EDIFÍCIO EM OLINDA

PRÉDIOS EM RISCO: Edifício condenado em Olinda é desocupado após moradores ouvirem estalos

Prédio localizado no Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek é um dos 110 na lista de demolição do município

Katarina Moraes
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Katarina Moraes
Publicado em 03/05/2023 às 13:32
SEVERINO SOARES/JC IMAGEM
A Defesa Civil de Olinda e o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) foram acionados e pediram para que as pessoas saíssem imediatamente - FOTO: SEVERINO SOARES/JC IMAGEM

Um dos 110 edifícios que estão condenados e na lista para serem demolidos em Olinda foi desocupado na manhã desta quarta-feira (3) após moradores ouvirem estalos em sua estrutura. No prédio, situado em Rio Doce, moravam irregularmente 36 famílias vulneráveis - que, novamente, estão sem ter onde morar.

“Mamãe, vai cair”- disse a filha da dona de casa Maria Vitória na noite dessa terça-feira (2). Traumatizados com o desabamento no Edifício Leme, na última semana, que deixou seis mortos, a mãe, o pai e os três filhos saíram às pressas de um dos 24 apartamentos do prédio

“Os primeiros eram como se tivessem bolas de gude caindo, mas o último já foi um estalo para a gente se alertar. Foi um desespero muito grande, saímos pedindo socorro na rua”, disse Vitória. Agora, ela pede à Prefeitura de Olinda, pelo menos, um auxílio moradia para recomeçar a vida.

“Não tenho para onde ir. É muito difícil. A gente espera que deem pelo menos um auxílio moradia, porque a gente não veio para cá porque quis, mas por necessidade”, desabafou a dona de casa, que vivia no local há 5 anos.

Já a manicure Rosângela da Silva chegava em casa, durante a noite, quando viu os vizinhos retirando tudo do prédio. Agora, o desespero também toma conta dela. “A gente quer um socorro. Estamos com medo de entrar, queremos uma resposta. Estamos com fome, sede, sono, com nossos filhos aqui”, relatou.

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Manicure Rosângela da Silva pede uma assistência ao poder público - SEVERINO SOARES/JC IMAGEM
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Dona de casa Maria Vitória saiu às pressas de casa quando ouviu os estalos no prédio - SEVERINO SOARES/JC IMAGEM

A Defesa Civil de Olinda e o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) foram acionados e pediram para que as pessoas saíssem imediatamente. Nesta manhã, foi feita uma nova vistoria e, de forma gradual, os moradores puderam pegar documentos e objetos de valor dos apartamentos.

Segundo o secretário Valdir Oliveira, a situação do prédio “está muito preocupante”. Fizemos fotografias e vamos atualizar a nota técnica com o laudo pericial para acelerar a demolição. Com certeza corre risco de cair”, disse.

Segundo ele, outros 10 edifícios devem ser demolidos em breve. “Não vamos divulgar quais são porque pode incentivar as pessoas a entrarem para ter vantagem em cima disso. Alguns vão precisar de força policial para fazer a reintegração de posse para a seguradora demolir”, explicou.

MPPE JÁ PEDIU PROVIDÊNCIAS

O prédio fica no Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek, que já teve três demolições por risco na estrutura. Em 2019, foi alvo de uma recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que pediu para que a Prefeitura de Olinda tomasse algumas providências para resguardar o direito à moradia das pessoas que vivem no habitacional.

O MPPE pedia que a gestão municipal concedesse um auxílio moradia aos que fossem ser realocados e que incluísse as famílias em situação de vulnerabilidade no cadastro de beneficiários das unidades habitacionais existentes ou que venham a ser construídas em Olinda por meio de programa de habitação de interesse social.

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O prédio fica no Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek, que já teve três demolições por risco na estrutura - SEVERINO SOARES/JC IMAGEM
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A Defesa Civil de Olinda e o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) foram acionados e pediram para que as pessoas saíssem imediatamente - SEVERINO SOARES/JC IMAGEM

Quase 4 anos depois, nenhuma dessas medidas foi tomada. Ao JC, a gestão municipal afirmou que foram disponibilizados abrigos temporários para as famílias, mas não respondeu, com clareza, se concederá o auxílio moradia às pessoas que foram retiradas do edifício nesta quarta.

Somente disse que as famílias devem procurar "atendimento via Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos para que sejam procedidas com as assistências jurídica, psicológica e social para as famílias, além da realização de cadastro para outros benefícios sociais ofertados pelas esferas estaduais e federais".

OUTROS EDIFÍCIOS EM RISCO

A reportagem do JC identificou que há outros prédios nas proximidades do Edifício Leme também ocupados por famílias em déficit habitacional, que correm risco de morte por eventuais novas tragédias.

São exemplos disso o Edifício Alan Antônio, onde moram 24 famílias, e o Edifício Marquês Felipe, onde vivem outras sete - ambos no bairro de Jardim Atlântico.

As ocupações também são consequência da má distribuição urbana de Olinda, que possui uma grande demanda habitacional por ter a maior densidade demográfica (quantidade de moradores por área) de Pernambuco e a quinta do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por isso, o Movimento Nacional de Luta Por Moradia (MNLM) e a Organização E Luta dos Movimentos Populares de Pernambuco (OLMP) marcaram um protesto na frente da Prefeitura de Olinda na próxima quinta-feira (4), a partir das 10h, para pedir por soluções habitacionais para essas famílias.

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