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Politização da pandemia do coronavírus atrasa resposta à crise no Brasil

Desde o início da emergência sanitária, o presidente Jair Bolsonaro minimiza sua gravidade e critica diariamente os governos locais

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Publicado em 12/05/2020 às 11:58 | Atualizado em 12/05/2020 às 12:00
SERGIO LIMA/AFP
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - FOTO: SERGIO LIMA/AFP

As divisões políticas sobre a estratégia no combate à pandemia do novo coronavírus atrasam a resposta do Brasil, com consequências que já se anunciam trágicas, alertam especialistas.

No fim de semana, o Brasil superou a marca dos 10.000 mortos e 150.000 infectados, embora os cientistas afirmem que os números poderiam ser até 15 vezes maiores, devido à falta de testes.

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Desde o início da emergência sanitária, o presidente Jair Bolsonaro minimiza sua gravidade e critica diariamente os governos locais, que impuseram medidas para conter a circulação de pessoas.

Ele chegou a demitir o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta por divergências sobre a política de isolamento social.

"Quando há uma cacofonia, um desacordo muito grande de liderança nas politica publicas, ou contestação delas, não se consegue um consenso mínimo, o que segue é tragédia", alerta o historiador brasileiro Sidney Chalhoub, professor da Universidade de Harvard.

Chalhoub lembra o caso do século XIX do porto de Hamburgo, então o maior da Alemanha, onde surgiu um surto de cólera que deixou mais de 10.000 mortos.

"A última grande epidemia de cólera na Europa foi totalmente causada pela divisão da elite política local e pelo predomínio de uma visão dos interesses econômicos, que se sobrepunham aos interesses da saúde pública, e isso causou uma catástrofe econômica muito maior", afirma.

Ele também cita a revolta popular de 1904 contra a vacinação compulsória anti-varíola no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, que misturou a resistência das camadas populares à vacina com interesses políticos para derrubar o governo. O resultado: 30 mortos e uma nova epidemia da doença.

Medo da morte aproxima os polos

Uma pesquisa do Instituto Datafolha do fim de abril revelou que 67% dos brasileiros acredita ser necessário que as pessoas permaneçam em casa para evitar a propagação do vírus, inclusive com as consequências econômicas que isso provoca.

No último mês, simpatizantes de Bolsonaro fizeram carreatas em várias cidades para pedir o fim das medidas de isolamento social e criticar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), que tentaram limitar algumas ações do presidente.

O chanceler Ernesto Araújo, que se define como "antiglobalista", denuncia tentativas de usar a pandemia para instaurar o comunismo. "Não bastasse o Coronavírus, precisamos enfrentar também o Comunavírus", tuitou em abril.

Mas a pandemia está alterando os traços da polarização esquerda-direita, que chegou ao seu auge com a eleição de Bolsonaro em 2018, segundo estudo conduzido pelo cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Entre os quase 8.000 pesquisados que se declararam de direita ou centro direita, 56% se mantiveram fiéis às opiniões de Bolsonaro, mas 40% discordaram de sua atitude frente à pandemia.

"Quanto mais próximo o respondente é de alguém contaminado ou que veio a falecer, maior a migração desse respondente da direita para uma posição distante do que o Bolsonaro acha que é correto" e mais favorável se mostra ao isolamento, disse à AFP Pereira, que ignora, no entanto, se esta seria uma mudança duradoura.

Onda mundial anticiência

Para a socióloga Débora Messenberg, da Universidade de Brasília, agora "debate é sobre democracia e autoritarismo".

"Nós temos um governo de extrema direita, anti-democrático", que deu asas a um segmento da sociedade ligada ao "ideário fascista", afirma Messenberg ao se referir aos protestos contra o Legislativo e as agressões a jornalistas e enfermeiros por manifestantes bolsonaristas.

Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um respeitado centro de pesquisas sobre saúde pública, também receberam ameaças nas redes sociais após divulgar os resultados iniciais de um estudo sobre a cloroquina, medicamento antimalária enaltecido por Bolsonaro como um tratamento eficaz contra o coronavírus, embora não existam estudos que o comprovem.

"A democracia, ao contrário do que a gente imaginava, é muito menos sólida. E não é só o Brasil, com todo seu passado escravocrata, que aqui não finca raiz. A democracia liberal está em crise no mundo inteiro", afirma Messenberg.

Chalhoub aponta outro agravante: a pandemia chega em um momento em que grandes países, como Estados Unidos e Brasil, são governados por líderes que "militam contra o conhecimento", no qual "as opiniões se defendem com a invenção dos fatos".

"Se constrói uma visão inteiramente nociva de uma contradição sem remédio entre a catástrofe na saúde publica e a catástrofe econômica, o que leva a uma confirmação das duas", sentencia.

O que é coronavírus?

Coronaavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

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