Ação no TCU

"Humberto Costa não quer que o pobre tenha acesso à hidroxicloroquina", diz Bolsonaro; senador rebate

Senador pernambucano, que já foi ministro da Saúde no Governo Lula, disse que Bolsonaro nem é cientista, nem é médico

Douglas Hacknen
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Douglas Hacknen
Publicado em 21/05/2020 às 22:33 | Atualizado em 22/05/2020 às 1:13
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Bolsonaro realiza live no Facebook, na noite desta quinta-feira (21) - FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK

Na noite desta quinta-feira (21), em sua tradicional transmissão ao vivo da semana, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o senador pernambucano Humberto Costa (PT), que já foi ministro da Saúde no Governo Lula (2003-2005), deseja que pessoas mais pobres não tenham acesso à hidroxicloroquina. O ataque ao petista ocorreu após senadores do PT terem movido uma ação, hoje, no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo suspensão cautelar do novo protocolo do Ministério da Saúde para uso do medicamento em casos leves do coronavírus.

>> Ministério da Saúde divulga protocolo para uso da cloroquina e mais dois medicamentos em tratamento contra coronavírus

>> Recife seguia protocolo anterior do Ministério da Saúde em relação ao uso da cloroquina

Nessa quarta-feira (20), o Ministério da Saúde divulgou o protocolo para uso da cloroquina e mais dois medicamentos (Azitromicina e Sulfato de Hidroxicloroquina) em tratamento contra os sintomas do coronavírus desde o primeiro dia da doença. Essa recomendação era um desejo de Bolsonaro, considerado defensor do medicamento. A insistência no remédio levou a divergências, e por consequência a queda, de dois ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

A orientação do ministério é pela prescrição de cloroquina ou sulfato de hidroxicloroquina, ambas combinadas com azitromicina, mesmo para casos leves. As doses dos medicamentos se alteram conforme o quadro de saúde. O documento avisa que cabe ao médico prescrever e que o paciente deve assinar um termo de "Ciência e Consentimento" sobre o uso da droga.

Na transmissão ao vivo, que aconteceu ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, Bolsonaro disse que "um grupo de senadores do PT entrou com requerimento no TCU pedindo que esse protocolo deixe de ser válido. A gente lamenta esse requerimento do senador Humberto Costa, que quer fazer que o pobre não tenha acesso à hidroxicloroquina. Se não tiver acesso, o que pode acontecer é que o medicamento pode sumir das farmácias, ir para o câmbio negro e vai valer 1 mil, 2 mil, 5 mil reais uma caixa", argumentou.

Ao falar sobre as evidências cientificas, Bolsonaro afirmou que “alguns morrem, claro, não é todo mundo que vai tomar o remédio e ficar vivo, mas a grande maioria fica”. A taxa de mortalidade do coronavírus no Brasilé de 6,5%. Não existe estimativa da mortalidade entre pessoas que fizeram uso do medicamento.

O chefe do Executivo ainda completou fazendo um apelo ao parlamentar. "Apelo ao senador Humberto Costa, que já foi ministro da Saúde: como não temos outro remédio, deixe o pobre, o idoso e aquele que tem algum tipo de doença fazer uso da hidroxicloroquina de graça nos hospitais. Eu peço, pelo amor de Deus, isso é vida! O PT não pode tirar o direito de lutar pela vida de qualquer um. Cada vez mais eu me convenço que é uma briga ideológica, é uma briga partidária isso daí", declarou Bolsonaro na live.

Bolsonaro chegou a comparar o uso do medicamento com o ato de tomar refrigerante. “Eu tomo Coca-Cola, quem quiser tomar cloroquina, toma ‘pô’. Eu não estou perseguindo o PT, mas voltar a determinação que só pode usar a cloroquina em estado grave, não adianta mais", argumentou.

Na representação, os senadores do PT acusam o protocolo do MS de desrespeitar os ritos e os requisitos próprios para aprovação de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas previstos na Lei da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). 

"Ele nem é cientista, nem é médico", rebate Humberto Costa

Após a declaração do presidente, a reportagem do Jornal do Commercio entrou em contato com o senador. Humberto Costa rebateu o presidente informando que "não há nenhuma evidência científica de que esse medicamento tenha efeito nos casos da covid-19, especialmente nos casos graves", disse.

O petista justificou o requerimento dizendo que atualmente existem poucas certezas em relação ao uso da hidroxicloroquina. "Vários problemas de saúde, problemas sanguíneos, cardíacos e até mesmo de perda da visão, esses são os efeitos cloroquina. Estamos fazendo o que todos os médicos do Brasil, com seriedade, estão fazendo: rejeitando essa orientação de Bolsonaro, pois, ele nem é cientista, nem é médico", concluiu.

Humberto rebateu chamando o mandatátio de "irresponsável" e que "ele [Bolsonaro] deveria parar de querer bancar o que não é. Ele não é médico, não entende nada disso e está expondo milhões de pessoas a sofrerem os efeitos colaterais do uso dessa medicação".

 

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