2 anos de Recentro: programa inicia projetos estruturantes para o Centro do Recife, mas segue em fase preliminar
Gabinete pelo Centro do Recife completa dois anos de fundação prometendo entrega de importantes planos para 2024
Após um primeiro ano de escutas e ações pontuais, a Prefeitura do Recife, por meio do Recentro começou, em 2023, a elaborar projetos estruturadores para definir quais caminhos a gestão vai escolher seguir para revitalizar e estimular a habitação no Centro do Recife nos próximos anos. Contudo, esses planos ainda estão em fase preliminar, o que demonstra que a região segue distante de uma mudança efetiva e ampla.
Todos serão consolidados no Recentro na Rota para o Futuro, que a gestão municipal promete para o 1º semestre de 2024. Ele tem como foco repensar a reabilitação urbana, dinamização econômica, conservação ambiental e melhoria da qualidade de vida, com eixos e metas para alcançar o objetivo de devolver a urbanidade para os bairros do Recife, São José, Santo Antônio e, agora, para parte da Boa Vista.
A elaboração está por conta do economista Sérgio Buarque e do urbanista Washington Fajardo, ex-secretário de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro. Atualmente, está na fase de análise das 12 mil opiniões colhidas por meio de questionários aplicados virtual e presencialmente, segundo a chefe do Gabinete pelo Centro do Recife, a arquiteta e urbanista Ana Paula Vilaça.
“A gente está nessa fase de escuta de diagnóstico de levantamento de campo e de construção de cenários para que a gente tenha até o meio do ano que vem a definição dessas ações que podem ser implementadas”, disse a gestora. “Então a gente está em um momento super interessante, até porque essas entrevistas vão nos guiar para estudos pormenorizados”, afirmou.
PRÓXIMOS PROJETOS
Também deve ser entregue no início de 2024 um modelo de parceria público-privada (PPP) para revitalizar a Avenida Guararapes, que está sendo desenvolvido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A via projetada no final da década de 1920 já foi um dos principais corredores da cidade, repleta de grandes lojas, mas hoje conta com um estoque de imóveis ao léu.
“A ideia é que eles apresentem uma modelagem econômica, jurídica, urbanística, porque tínhamos projetos para a Guararapes, mas precisávamos entender o formato para despertar o interesse da iniciativa privada dentro da legalidade, das limitações que o poder público tem, porque tem imóveis privados”, explicou.
Ficam também para o próximo ano a implantação da rota histórico cultural, que vai sinalizar um caminho que conecta diversos atrativos culturais no território; requalificação da Avenida Dantas Barreto; a PPP Morar no Centro, com estimativa de geração de mais de 1,1 mil novas unidades habitacionais para diversas faixas de renda.
DOIS ANOS DE RECENTRO: O QUE MUDOU?
A pasta, que completou 2 anos neste mês de dezembro, foi lançada pelo prefeito João Campos (PSB) em 2021 a fim de reverter o processo de degradação que começou por volta dos anos 70 no Centro e que se acirrou durante a pandemia da covid-19.
Já de início, foram lançados benefícios fiscais para tornar o Centro um “paraíso fiscal” para os investidores, segundo o prefeito. De lá para cá, a gestão lembra ter atraído mais de R$ 300 milhões em investimentos privados desde criação do plano, além de estar investindo mais de R$ 100 milhões em obras públicas na região central da cidade, que englobam ações de drenagem e projetos de requalificação de equipamentos públicos.
Também estão em execução importantes iniciativas, como as reformas no Mercado de São José e no Camelódromo da Dantas Barreto e o lançamento de atrações como o Viva a Guararapes, entre outras, que ajudam a reocupar o espaço, mesmo que de forma temporária.
Todavia, falta muito para que o Centro seja mudado estruturalmente. Endereços históricos seguem esvaziados. Dezenas de prédios pouco ocupados. A potência urbana de ruas inteiras continuam a “morrer” ao fim do horário comercial. Por isso, atores que participam do processo de articulação com o gabinete dizem continuar otimistas com a instância de poder, mas pedem maiores realizações.
Proprietário do Edifício Douro, Breno Coelho diz ver mudanças principalmente no bairro do Recife, mas que "o efeito ainda não apareceu em Santo Antônio", bairro que frequenta diariamente. “Eu esperava uma velocidade maior. Sei que os desafios são enormes, reconheço o esforço da equipe, mas gente está praticamente terminando o mandato do prefeito. Então, gostaria que estivesse pelo menos um pouco melhor”, afirmou.
O QUE PENSA O SETOR COMERCIAL
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas Recife (CDL), Fred Leal, por exemplo, pontua que continua a olhar o Recentro com uma “insatisfação otimista”. ”Sou sempre um insatisfeito com as coisas, porque meu papel é apontar. Mas continuamos confiante e com parceria. O Recentro tem trabalhado”, afirmou.
Ele elogiou o aumento do policiamento, feito em parceria com a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) e a guarda municipal, conforme detalhou Ana Paula, e a criação da Rota do Comércio, que consiste em um mapa virtual para estimular a ida de compradores ao varejo da região.
Entre os pedidos da CDL à Prefeitura, estão trazer órgãos públicos de volta para o Centro, melhorar ações de limpeza e dar mais incentivo ao setor imobiliário. Ainda, a construção de mais abrigos para a população em situação de rua e uma nova unidade da PMPE no Cais de Santa Rita.
SETOR IMOBILIÁRIO QUER MAIOR FLEXIBILIZAÇÃO
“A prefeitura está empenhada em atrair novos projetos e investir, mas tem de fazer muita coisa ainda. O que precisa efetivamente é um alinhamento do direcionamento”, avaliou o coordenador do Comitê de Políticas Urbanas da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), Sandro Guedes.
O setor diz ter uma visão clara e definida que é preciso atrair massivamente a classe média para habitar no Centro, além das classes altas e baixas e que isso seja feito majoritariamente por meio de novas construções, pois considera que o retrofit seja “um instrumento dentro de um grande cardápio”. Ainda, pede uma flexibilização das regras de tombamento para reformas internas em edifícios históricos e em territórios como o Arsenal da Marinha e nos galpões do bairro do Recife.
“O governo precisa investir na qualidade dos espaços públicos. Revitalizar o Parque 13 de Maio, dar um jeito no esgoto, investir muito pesadamente nas questões sociais, na segurança pública, ter um programa pesado e robusto para pessoas em situação de rua. Tem pontos da cidade que são banheiros a céu aberto, acampamentos na frente de pontos turísticos seculares. Isso é terrível para a cidade como um todo”, pediu.