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Conexão Saúde: desequilíbrios afetam a saúde do cérebro

Alimentos industrializados, sedentarismo, distúrbios do sono e isolamento social estão entre as causas da deterioração precoce do órgão

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Publicado em 30/08/2022 às 7:13
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ATIVIDADES Após exercícios constantes, a auditora fiscal aposentada Socorro Perrelli, de 77 anos, sente mais segurança para executar tarefas do dia a dia e o raciocínio mais ágil e criativo - FOTO: GABRIEL FERREIRA/JC IMAGEM
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Há alguns anos se discute o aumento da população idosa no Brasil e no mundo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de idosos chegou a 32,9 milhões em 2019 e a tendência é que esse volume continue aumentando: a quantidade de pessoas idosas já é maior do que a de crianças no País.

Não só a população idosa tem crescido, como a expectativa de vida também: em 2020, também segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro era de 76,8 anos, uma alta de dois meses e 26 dias em relação ao ano anterior (76,6). Mas será que a nossa qualidade de vida acompanha esse crescimento?

A médica clínica geral e homeopata com formação em medicina ortomolecular Diana Campos responde: “Estamos vivendo mais, sim, no entanto, em contrapartida, os últimos 20 anos de vida das pessoas são acompanhados de doenças crônicas desencadeadas quando o corpo está em desequilíbrio e o cérebro é um dos órgãos mais afetados”.

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A Dra. Diana Campos reforça a importância de uma rotina saudável para a saúde do cérebro - DIVULGAÇÃO

O consumo de alimentos industrializados, a falta de uma rotina de atividades físicas, não dormir bem e o isolamento social estão entre as principais causas da deterioração precoce do órgão. “O nosso cérebro precisa de oxigênio e de nutrientes para seu pleno funcionamento. A falta de uma rotina saudável faz com que ele se deteriore mais rapidamente, apressando esse processo fisiológico que piora com o avanço da idade”, explica a homeopata.

Segundo Diana, tudo tem início na inflamação do corpo, que desencadeia o envelhecimento precoce das células e dos vasos, trazendo como consequência doenças a exemplo de trombose, pressão alta, doenças cardíacas e osteoporose. “O nosso intestino está diretamente conectado ao nosso cérebro, então, muitas vezes, questões que, a princípio, são neurológicas, têm relação com desequilíbrio intestinal. Por isso que iniciamos a avaliação do paciente pelo intestino”, finaliza Diana.

Uma alimentação balanceada tem a capacidade de promover saúde e bem-estar para o corpo e a mente, pois tem participação direta nas atividades neuronais e sinápticas. A nutricionista clínica e hospitalar Aline Polesi esclarece como esse processo nervoso se dá.

“Os aminoácidos das proteínas que comemos constroem os nossos neurônios, as gorduras e seus ácidos graxos mantêm os neurônios flexíveis e responsivos, a glicose dos carboidratos provê a energia para que nossas sinapses funcionem e até mesmo as fibras que comemos alimentam nossa microbiota, responsável pela produção de grande parte dos nossos neurotransmissores, cuja função é regular o ritmo cardíaco, sono, apetite, sensação de prazer e felicidade”, explica Aline.

Dessa forma, alimentos inflamatórios são altamente prejudiciais à saúde cerebral, pois podem causar perda de neurônios e vários outros sintomas, como irritabilidade, insônia, agitação, depressão, ansiedade, falta de concentração, piora nos sintomas de fibromialgia e crises de enxaqueca. “O ideal é que as pessoas evitem adoçantes à base de aspartame, alimentos de alto índice glicêmico, o conservante ácido benzoico, que está presente em quase todos os industrializados, e excesso de gorduras saturadas”, alerta a médica.

Por isso, para termos uma capacidade cognitiva mais eficaz, será preciso garantir o abastecimento constante de alguns nutrientes. “Entre eles estão ácido graxo ômega 3, ácido fólico, vitamina C e vitamina E, ambas com forte ação antioxidante, e os fosfolipídios. Sementes, grãos e folhas verdes são ricos ainda em outro grupo importantíssimo: os sais minerais, como o zinco, selênio, ferro e fósforo, que são fundamentais para que o sistema nervoso se comunique adequadamente. Eles ainda ajudam você a tirar o melhor da sua memória, cognição e capacidade de se manter focado”, destaca a nutricionista.

A jornalista mineira Ariana Coimbra sentiu os benefícios da boa rotina alimentar na prática. Diagnosticada com transtorno afetivo bipolar e transtorno de ansiedade generalizada há 10 anos, começou a praticar exercícios físicos regularmente e fez reeducação alimentar há dois anos, o que melhorou muito a sua qualidade de vida.

“A terapia me ajudou a entender sentimentos e emoções, no entanto o que mais têm me ajudado são as atividades físicas e a mudança na alimentação, aliadas aos medicamentos prescritos. Hoje, tenho mais energia física para executar atividades rotineiras que antes eu não conseguia, devido ao desânimo e cansaço. Também sofria muito com a falta de concentração em aulas, taquicardia, sudorese e dores de cabeça”, relata Ariana.

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A auditora fiscal aposentada Socorro Perrelli, 77 anos, recorreu aos exercícios quando começou a sentir dificuldade de concentração e memorização - GABRIEL FERREIRA/JC IMAGEM

Atividades intelectuais para ter atenção e boa memória

Exercícios são tão importantes para o cérebro quanto uma boa alimentação. “As atividades físicas têm um potente efeito de liberação de hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar e prazer. Estudos mostram claramente a relação entre pessoas com disfunções cerebrais e a falta ou baixa dopamina”, explica o profissional de educação física e CEO da Clínica Pro Saúde e Performance, Michael Douglas Fernandes.

Essa liberação de hormônios faz o balanço da saúde cerebral com o bom funcionamento dos outros sistemas do corpo. “Durante a prática da atividade, vão se criando adaptações das sinapses e a capacidade de processamento, envio e recebimento de sinais elétricos são feitos com maior eficiência, evitando enfermidades de cunho cerebral, como o Alzheimer e a depressão e melhorando a atividade cerebral, com o aumento do foco, concentração e memória”, ressalta.

Foi aos exercícios que a auditora fiscal aposentada Socorro Perrelli, 77 anos, recorreu quando começou a sentir dificuldade de concentração e memorização. “Percebi que assistia a um filme e depois não conseguia me lembrar do enredo ou do nome ou lia um livro e precisava voltar a página para ler novamente”, explica ela, que buscou o auxílio das atividades intelectuais.

Depois de três anos realizando exercícios mentais com constância, Socorro sente mais segurança para executar tarefas do dia a dia e o raciocínio mais ágil e criativo. “Logo depois do falecimento do meu marido, fiquei muito reclusa e não saia muito. Hoje, tenho a satisfação de me desafiar e conseguir realizar tarefas que antes achava que não conseguiria”, conta a aposentada.

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Socorro já sente mais segurança para executar tarefas do dia a dia e o raciocínio mais ágil e criativo - GABRIEL FERREIRA/JC IMAGEM

A neuropsicopedagoga e gestora do Supera Boa Viagem, Andrea Negreiros, explica que os exercícios estimulam o cérebro a produzir, de maneira biológica, importantes substâncias para o seu funcionamento. “As degenerações são naturais do cérebro, com o passar da idade. Assim, precisamos manter as células neuronais ativas, robustas e fortalecidas para que essas degenerações ocorram de forma mais gradativa”.

Andrea ainda complementa: “A partir dos 25 anos, já começamos a perceber perdas cognitivas. Qualquer pessoa vai ser beneficiada ao exercitar o cérebro, não importa a idade. A prática garante uma melhor qualidade de vida e o envelhecimento saudável”.

Para isso, as tarefas precisam ser variadas e apresentar um grau de dificuldade crescente. Jogos estratégicos e de raciocínio lógico, além de leituras críticas, ajudam a manter as conexões cerebrais ativas. “Jogos de tabuleiro, exercícios cognitivos, como sudoku e palavras cruzadas, e o ábaco são ótimos para treinar atenção, concentração, memória e pensamentos estratégicos. Na rotina, podemos exercitar nosso cérebro fazendo anotações à mão e traçando diferentes rotas para chegar ao trabalho. Dessa forma, o estamos desafiando a criar outras soluções e tirando o nosso pensamento do automático”, explica a psicopedagoga.

Ela ressalta que, para manter o cérebro saudável é necessário, além de executar novas atividades, aumentar, gradativamente, o grau de dificuldade do exercício. “Não adianta fazer palavras cruzadas há bastante tempo se você está sempre no nível intermediário, por exemplo. O cérebro gosta de novidades, então para desafiá-lo, tem que apresentar algo diferente do que ele já conhece, para que busque estratégicas de solução diferente das anteriores”, finaliza.

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