O Instituto Senai de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs) implementará uma rede de monitoramento e de prevenção a desastres causados pelas chuvas em uma comunidade vulnerável do Recife. Está prevista a instalação de um amplo sistema de sensores, que alertará sobre a possibilidade de deslizamentos de terra.
A localidade será escolhida ainda na próxima semana, junto à Defesa Civil da cidade, e já deve receber intervenções físicas em meados de março ou abril. Segundo o pesquisador líder do instituto e coordenador técnico do projeto, Ricardo Brazileiro, as comunidades da Zona Sul, as mais afetadas em 2022, estão entre as principais cotadas.
“Onde aconteceram os principais acidentes são prioridades. Jardim Monte Verde, por exemplo, precisa de um olhar atento. Esperamos que antes de maio, quando as chuvas começam a apertar mais, já estejamos preparados para entregar o serviço experimental e acompanhá-las junto à Defesa Civil”, afirmou.
O projeto foi aprovado em primeiro lugar no edital lançado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) no último mês de julho e receberá R$ 800 mil para sua execução, iniciada em novembro de 2022. Quando finalizado, o sistema será gerido junto à Prefeitura do Recife.
São 22 profissionais envolvidos, entre estudantes e pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, empresa parceira TPF Engenharia e o laboratório francês SERTIT (sigla em francês para Serviço Regional de Processamento de Imagens e Sensoriamento Remoto).
Inicialmente, será adotada a metodologia da cartografia rápida, que faz uso de imagens de satélites para apoiar o gerenciamento de desastres. A proposta também inclui a fabricação de um drone customizado, que possa voar por até 1h durante chuvas leves para avaliar áreas de risco, coletar dados para ajudar na tomada de decisões e localizar potenciais vítimas soterradas por meio de uma câmera termal.
Por fim, haverá a instalação de uma rede de sensores em áreas de morros, para avaliar aspectos como umidade e movimentação do solo. “A plataforma vai interpretar as camadas do solo da região, mostrando se está vulnerável, com a umidade elevada ou se se movimentou. Faremos um acompanhamento sistemático e, se houver perigo, vamos emitir um alerta”, disse Brazileiro.
Diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI-PE, Oziel Alves reforçou que a proposta do ISI-TICs é atuar de forma transversal, promovendo a articulação entre as instituições envolvidas e as próprias comunidades que participarão dessa pesquisa aplicada.
“Nesse cenário, o instituto assume a missão de utilizar a inovação como um vetor para a transformação social, construindo parcerias e propondo soluções que possam ser efetivamente utilizadas pela sociedade”, enfatizou.
O orçamento previsto engloba apenas uma comunidade para receber as melhorias; mas a intenção é, ao fim do estudo, apresentar uma proposta de expansão para todo o Estado.
“Até o final do projeto vamos apresentar um plano de expansão para outras comunidades com perspectiva de custo”, disse Brazileiro. “Podemos ser um case importante para o mundo e até exportar isso para outras cidades como Petrópolis e Belo Horizonte.”
Tragédia em Pernambuco em 2022 foi pontapé
Ricardo Brazileiro contou que a iniciativa foi pensada após a tragédia do inverno de 2022, que deixou 133 mortos em Pernambuco; dentre eles, 51 mortos na capital pernambucana - a segunda cidade com mais vítimas, atrás apenas de Jaboatão dos Guararapes, com 64 - além de milhares de desabrigados e desalojados.
“O Senai está atento a esses desafios da sociedade, a gente precisa enfrentar esses extremos climáticos porque não vai impactar só as indústrias, mas as vidas. Temos como nossa missão fortalecer nossa região e trazer para a sociedade as capacidades técnicas que aplicamos na indústria”, disse.
Isso porque, apesar da chuva ser constantemente apontada como a causa, há outros fatores que construíram a tragédia - como a urbanização desordenada e a baixa cobertura de saneamento básico, por exemplo.
Somado a isso, houve carência no monitoramento, de ações imediatas e mitigadoras que expuseram a fragilidade do território e do poder público da Região Metropolitana do Recife para receber eventos climáticos extremos, que se tornaram uma constante pelo planeta.
Para o secretário-executivo de Defesa Civil do Recife, Cássio Sinomar, o projeto surge em momento oportuno, já que as mudanças climáticas dificultam a previsibilidade de fenômenos meteorológicos.
“Cada ferramenta que esteja disponível para ajudar a identificar riscos e fazer o planejamento para salvar vidas é de extrema importância. A partir das pesquisas que serão realizadas, poderemos aprimorar ainda mais este trabalho de prevenção, a preparação e a mitigação de fenômenos naturais de grande porte", ressalta.
Segundo a Defesa Civil os profissionais monitoram e acompanham as áreas de risco da cidade a partir das vistorias realizadas em atendimento aos chamados feitos pela população por meio do 0800.081.3400.
"Ano passado, foram feitas cerca de 54 mil vistorias em locais de risco, identificando locais críticos e programando ações para eliminar os riscos. A cada sinal de alerta de chuva forte, são disparados SMS para os celulares de 32 mil famílias cadastradas em áreas de risco, com orientações para que procurem locais seguros. Foram colocados mais de 3,3 milhões de m2 de lona plástica em 10.397 pontos da cidade", disse a pasta, por nota.
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