RECIFE

Três anos após furtos, Parque das Esculturas do Recife é reinaugurado como um museu a céu aberto

Espaço idealizado pelo artista plástico Francisco Brennand será reaberto nesta quinta-feira (21) pela Prefeitura do Recife

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Katarina Moraes

Publicado em 21/03/2024 às 10:03 | Atualizado em 21/03/2024 às 21:18
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Pelicanos, ovos, serpentes e outros “guardiões” místicos voltam a proteger o Recife três anos após serem furtados da paisagem símbolo da capital pernambucana, o Parque das Esculturas. O local será reinaugurado nesta quinta-feira (21) ganhando, enfim, um caráter de museu a céu aberto, com a promessa de uma vigilância integral que impeça novos ataques à memória e à cultura da cidade.

Em outubro de 2020, o país se chocou com o furto de 64 das 90 obras do espaço, idealizado pelo artista plástico Francisco Brennand (1927 - 2019) como parte do projeto “Eu vi o mundo… Ele Começava no Recife”, para homenagear os 500 anos do Brasil. Peças de bronze com grande valor histórico, mas valor monetário praticamente nulo.

Guga Matos/JC Imagem
Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem
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Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem
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Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem
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Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem
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Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem
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Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem
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Parque das Esculturas Francisco Brennand requalificado - Guga Matos/JC Imagem

Dois meses após o crime, a Prefeitura do Recife anunciou a reconstrução do Parque, sob um investimento de R$ 9,5 milhões. A entrega estava inicialmente prevista para dezembro de 2022, mas foi feita somente agora. A gestão justificou o atraso pela demora na aprovação dos órgãos de patrimônio, como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC).

Durante esse tempo, as obras de arte foram sendo reconstruídas pelo artista plástico Jobson Figueiredo, que trabalhou junto a Brennand na concepção do parque. Do seu ateliê, as figuras eram esculpidas em barro, depois envolvidas em uma forma de gesso ou fibra de vidro e preenchidas com cera de abelha — material que desaparece e dá lugar ao bronze após passar cinco dias em um forno de até 1 mil graus Celsius.

Então, passavam um ou dois dias enterradas até esfriarem. Por último, eram feitos a solda, acabamento final, enfim, após um longo processo que dura em torno de um mês, a arte, então perdida, revela seu poder de resistência ao reexistir.

“O trabalho de reconstruir e de refazer é muito mais demorado. Em 1998, eu, juntamente com o Francisco, montamos todo esse parque, e isso infelizmente foi destruído e você restaurar é muito mais fácil, mas você refazer, absolutamente, mais de 87 peças é mais difícil. A Torre de Cristal é um totem que reverencia e chama e convida os navegantes e, ao mesmo tempo, ela assusta esses maus espíritos”, comentou Jobson Figueiredo.

O Instituto Oficina Francisco Brennand também fez parte deste processo. “Queremos que o Parque esteja ainda mais conectado com a Oficina Francisco Brennand, permitindo que o turista e o recifense conheçam a relação entre os equipamentos, fortalecendo o circuito que leva do Marco Zero ao nosso museu, na Várzea”, comemorou Marcos Baptista, presidente da Oficina Francisco Brennand.

E a filha de Francisco Brennand, Helena Viktória Brennand, contou que estava emocionada com a entrega do Parque. “Meu pai era uma pessoa que, quando ele se entusiasmava por um projeto, ele não media esforços, então ele se apaixonou pelo molhe, ele se apaixonou por esses 300 metros, ele se dedicou de corpo e alma a todas essas esculturas, uma a uma. E ele dizia que criaria o seu paraíso mitológico, cheio de simbolismos, de crenças, de ídolos. Agradeço muito por essa entrega”, comentou ela.

FUNCIONAMENTO DO MUSEU

Além da recuperação das peças, o município também fez um conjunto de obras no espaço, como um novo píer, banheiros, bicicletário e bancos. O acesso por terra, vindo do bairro de Brasília Teimosa, foi mantido. Mas o píer onde as pequenas embarcações aportavam foi deslocado cerca de 500 metros à esquerda. Haverá um único ponto de entrada e saída de visitantes, passando por uma portaria, onde será feito um cadastramento com nome e CPF.

O local funcionará de terça a sexta, das 10h às 17h, e sábado e domingo das 9h às 18h, com acesso gratuito. Depois disso, somente os pescadores cadastrados que precisam passar por lá serão autorizados a entrar. Haverá também uma central de monitoramento dentro da portaria, que teve as câmeras trocadas para melhor vigilância.

As obras foram coordenadas e executadas pelo Gabinete de Projetos Especiais (GABPE), e também contaram com o trabalho da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb). “A estrutura foi pensada garantindo acessibilidade e inclusão para todos os públicos e levando em conta a preservação e valorização da paisagem cultural existente. Dessa forma, foram adotadas estratégias de baixa interferência, respeitando os elementos históricos e culturais presentes do local”, disse Cinthia Mello, chefe do Gabinete de Projetos Especiais.

A gestão do equipamento será feita pelo Gabinete do Centro do Recife (Recentro). No local, também será possível realizar visitas guiadas por monitores bilíngues que passaram por treinamento junto com as equipes da Secretaria de Turismo e Lazer do Recife (SETUR-L), Programa Recentro e Gabinete de Projetos Especiais. A Setur-L fornecerá a folheteria de divulgação turística sobre o equipamento e a cidade.

Para a chefe do Gabinete do Centro do Recife, Ana Paula Vilaça, o Parque de Esculturas tem grande relevância cultural e histórica, além de manter conexão direta com o Marco Zero e o Centro. “Estamos muito felizes com a reabertura desse equipamento que é o cartão postal da nossa cidade. Com essa reestruturação, faremos a gestão do Parque e o controle de acesso gratuito, oferecendo visitas guiadas com monitores bilíngues e suporte com um centro administrativo no local. É muito importante para ativação do centro e ao mesmo tempo para prestarmos uma homenagem a este grande artista que foi Francisco Brennand”, afirmou.

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