Pré-candidaturas que se multiplicam

RECIFE Cenário traçado até agora na cidade é de pulverização de candidatos a prefeito

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 02/08/2020 às 6:00
FABIO RODRIGUES POZZEBOM / ABR
Material sobre processo eleitoral será divulgados no site e redes sociais da OAB-PE e em empresas de comunicação - FOTO: FABIO RODRIGUES POZZEBOM / ABR
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Em meio à pandemia do coronavírus, o jogo eleitoral de 2020 finalmente encorpou. E o número de pré-candidatos à Prefeitura do Recife já chama a atenção a um mês do início das convenções partidárias. São nove pré-candidaturas - sendo cinco consideradas de direita e quatro, de esquerda - interessadas em ocupar a chefia do Executivo na capital. E tem até partido com duas pré-candidaturas, como é o caso do PDT, que lançou dois pré-candidatos na semana passada: o deputado federal Túlio Gadelha e a ex-secretária de Habitação da atual gestão da Prefeitura do Recife Isabella Roldão. A pulverização é debatida por analistas ouvidos pelo JC.

A primeira das teses está relacionada à fragmentação da Frente Popular, que chegou, em muitas eleições, com o PT e o PDT no mesmo grupo, embora em 2016 isso já não tenha ocorrido na disputa municipal. No segundo turno daquele ano, os recifenses escolheram entre Geraldo Julio (PSB) e o deputado estadual João Paulo, que na época era do PT, partido que estava na oposição. "Nas eleições municipais mais recentes, não ocorreram tantas pré-candidaturas, porque a aliança da Frente Popular estava mais coesa. É um jogo. Os partidos começam a se movimentar para aumentar o preço da barganha dentro do grupo. E os que não forem contemplados vão achar mais viável uma disputa. Também estamos vendo surgirem candidatos que serão lideranças futuras", diz o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ernani Carvalho.

Ernani argumenta ainda que a eleição do Recife passa pelo xadrez político do cenário nacional. "Também existe uma confluência de forças dos interesses nacionais e regionais dentro dos próprios partidos, como ocorre no PT e PDT. Os acordos nacionais podem ajudar a definir esse jogo com relação a algumas pré-candidaturas, e vão surgir as moedas de troca", comenta. Ele estava se referindo também ao fato de que o PDT e o PT estão de olho no cenário político de 2022, quando essas legendas devem lançar candidatura própria à Presidência da República.

A quantidade de pré-candidatos à Prefeitura do Recife reflete o "desgaste temporal da Frente Popular, que era uma grande coalizão com o ex-governador Eduardo Campos (falecido em 2014) e também na primeira eleição de Paulo Câmara (governador de Pernambuco)", segundo a professora da Facho e cientista política Priscila Lapa.

Para ela, há também outro fator que pode explicar o grande número de pré-candidatos: "As mudanças nas regras eleitorais vão ter consequências na eleição das casas legislativas dos municípios. E o voto de legenda vai contar muito para eleger mais vereadores", explicou. Eleger os vereadores é importante para o governante conseguir aprovar os seus projetos no Legislativo.

Priscila também levantou um conceito de que a fotografia atual do cenário no Recife mostra uma coincidência de "pré-candidatos jovens e com perfil parecido", citando os deputados federais Marília Arraes (PT), Túlio Gadelha (PDT) e João Campos (PSB). "Eles têm um discurso de renovação parecido. Têm destaques nas redes sociais. Os dois últimos apareceram em grandes projetos na Câmara (dos Deputados). Isso tudo é muito provisório e eles podem acabar saindo juntos na Frente Popular. A pandemia trouxe um cenário de muita incerteza", avaliou.

Muitas das atuais pré-candidaturas vão se estender até o próximo 16 de setembro, último dia previsto para a realização das convenções partidárias que vão escolher os candidatos a prefeito. "A profusão de pré-candidaturas surge quando a disputa eleitoral não está ancorada em polos políticos estabelecidos. Quando há uma fragmentação, a resposta do sistema democrático é a pulverização", defendeu o cientista político e professor da UFPE Arthur Leandro. Na argumentação dele, essas pré-candidaturas são colocadas como "balão de ensaio para perceber a tendência do eleitorado, podendo também ser o resultado do empreendedorismo político de alguns atores ou dos segmentos políticos que eles representam".

Além dos citados anteriormente, também são pré-candidatos: Patrícia Domingos (Podemos), Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB), Charbel Maroun (Novo), Alberto Feitosa (PSC) e Thiago Santos (UP). Mendonça Filho (DEM) e Daniel Coelho (Cidadania) ainda vão tomar decisão.

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