Com 11 anos de atraso e descrença da população, obras no Canal do Fragoso chegam à última etapa

Governo do Estado anunciou investimento de R$ 118 milhões para concluir etapa com terraplenagem, pavimentação, drenagem, sinalização e iluminação

Publicado em 05/07/2024 às 14:29 | Atualizado em 05/07/2024 às 14:33

O problema histórico do Canal do Fragoso, em Olinda, parece se encaminhar para o fim. Na última quarta-feira (03/7), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, assinou a ordem de serviço para a quinta e última etapa da obra, com investimento de R$ 118 milhões. A finalização dos serviços foi uma das principais promessas de campanha da governadora.

"Hoje nós assinamos a ordem de serviço da quinta etapa do Canal do Fragoso já com a obra começando, do trecho que que vai levar, finalmente, a água até o mar. É uma obra que deveria ter sido entregue há dez anos e que a gente está conseguindo fazer com recursos garantidos”, destacou Raquel Lyra, na ocasião.

A população, no entanto, ainda desconfia dos resultados do projeto, que se arrasta por 11 anos e afeta os bairros de Jardim Fragoso e Jardim Atlântico. O aposentado Antônio Cabral, de 71 anos, mora há 21 anos em um dos trechos que já foi entregue, mas afirma que o problema não foi resolvido. “Está concluída, mas ficou pior, ao invés de melhorar. É um serviço mal feito, quando chove muito eu fico ilhado”, contou.

Mesmo após anos de intervenções, o aposentado informou que outro serviço para evitar as enchentes está sendo feito. “Estão fazendo um serviço sem finalidade nenhuma, dizem que é pra água escorrer”, comentou. De acordo com ele, as obras ainda ocasionaram o aumento de baratas, muriçocas e escorpiões na região.

O Canal do Fragoso é o trecho principal do pacote de obras Via Metropolitana Norte iniciadas em 2013 e com previsão inicial de conclusão para 2016. Ele representa um dos maiores projetos de urbanização em realização na Região Metropolitana do Recife e propõe que os problemas causados pelas fortes chuvas sejam minimizados, como que as pontes sejam tomadas pela água e diversos trechos do canal transbordem, causando transtorno para milhares de pessoas do entorno.

JAILTON JR./JC IMAGEM
Obras no Canal do Fragoso, em Olinda - JAILTON JR./JC IMAGEM

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Desapropriações

Um comerciante e morador do trecho próximo ao bairro de Rio Doce, onde estão sendo realizadas as obras da última etapa, denunciou que muitas pessoas precisaram abandonar suas moradias por causa dos transtornos causados pela chuva. “Essa obra acabou com a vida de muita gente, muitos perderam casa e eletrodoméstico e tiveram leptospirose. Antes da obra chegar aqui, a gente tinha que abandonar tudo, faz mais de 20 anos que isso vem acontecendo”, pontuou.

O morador, que não quis se identificar, também contou que muitas pessoas ainda não foram indenizadas pela desapropriação das casas. “Eles deviam derrubar esses prédios abandonados e levar a gente para lá, fazer uma vila, não uma indenização”, afirmou.

As desapropriações dos imóveis que margeiam o Canal do Fragoso são um ponto delicado do projeto, que prevê a realocação de 700 famílias residentes em palafitas e casas ao longo do trecho em obra. Em 2023, o JC acompanhou um dos processos de desapropriação para a realização das intervenções.

Sem direito à posse da terra, muitas famílias recusaram as propostas de indenizações, por considerarem os valores baixos. Na época, o diretor de programas habitacionais da Companhia Pernambucana de Habitação e Obras (CEHAB), Luiz Byron, afirmou que todas as famílias haviam sido abordadas pelas equipes de trabalho social e assistentes das empresas de engenharia responsáveis pela obra do Fragoso.

Projeto

Em lançamento da última fase do Canal do Fragoso, foi anunciado que os R$ 118 milhões investidos serão para as intervenções que incluem terraplenagem, pavimentação, drenagem, sinalização, iluminação e paisagismo de um trecho direito da via, o alargamento e revestimento do canal, além da execução de duas pontes. A previsão é que o trecho seja entregue em 24 meses.

As obras do Canal do Fragoso estão sendo executadas por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Pernambuco (Seduh) e administradas pela CEHAB. O projeto tem trechos de responsabilidade do Governo do Estado e da Prefeitura de Olinda.

O projeto conta com a implantação de três conjuntos habitacionais; duas lagoas de retenção; mais de cinco mil metros de canal revestidos; e um sistema viário com mais de 10 km de vias pavimentadas às margens do canal.

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