TRAGÉDIA

LUTO APÓS TEMPORAL: em enterro, parentes e amigos se despedem de vítimas da tragédia por chuvas em Pernambuco

Em Pernambuco, além dos 91 óbitos confirmados, estão aproximadamente 5 mil desabrigados

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Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 30/05/2022 às 16:05 | Atualizado em 30/05/2022 às 16:33
Análise
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No Cemitério do Barro, bairro de mesmo nome na Zona Oeste da capital pernambucana, famílias vivem o luto após terem perdido parentes e amigos vítimas dos deslizamentos de barreiras causados pelas chuvas no Grande Recife. Moradores da região e autoridades ainda relatam que há pessoas soterradas e desaparecidas.

No balanço oficial do governo de Pernambuco, além dos 91 óbitos confirmados de pessoas vítimas dessa tragédia anunciada, estão aproximadamente 5 mil desabrigados e pelo menos 26 desaparecidos.

Com a continuidade das chuvas, o solo está bastante encharcado. Por isso, ainda existe alto risco de novos deslizamentos nas áreas mais afetadas, como na Rua dos Milagres, no Barro. O bairro faz limite com Tejipió, Jardim São Paulo, Areias e Ibura - este também bastante afetado pelo temporal, que soterrou casas e causou dezenas de óbitos. 

Na manhã desta segunda-feira (30), em frente ao cemitério, após enterrar o corpo do filho, a dona de casa Rita Hilário da Silva, 80 anos, deixava transparecer a dor do luto pela catástrofe. Ela perdeu, no sábado (28), o filho Otávio de Oliveira, 49 anos, que trabalhava com reciclagem de garrafas pet.

"Eu não estava com ele (na hora do deslizamento) porque moro em outra casa. Às 22h da sexta, ele ligou preocupado com a esposa que não tinha chegado. Ele sempre ia para minha casa. Mas naquele dia, ele não foi porque estava esperando a mulher, que só chegou na tarde do sábado. E de manhã aconteceu (casa soterrada). É terrível; tenho nem palavras para explicar." 

A tristeza de Rita ainda é maior porque, há cinco meses, ele também perdeu outro filho, por complicações da cirrose. "Imagine como uma mãe se sente nesta situação. Eu nunca pensei em enterrar meu filhos. Eu ainda dei conselho (a Otávio), pedindo para ele sair daquela casa. Mas ele falou que não estava em perigo porque a barreira era longa. Mas aí o perigo chegou e não avisou. Muitas casas caíram." 

Os filhos que Otávio deixa moram com a mãe, a dona de casa Cleonice da Silva, com quem não era mais casado. O mais velho, de 17 anos, Ezequiel Anunciação, acompanhou o sepultamento e ainda recordou momentos recentes com o pai. "Segunda-feira passada eu o vi trabalhando na reciclagem; chega estava alegre." 

Também em frente ao Cemitério do Barro, à espera dos corpos de parentes que moravam em Jardim Monteverde (comunidade do Ibura, Zona Sul do Recife, que registrou o maior número de vítimas na tragédia provocada pelas últimas fortes chuva), o marceneiro André Cândido, 45 anos, relata a perda de entes queridos. Ele é tio de um rapaz que perdeu a esposa e dois filhos pequenas. 

"Estou sentindo uma dor muito grande, até insuportável. Infelizmente, com uma tragédia desta, o sentimento é de frustração. O meu sobrinho está à base de medicamentos (para se acalmar), e a mãe dele (avó das crianças que morreram) está sem condições de vir ao enterro. A família está arrasada com esta tragédia", conta André. 

Balanço das chuvas

Cerca de cinco mil pessoas estão desabrigadas por causa das consequências das chuvas que têm atingido o Estado desde a sexta-feira (28), segundo balanço divulgado pela Central de Operações da Codecipe na manhã desta segunda-feira (30).

De acordo com informações da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), apesar da redução no volume, as precipitações devem continuar, com intensidade moderada, até a próxima sexta-feira (03), na Região Metropolitana do Recife e na Zona da Mata, diminuindo no fim de semana no litoral pernambucano.

A Defesa Civil do Estado reforçou, nesta manhã de segunda-feira (30), o alerta sobre o alto risco de deslizamentos, uma vez que o solo já está bastante encharcado. Os maiores acumulados nas últimas 24 horas foram registrados nos municípios de Olinda (60 mm), Paulista (57 mm), Itapissuma (53 mm) e Recife (52 mm).

A situação dos rios, porém, permanece estável. O nível de acúmulo nos pontos monitorados, sobre os quais foram emitidos avisos de alerta ou inundação já desceram ou estabilizaram, não havendo mais necessidade de aviso hidrológico.

A Apac informou ainda que o Sistema de Contenção de Cheias do rio Capibaribe – composto pelas barragens de Jucazinho (Surubim), Carpina (Lagoa do Carro), Tapacurá (São Lourenço da Mata) e Goitá (Paudalho) – continua sendo monitorado pelas equipes técnicas. A situação dos reservatórios, esta manhã, é a seguinte: Carpina (16,50 %); Goitá (70,90 %); Jucazinho (15,33 %) e Tapacurá (69,20 %).

Até o momento, não há risco que motive a abertura de comportas nessas barragens e, caso haja necessidade, a Defesa Civil avisará a população com antecedência.

 

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