Repercussão

Veja a íntegra da reunião ministerial do governo Bolsonaro

O vídeo foi dividido em 10 partes e contem possíveis provas da tentativa de interferência, por parte de Bolsonaro, na Polícia Federal, conforme afirma o ex-ministro Sergio Moro

Douglas Hacknen
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Douglas Hacknen
Publicado em 22/05/2020 às 20:14 | Atualizado em 22/05/2020 às 21:58
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Reunião ministerial do governo Bolsonaro - FOTO: REPRODUÇÃO

Foi divulgado nesta sexta-feira (22), pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), o vídeo da reunião ministerial, realizada no dia 22 de abril, apontada como prova dos depoimentos do ex-ministro da Justiça e segurança Pública, Sérgio Moro. Do material, foram retirados apenas dois trechos que envolvem comentários sobre a China e o Paraguai. O vídeo foi dividido 10 partes, confira o resumo do conteúdo de cada uma delas:

Parte 1

O ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Braga Netto, fala sobre a apresentação de um vídeo do programa pró-Brasil, programa do Governo Federal para integrar e aprimorar ações estratégicas para recuperação e retomada do crescimento socioeconômico em resposta aos impactos relacionados ao coronavírus. O projeto foi classificado por Braga Netto como o "Plano Marshall brasileiro". Após a explanação do programa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, destaca que o Plano Marshall foi um desastre e que o crescimento do Brasil precisa vir de investimentos privados.

Parte 2

Paulo Guedes destaca que o Brasil está quebrado em todos os níveis. Bolsonaro fala que a imprensa inventa coisas sobre ele. Após a intervenção do presidente, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, começa a falar e cobra reformas mais ousadas para que o País volte a crescer.

O secretário da Previdência, Rogério Marinho, lembrou que a crise ocasionada pelo coronavírus não há parâmetros nos últimos sem anos. Marinho pediu que os dogmas fossem colocados de lado e que os ministros tenham mente aberta. 

Parte 3

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, inciou a sua fala sugerindo que o governo deveria aproveitar a atenção da imprensa dada à pandemia do novo coronavírus para 'passar reformas infralegais de desregulamentação' e simplificar normas. O ministro usou o termo "passar a boiada" para se referir a uma mudança de normas expressiva, ele afirmou ainda que não precisa do Congresso e que a Advocacia Geral da União deveria ficar atenta para que essas pautas sejam avançadas pouco a pouco.

Bolsonaro destacou que os Estados e os municípios não têm condições de pagar o funcionalismo público e que vão querer empurrar a dívida para o governo federal, mas 'a união não é um saco sem fundo'. "Não é tá bom, o ministério fatura, deu 'merda', joga no colo do presidente", argumentou o presidente.

Falando sobre as manifestações que ocorreram em frente ao Palácio do Planalto, no dia 19 de abril, pedindo intervenção militar, o presidente chamou os apoiadores que levantam placa de AI-5 de coitados. "É só porrada o tempo todo em cima de mim, vou continuar indo em qualquer lugar do Brasil", falou.

O presidente ainda cobrou um posicionamento mais duro por parte dos ministros sobre os decretos dos governos estaduais e municipais durante o período de pandemia da covid-19. 

Parte 4

No trecho mais polêmico da reunião, aparece a fala de Bolsonaro reclamando sobre a falta de informações da Polícia Federal (PF), das Forças Armadas e da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) sobre a segurança de sua família e amigos.

"Tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora, os demais eu vou! Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não tenho informações. A ABIN tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, pô! Aparelhamento, etc. Mas a gente num pode viver sem informação", afirmou o presidente.

Parte 5

Neste trecho está uma fala do então ministro da Saúde, Nelson Teich, explicando como seriam as diretrizes adotadas pelo pasta da Saúde (MS) para conter a pandemia. "Não é que vai sair amanhã, mas a gente precisa de um planejamento", destacou Teich. Jair Bolsonaro argumenta sobre possíveis laudos precipitados sobre a doença. O mandatário destacou ainda que o ministério deve evitar levar mais medo para a população.   

Parte 6

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, chamou integrantes do PT, MDB e PSDB de "ladrões". Ele fazia referência a políticos e indicados desses partidos que comandaram o banco estatal antes dele. Guimarães diz que esses ex-dirigentes não se importavam com o fato de o banco cobrar dos correntistas juros de 25% ao mês e que ele sim, se importa.

"Primeiro, presidente, o maior programa da história do mundo de inclusão social digital, que nós estamos fazendo nesse governo. Pessoas que tomavam dinheiro a 25% ao mês. Quer dizer, todos os ladrões lá, PT, PMDB, PSDB, aquela ladroagem toda, 25% ao mês. E ninguém se indigna. Esse governo que se indignou, o governo dos liberais", afirmou Guimarães.

Parte 7

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, fez duras críticas à ação de governadores e prefeitos por causa das medidas restritivas contra a pandemia do coronavírus. Damares informou que a sua pasta estava pedindo a prisão de alguns governadores e prefeitos.

"A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos. E nós estamos subindo o tom e discursos tão chegando. Nosso ministério vai começar a pegar pesado com governadores e prefeitos", acrescenta.

Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo, sugeriu a utilização de resorts com cassinos como saída para a economia. Marcelo lembrou que o tema "talvez seja muito polêmico", mas é "importante neste momento". 

Ao começar a defender o projeto, Marcelo Álvaro Antônio disse que a ministra "Damares está olhando com cara feia para mim". "Não é legalização de jogos, não é bingo, não é caça-níquel, são resorts integrados", ele diz.

"Tem que ser um projeto muito bem feito que eu acredito que pode ser, nesse processo da retomada, uma grande oportunidade pro Brasil atrair grandes complexos, dos quais apenas 3% são utilizados para os cassinos. E outra, isso não tem impacto diretamente nenhum na família dos trabalhadores brasileiros", defende Marcelo Álvaro Antônio.

Parte 8

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou os ministros do Supremo Tribunal Federal de "vagabundos" e afirmou que os membros da Corte deveriam ser presos. "Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF", disse.

Logo em seguida, Bolsonaro criticou membros do funcionalismo público que recebem altos salários. Segundo o presidente, essas pessoas, dos três poderes, "não sabem o que é povo". "São pessoas aqui em Brasília, dos três poderes, que não sabem o que é povo. Eu converso com alguns, não sabe o que é o feijão com arroz, não sabe o que é um supermercado. Esqueceu. Acha que o dinheiro cai do céu."

O mandatário declarou ainda que agentes públicos estão interessados na manutenção de seus privilégios e lembrou que os privilégios dele já estão garantidos. "Eu tô com os meus privilégios garantidos, meus cem mil por mês", em média, R$ 100 mil por mês que essa galera ganha, né? Legalmente. E acha que isso não vai acabar nunca."

Parte 9

Durante mais uma fala, Guedes disse que a economia brasileira é um urso hibernando e que a 'segunda onda', a da crise econômica, está chegando antes do que ele esperava. O ministro argumentou que esperava que a parte econômica só fosse 'bater na porta' quando o vírus começasse a ir embora.

"O presidente tá no ponto futuro, porque o presidente falou o seguinte: 'tudo bem, tem a primeira onda, que é a da saúde, mas tem a segunda que é a da economia, e uma vem agarrada com a outra'. Nós estamos ainda tentando sair da primeira, pô. A segunda já está querendo bater. Eu ainda acho que nós estamos preservando os sinais vitais da economia brasileira. Ela, pra mim, ainda é um urso hibernando. Você baixa sua energia pra zero, consumo de energia pra quase zero, só respira, mas quando você sai da gruta, sai pra comer o primeiro bicho que passar", disse.

Parte 10

A última parte da reunião começa com Guedes mandando Damares deixar "cada um se fo*** do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô", disse ao se referir à atração de empresários do ramo de turismo para explorar áreas no Brasil.

Após isso, o economista falou que o mundo inteiro quer investir no Brasil e estão dispostos a colocar "centenas de bilhões de dólares" no País. "Então, basta a gente fazer isso, quer dizer, vai fazer concorrência para concessão, privatização, então nós já estamos na pista certa, já estamos indo para a direção certa", disse.

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