REPRESENTATIVIDADE

Primeira mulher trans eleita para direção da Faculdade de Direito do Recife, Antonella Galindo promete uma gestão mais inclusiva

A nova vice-diretora da FDR afirmou que vai lutar para fazer uma faculdade mais democrática e com olhar para as diferenças e para as minorias

Filipe Farias
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Filipe Farias
Publicado em 01/03/2023 às 12:54
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Professora Antonella Galindo foi eleita a primeira mulher trans para a direção da Faculdade de Direito do Recife - FOTO: Reprodução do Instagram

Uma eleição histórica para a comunidade acadêmica. A Faculdade de Direito do Recife/UFPE elegeu, na semana passada, a primeira mulher trans a fazer parte da direção da tradicional instituição de ensino superior. A professora Antonella Galindo foi eleita vice-diretora na chapa do professor Torquato de Castro Júnior, que ocupará o cargo de diretor nos próximos quatro anos (2023/2027).

"Foi uma vitória significativa para nós, não só por essa justificativa, mas também porque a ousadia do professor Torquato de Castro Jr. em me chamar para compor a chapa dele, a nossa mensagem foi bem aceita pela comunidade, tivemos maioria de votos em todos os seguimentos e fomos eleitos para direção", comemorou Antonella Galindo, em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

Formada pela Universidade Católica de Pernambuco e com mestrado e doutorado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, além de ter feito estágio na Universidade de Coimbra, em Portugal, Antonella entende e acha importante destacar a sua vitória como um mulher trans. "Eu assumi a minha identidade de gênero muito recentemente. Tive minha carreira anterior construída como homem padrão. No caso, eu nasci biologicamente homem e tive uma trajetória de autodescoberta nessa particularidade de mulher na condição trans. Ingressei na universidade com a identidade de gênero anterior. Então, a trajetória da pessoa trans é muito difícil. Muitas pessoas questionam que estou sendo chamada para entrevistas, mas não falam do meu currículo, só destacam isso (sua transexualidade). Mas outras pessoas competentes passaram pela direção da Faculdade de Direito, tanto quanto eu, ou até mais. Isso não é notícia. Agora, o fato da minha transexualidade, de ser a primeira mulher trans na direção, interessa não só a imprensa, mas também as pessoas porque é um fato inusitado", destacou a professora Antonella Galindo.

A doutora em Direito também fez questão de ressaltar a representatividade feminina na diretoria. "Em 195 anos de história, só tivemos uma diretora mulher e uma vice-diretora na Faculdade de Direito do Recife, eu sou a segunda vice-diretora eleita e a primeira trans. Então, isso mostra como nós, mulheres, estivemos excluída nesses espaços. Por isso é importante a minha presença nesses espaços e a discussão como essa que estamos tendo. Quanto as pessoas trans podem ser valorizadas pelo seu alento, por sua capacidade de produzir e não ser carregada por estigmas", enfatizou Antonella.

Pessoas trans podem ser o que quiser

Ciente da força representativa de sua eleição para um cargo tão importante na sociedade acadêmica, Antonella Galindo encoraja outras pessoas trans a ocuparem os espaços que desejarem no mercado de trabalho. "Não sou moralista e não tem nada de errado de a pessoa exercer qualquer profissão que seja. Mulheres trans podem ser profissionais do sexo e cabeleireira, mas também podem ser advogadas, médicas, engenheiras, basta ter oportunidade para mostrar seus talentos. São pessoas que pensam fora da caixa, são criativas, resilientes e que as empresas poderiam ter um olhar mais interessado por essas profissionais", disse a professora.

"Vejo como fato importante a minha eleição de a comunidade ter aceitado a nossa mensagem, de abrir a mente das pessoas e estimular as possibilidades para as pessoas trans. Que possam ter mais oportunidades e ser relevantes nesse processo todo", pontuou a nova vice-reitora da Faculdade de Direito do Recife.

Desafios da nova gestão

Com inúmeros cortes financeiros sofridos pelas Universidades Públicas de todo o País durante o governo Bolsonaro, a vice-reitora eleita explica como a nova gestão pretende superar as dificuldade nos próximos quatro anos. "Colocamos desde a nossa campanha que a faculdade precisava ser mais democrática, inclusiva e participativa. Estabelecer uma horizontalidade com a comunidade. A maioria das propostas que apresentamos não vieram das nossas cabeças (da chapa), mas da comunidade, que começou a contribuir através dos diálogos nas inúmeras conversas que tivemos com as pessoas. Fomos formulando as ideias, os projetos, as programações que pretendemos implementar. Tudo isso está ligado numa filosofia de trabalho que pretendemos adotar, com essa ação de horizontalidade, de ouvir a comunidade", garantiu Antonella Galindo.

A vice-reitora eleita promete que a nova gestão irá olhar e valorizar todos e todas. "Vamos lutar para fazer uma faculdade mais inclusiva, mais democrática e com um olhar para as diferenças, para as minorias, para os estudantes carentes. Temos a necessidade de pensar, por exemplo, numa solução de criar um restaurante universitário, que ainda não temos. É uma discussão que já temos com o reitor para solucionar isso. Só vamos assumir a direção na segunda quinzena de abril, mas já estamos pensando durante esse período de transição como vamos realizar as ideias", garantiu Antonella.

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