A entrega completa do Parque das Esculturas será feita em maio de 2023, segundo a Prefeitura do Recife. O museu a céu aberto de Francisco Brennand, um patrimônio da cidade, teve 64 obras furtadas no final de 2021, que começaram a ser refeitas em dezembro do mesmo ano e tinham previsão de entrega de 12 meses.
A reforma do espaço se divide em duas etapas. A primeira é o restauro e reprodução das peças em si, que tinham previsão de serem finalizadas até dezembro de 2022 - mas, até agora, 70% delas foram concluídas, de acordo com a Prefeitura. A segunda etapa é a de requalificação do local.
O restauro e reprodução das peças têm sido feitos por Jobson Figueiredo, artista plástico contratado pelo município. Ao todo, são investidos R$ 5.5 milhões para devolver aos recifenses o presente dado por Brennand nos anos 2000, em comemoração aos 500 anos do descobrimento do Brasil.
Em março, o JC acompanhou o processo de renascimento das obras diretamente do atelier do artista. Pelicanos, ovos, serpentes e outras esculturas são esculpidas em barro, depois envolvidas em uma forma de gesso ou fibra de vidro e preenchidas com cera de abelha — material que desaparece e dá lugar ao bronze após passar cinco dias em um forno de até 1 mil graus Celsius.
Então, passam um ou dois dias enterradas até esfriarem. Por último, são feitos a solda, acabamento final e ‘voilà’: após esse longo processo que dura em torno de um mês, a arte, então perdida, revela seu poder de resistência ao reexistir.
Mais oito peças, entre elas a grande e polêmica Torre de Cristal, de 30 m de altura, passaram por reparos diretamente do Marco Zero, no Centro da capital pernambucana. Já as esculturas em cerâmica, como os painéis, por exemplo, foram levadas até a Oficina Brennand para serem restauradas.
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O que requer tempo, esforço e arte — que possui um valor inestimável —, também demonstrou-se fácil de ser destruído mesmo aos olhos dos pernambucanos.
Tamanha mobilização e investimento do poder público poderiam ser empregados a outras áreas caso o principal ponto turístico do Recife tivesse recebido a atenção suficiente para impedir o furto de 64 peças da exposição na calada da noite no último ano para serem derretidas a baixo custo no mercado informal. “O valor do bronze não é 2% do custo delas”, pontuou Jobson.
Após o caso, a Prefeitura do Recife anunciou o reforço na segurança do espaço, hoje realizado em três turnos diários de 8h cada por dois vigilantes a cada turno no local, além de instalar iluminação cênica e um de sistema de videomonitoramento infravermelho, com monitoramento 24h da Secretaria de Segurança Cidadã do Recife.
“Estamos recompondo esse grande cartão-postal absolutamente tudo igual, porque desde aquela época tive o cuidado de guardar as imagens e as medidas. O trabalho é lento, artesanal, feito utilizando o processo chamado de cera perdida", esclareceu o artista, que replica até mesmo as assinaturas de Brennand nos trabalhos.
"Dou garantia de 5 mil anos para o bronze e aceito reclamação, porque ele é eterno. Ele resiste aos tempos; só não ao roubo e ao vandalismo. Temos esse carinho e esse cuidado [pelo Parque] e acreditamos que até o final deste ano teremos de volta a grande marca da cidade, internacionalmente conhecida."
Em um sítio em Igarassu, o trabalho para devolver um dos grandes presentes de Brennand para o Recife não para. Severino Gomes, de 56 anos, o diretor de Patrimônio e da Oficina de Jobson e o “cabeça” de toda operação, havia passado 48h acordado no dia anterior à visita da reportagem, observando todo o processo.
“Enquanto está no forno, não dá para dormir. Temos que ficar observando o tempo todo”, conta ele, que participou do projeto original do Parque das Esculturas. “Já viemos trabalhando há muito tempo para refazer as peças”, diz ele, que comanda cerca de 12 homens na fundição.
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O local já estava ocupado por várias das obras famosas. Em uma das mesas, um ovo e uma galinha aguardavam pelos últimos reparos. Em outro canto, via-se três partes da serpente marinha em barro, ainda sendo revestida pela forma de gesso.
Pouco a pouco, os “guardiões” místicos criados para receber os visitantes e expulsar os maus espíritos, voltam a proteger a cidade; mas, para que cumpram sua função, também precisam de proteção, tanto do poder público, quanto da sociedade.
Para Figueiredo, essa é a lição que fica. “Todos nós somos culpados quando não reivindicamos e quando não contestamos a falta de respeito à nossa cultura. A cidade e o país que não a tem não terão liberdade, não terão imprensa e terão a pior política possível."
"O povo tem que assumir e se apropriar daquilo ali. Aceitar e se acomodar com as coisas gera o estado em que estamos. Temos que aprender a lutar pela nossa cultura - porque sem ela somos um povo submisso."
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