Pernambuco se mobiliza na XI Marcha de Enfrentamento ao Trabalho Infantil
Mobilização em Recife contra o trabalho infantil reúne sociedade em marcha pela erradicação e defesa dos direitos das crianças e adolescentes
No próximo dia 10 de outubro, as ruas do Recife se transformarão em um palco de mobilização social com a XI Marcha de Enfrentamento ao Trabalho Infantil, promovida pelo Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil de Pernambuco (FEPETIPE).
O evento, que ocorre anualmente desde 2013, exceto no ano de 2020 por conta da pandemia, busca chamar a atenção para a grave violação dos direitos das crianças e adolescentes envolvidos no trabalho infantil.
A marcha deste ano terá concentração no Parque 13 de Maio, às 13h30, e passará pelas ruas Princesa Isabel, Rua do Sol, Praça da República, Ponte Buarque de Macedo, até finalizar com uma roda de ciranda no Marco Zero.
O percurso será repleto de cultura popular, com apresentações de grupos artísticos e exposições que trazem cartazes e cata-ventos, símbolos da luta contra o trabalho infantil.
Com o mote nacional “O trabalho infantil que ninguém vê. Transformar nossos compromissos em ação: vamos acabar com o trabalho infantil”, a iniciativa pretende não apenas visibilizar o problema, mas também sensibilizar a população sobre a importância de desnaturalizar essa prática ainda comum no Brasil.
A campanha do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e do Ministério Público do Trabalho traz à tona dados alarmantes: segundo o IBGE, 756 mil crianças e adolescentes estavam envolvidas em atividades laborais perigosas em 2022.
Em Pernambuco, a situação é igualmente preocupante. Dados recentes indicam que mais de 68 mil crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, estão em situação de trabalho infantil.
Em operações realizadas em agosto deste ano, o Ministério do Trabalho e Emprego resgatou 301 crianças no polo têxtil do estado, muitas delas envolvidas nas chamadas piores formas de trabalho infantil, conforme a lista TIP (Decreto n.º 6.481/2008).
A marcha também busca pressionar o Governo Estadual para a efetivação do Plano Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Infantil, cuja ausência tem sido criticada por especialistas e organizações que atuam na defesa dos direitos das crianças.
“O trabalho infantil só cresce e o Plano Estadual nada!”, alerta o tema do seminário promovido pelo FEPETIPE em 2024, evidenciando a necessidade de uma atuação mais incisiva do poder público.
Além de ser um problema diretamente relacionado à pobreza e à desigualdade social, o trabalho infantil em Pernambuco é amplamente influenciado pelo racismo estrutural. Os dados do IBGE mostram que, no Brasil, 66,3% das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil são negras, e a maior incidência ocorre entre meninos.
Esse cenário se agravou nos últimos anos, especialmente no período pós-pandemia, que trouxe um aumento significativo da vulnerabilidade socioeconômica de muitas famílias.
A marcha promete reunir um grande número de pessoas e instituições, como escolas, organizações da sociedade civil e entidades públicas.
Segundo o FEPETIPE, a ação também tem como objetivo criar um espaço de escuta para que crianças e adolescentes possam expressar suas experiências e lutar pelos seus direitos. "Queremos fortalecer a compreensão de que elas são sujeitos de direitos e não objetos de exploração", afirmam os organizadores.
Ao final do evento, espera-se que a sociedade pernambucana esteja mais consciente da gravidade do trabalho infantil e que, juntos, sociedade civil e poder público possam transformar o cenário atual, garantindo um futuro digno e livre para todas as crianças e adolescentes do estado.