que os animais não tenham acesso a rua.

Outros casos

No Recife, um emblemático caso de maus-tratos contra animais ganhou repercussão no último ano. O estudante Pedro Fernandes Leal, de 23 anos, foi denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) após ter sido flagrado por câmeras de segurança torturando e matando cinco gatos na famosa "Praça dos Gatos", na Avenida Beira Rio, no bairro da Torre. Atualmente, ele está sendo julgado pela 1ª Vara de Crimes da Capital do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

Em janeiro de 2022, um cachorro foi encontrado com sinais de queimadura próximo a um museu de veículos em Triunfo, no Sertão de Pernambuco. De acordo com a ONG 'Amigos de 4 Patas', o animal teria sido amarrado pelas patas e, em seguida, foi colocado dentro de uma caixa de metal para ser queimado. O cachorro não resistiu às queimaduras e morreu.

O crime de maus-tratos contra os animais pode ser denunciado em qualquer delegacia de Polícia Civil do Estado.

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