Das escadarias ao santuário, devoção leva diferentes gerações ao Morro da Conceição
Devoção das famílias é refletida das escadarias ao santuário. Juntos, casais, pais, filhos cumprem suas tradições espirituais na Festa do Morro
“Enquanto Deus e Nossa Senhora me der forças, eu vou estar aqui”. A subida pela escadaria exige pausas. Ela é feita de costas para pagar uma promessa e agradecer à homenageada. Zenilda Isidoro, de 60 anos, faz esse percurso todos os anos para o alto do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife.
Dias antes da Festa do Morro, visita o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, onde está o coração da fé católica recifense, acompanhada da filha e da neta.
“Há dois anos eu fiz um pedido e alcancei e estou mais uma vez agradecendo à Nossa Senhora. Eu fui dormir bem e acordei com uma dor no peito. Achei que tinha alguma coisa, fiz o pedido e, no meio do ano, a dor sumiu”, contou Zenilda emocionada, em frente ao monumento na parte mais alta do morro.
Depois de subir as escadarias, acompanha a neta Maísa Helena Dias da Silva, de 6 anos, até a imagem e, juntas, fazem suas preces. A filha de dona Zenilda, Tainá Cristina da Silva, de 30 anos, também acompanha o ritual.
“Ela nasceu prematura e ficou 9 dias distante de mim. Eu fiz uma promessa à Nossa Senhora que a primeira roupa que Maísa vestisse, eu deixaria aos pés de Nossa Senhora. Ela nasceu no Hospital Barão de Lucena e lá tinha uma imagem, onde eu deixei a roupinha e falei que traria ela até os 7 anos”, explicou.
Eu fiz uma promessa à Nossa Senhora que a primeira roupa que Maísa vestisse, eu deixaria aos pés de Nossa SenhoraTainá Cristina da Silva, 30 anos
A devoção das famílias à Nossa Senhora da Conceição é refletida nas escadarias, na fila das bênçãos, no monumento e na igreja. Juntos, pais, filhos, avós e casais cumprem suas tradições espirituais nos dias que antecedem a data oficial da padroeira afetiva do Recife, 8 de dezembro.
Todos os anos, os moradores da comunidade se unem aos peregrinos e celebram a Festa. O Morro da Conceição cresceu em torno do santuário e, com a chegada da imagem da padroeira, a região precisou de mudanças como acessos que garantissem mais segurança para os fiéis renovarem seus votos.
A arquiteta Adriana Figueira estudou a região em sua pesquisa de mestrado intitulada “A Grande Mãe” e pontuou que “a colocação da imagem veio fortalecer nas pessoas o sentimento de proteção por morarem próximas à Nossa Senhora da Conceição, fortalecendo a luta de classe, de ficar na terra”.
Gratidão pelas conquistas
Já são 37 anos de subidas ao Morro da Conceição para renovar a fé. Josélia Barreto de Oliveira, 63 anos, e José Ricardo Gomes de Oliveira, 65, casaram no dia 9 de dezembro de 1987, um dia depois do Dia de Nossa Senhora da Conceição e, desde aquele ano, participam da celebração juntos.
“Enquanto eu viver, eu venho, porque tenho que agradecer a muitas bênçãos, como o meu casamento e os meus filhos”, contou Josélia. Ao lado do marido, subiu as escadarias e cumpriu a tradição matrimonial e familiar.
Enquanto eu viver, eu venho, porque tenho que agradecer a muitas bênçãosJosélia Barreto de Oliveira, 63 anos
Todos os anos, o casal faz preces e agradece as conquistas. “Já fiz várias promessas: do filho, da casa própria e tudo a gente conseguiu. Também pedi um marido bom e ele é maravilhoso. Foi Deus quem botou ele no meu caminho”, disse. “Ela também é maravilhosa. Agradeço primeiramente a Deus e à Nossa Senhora da Conceição”, completou José Ricardo.
Josélia e José estenderam a devoção à família. Os filhos são devotos e também já participaram da Festa do Morro.
120 anos de história
Neste ano, a Festa do Morro chega a sua 120ª edição com uma programação voltada para a peregrinação e a esperança na Imaculada.
A primeira Festa do Morro aconteceu em 1904, em celebração ao 50º aniversário do dogma da Imaculada Conceição. Na ocasião, a imagem da padroeira afetiva do Recife foi inaugurada e o lugar que era conhecido como Morro da Bela Vista foi batizado de Morro da Conceição.
A 120ª celebração homenageia, ainda, as famílias que foram afetadas pela tragédia do dia 30 de agosto, quando o teto do santuário desabou durante a distribuição de cestas básicas na comunidade e deixou 25 feridos. Duas pessoas morreram: Maria da Conceição da França Pinto, de 62 anos, e Antônio José dos Santos, de 58.
O Morro da Conceição e todo o estado de Pernambuco passam do luto ao recomeço, dando os passos seguintes após a reconstrução do templo religioso.
Eu fiz uma promessa à Nossa Senhora que a primeira roupa que Maísa vestisse, eu deixaria aos pés de Nossa Senhora
Tainá Cristina da Silva, 30 anosEnquanto eu viver, eu venho, porque tenho que agradecer a muitas bênçãos
Josélia Barreto de Oliveira, 63 anos