As fortes chuvas que vêm caindo em vários Estados do País e provocando tragédias, acende o alerta sobre a vulnerabilidade das populações que vivem em áreas de risco de enxurradas e de deslizamento de barreiras.
O exemplo mais recente foi o temporal no Litoral Norte de São Paulo, no município de São Sebastião, que já deixou 48 mortos. Em Pernambuco, no ano passados, as chuvas deixaram mais de 130 mortos.
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Estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), aponta que existem mais de 8,2 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco de deslizamento de terra e enxurradas no Brasil. Além do prejuízo socioambiental, há uma perda financeira calculada em US$ 67 bilhões em todo o País, entre 1º de janeiro de 2013 e 5 de abril de 2022.
Dentro deste universo, mais de 2,5 milhões vivem em áreas de alto risco e muita vulnerabilidade. Habitam em 825 municípios considerados críticos a desastres. Pelos dados do Censo 2010 do IBGE, que será atualizado este ano, a cada 100 brasileiros, quatro estavam expostos a riscos de desastres climáticos no País.
Com a divulgação do Censo 2022 do IBGE, a expectativa é que o total da população brasileira vivendo em área de morro suba dos atuais 8,2 milhões para 10 milhões.
RECIFE E RMR
Recife é a quinta cidade mais impactada pelas enxurradas e deslizamentos de barreiras, em número de pessoas no País. São 207 mil pessoas vivendo em área de risco, o que significa 13,4% da população. Em Jaboatão dos Guararapes, a situação é proporcionalmente pior, já que quase um terço da população vive em área de risco (29,2%), totalizando 188 mil pessoas.
PESQUISA SOBRE PERNAMBUCO
Após as fortes chuvas de maio de 2022 em Pernambuco, Alagoas e Paraíba, que deixou mais de 130 mortos e 130 mil pessoas impactadas, pesquisadores do Cemaden analisaram as repentinas inundações e deslizamentos de terra no Recife.
O estudo alertou que, devido às mudanças climáticas, a probabilidade de eventos mais extremos não pode ser ignorada. "Esses eventos climáticos extremos associados ao adensamento populacional urbano aumentaram a urgente necessidade de investimentos em serviços climáticos, no trabalho integrado entre população, instituições estaduais e federais e governo em todos os níveis", sugere.
O trabalho destaca que as chuvas em maio de 2022 foram excepcionalmente fortes e que as enchentes comprometeram quese 17% de toda a área urbana do Recife.
O coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden e climatoogista José Marengo tenta explicar o que aconteceu na capital pernambucana. A precipitação total na cidade do Recife nos dias 25 a 30 de maio foi de 551 mm, 140 mm acima da média do mês de maio.
A chuva foi mais intensa nos dias 25 e 28 de maio, com 100–200 mm e 151–250 mm, respectivamente. Isso coincidiu com os distúrbios das ondas de leste.
“O aquecimento do planeta aumentou a intensidade das chuvas. Eventos de chuva tão raros como esses, se tivessem ocorrido em um clima 1,2º C mais frio, provavelmente teriam sido aproximadamente um quinto menos intensos”, esclarece Marengo.
AUDIÊNCIA SOBRE CHUVAS NO RECIFE
Será realizada na próxima sexta-feira, 3 de março, uma audiência pública com o tema “Preparar o Recife para as chuvas” na Câmara Municipal. A discussão acontece a menos de um mês da quadra chuvosa na Região Metropolitana, que tem início em abril, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac).
O requerimento que possibilitou a audiência foi proposto pela vereadora Liana Cirne (PT), que defende a participação de moradores de áreas de risco e da área técnica responsável pelo preparação da capital para as chuvas.
“A gente precisa mapear as pessoas que estão em área de risco, ouvindo a comunidade. O técnico tem um saber e a comunidade, que vive lá, tem outro. Um saber não exclui o outro. Pelo contrário, a gente soma os saberes para buscar soluções eficientes", disse Liana.
INVESTIMENTO NAS ÁREAS DE RISCO
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o prefeito do Recife, João Campos disse na quinta-feira (23), que conseguiu captar R$ 1,6 bilhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento para investir nas áreas de risco no Recife.
Segundo ele, a operação será executada em três eixos. O primeiro será para a proteção das encostas, com nvestimento na casa de R$ 600 milhões. O segundo é a urbanização integrada, que pega as áreas sujeitas a alagamento e as áreas mais baixas na cidade. Esse eixo prevê drenagem, saneamento básico e melhorias habitacionais.
O terceiro é voltado especificamente para a drenagem da cidade, com destinação de R$ 300 milhões para a bacia do Rio Tejipió, com o objeto de implementar uma solução mais robusta, porque o principal desafio de drenagem do Recife está no entorno da bacia do Rio Tejipió.
As ações precisam ser realizadas com agilidade para evitar que chuvas acima da média como as do ano passado não veham provocar tragédias ainda maiores. Como os pesquisadores têm observado, o aquecimento global tem feito com que os eventos climáticos sejam cada vez mais intensos. Não dá para esperar, é preciso agir agora.
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