DESABAMENTO

Defesa Civil havia determinado paralisação da obra dias antes de desabar e matar homem na Zona Oeste do Recife

Prefeitura do Recife identificou a obra na última semana, quando passavam pela rua, e pediram a licença de construção, que não foi entregue

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Katarina Moraes

Publicado em 21/04/2022 às 13:42 | Atualizado em 21/04/2022 às 15:17
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A secretária Executiva de Controle Urbano do Recife, Marta Lima, informou à reportagem da TV Jornal nesta quinta-feira (21) que a Defesa Civil da cidade já havia determinado a paralisação da obra - que não tinha autorização para acontecer - em imóvel cuja laje desabou e matou um homem nessa quarta-feira (20). 

Segundo ela, equipes da Prefeitura do Recife identificaram a obra na última semana, quando passavam pela rua, e pediram a licença de construção, que não foi entregue. Um dia depois, voltaram ao local e notificaram a paralisação imediata. Mesmo assim, o trabalho continuou, até o acidente acontecer.

"Quando se faz isso, a pessoa tem que comparecer à regional para levar a documentação, mas não compareceu. Essa é uma área que não tem no cadastro imobiliário, [então] é difícil identificar o responsável dessa obra para fazer uma ação judicial. Mesmo sem identificar, demos entrada no embargo da obra", disse Marta.

Então, nessa quarta, o ajudante de pedreiro Marcos de Lima, de 43 anos, foi atingido pela estrutura por volta das 17h30 na Rua Catuíra, na Vila de Santa Luzia. Ele trabalhava na construção do imóvel, que começou em novembro e já atingia o segundo andar. Outro colega dele sofreu escoriações.

Horas depois, seis imóveis da rua foram interditados. O cuja laje desabou será demolido. Por isso, para analisar o que será preciso, uma empresa privada especializada no serviço foi ao local na manhã desta quinta-feira (21).

A gerente geral de engenharia da Defesa Civil, Elaine Hawson, explicou que a demolição será feita manualmente e o mais rápido possível para que as famílias desalojadas possam retornar às suas casas.

"Nós estamos fazendo a vistoria para avaliar o que vai ser necessário para que a demolição seja feita. Ela vai precisar ser feita com muito cuidado e de forma criteriosa para evitar que mais acidentes ocorram aqui. Estamos aguardando equipe da Neoenergia, que vai precisar intervir para iniciarmos", disse.

A partir do relato de vizinhos, a Defesa Civil tomou conhecimento do nome do dono do imóvel, e verificou, pelo sistema, que ele não tinha licença para fazer a obra. "A partir disso o localizamos para fazer o processo judicial", afirmou Marta.

Nesta quinta, destroços do acidente e parte da placa de concreto que atingiu a vítima ainda estavam na rua. Pedaços da moto do trabalhador e a sandália dele estavam entre os escombros.

A Defesa Civil contou que as famílias desalojadas foram orientadas sobre a necessidade das interdições e concordaram em se transferir temporariamente para a casa de amigos e parentes. Ainda, disse ter concedido auxílio-funeral para a família da vítima e colchões para quem solicitou.

Vizinhos já haviam alertado proprietário

Cícero José, que é pedreiro e também teve a casa interditada por conta dos riscos de desabamento, disse que os funcionários da obra trabalhavam sem proteção e que o proprietário do imóvel tem outras construções irregulares no bairro. "Faz 22 anos que moro aqui, e desde lá ele já faz essas obras. Não tem fiscalização. Todo mundo avisava a ele que iria cair."

Outra casa interditada foi a de Maria Aparecida. Apesar de não querer gravar entrevista, a filha dela contou que a mãe teve que dormir na casa de familiares. Segundo ela, o dono do imóvel já havia sido informado pelos próprios vizinhos sobre o risco da construção.

Outra moradora, que também preferiu não ser identificada, também reclamou sobre as obras. "Vários prédios aqui são construções irregulares, inclusive um na esquina, que fica próximo a minha casa. Meu medo é que, quando chove, por não ser rebocado, os pedaços ficam caindo", contou.

Cuidado com edificações

A engenheira civil Liliane Maranhão aponta que diversos fatores podem causar dano nas construções, desde falta de manutenção, até a ausência de projetos elaborados por uma empresa com profissionais habilitados, o não cumprimento das normas exigidas pelos órgãos competentes ou o uso de materiais inadequados nas obras de recuperação desses locais.

“Existem muitas estruturas comprometidas pela cidade, sobretudo nos imóveis mais antigos que apresentam fissuras, infiltrações e corrosão nas armaduras (ferragens). Todos esses sinais indicam que está na hora de fazer o reparo dessa edificação”, aponta. 

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