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ONU: Bolsonaro culpa 'índios e caboclos' por incêndios e critica 'fique em casa'

O presidente também afirmou que os incêndios no Pantanal e na Amazônia vêm sendo usados numa "brutal campanha de desinformação" com o objetivo de atacar seu governo

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Publicado em 22/09/2020 às 14:59 | Atualizado em 22/09/2020 às 15:05
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Em virtude da pandemia do novo coronavírus, a 75ª Assembleia Geral da ONU é realizado online - FOTO: REPRODUÇÃO/TV BRASIL
O presidente Jair Bolsonaro afirmou em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, 22, que os incêndios no Pantanal e na Amazônia vêm sendo usados numa "brutal campanha de desinformação" com o objetivo de atacar seu governo. Ele afirmou que o apoio de instituições internacionais a esta suposta campanha é explicado pela riqueza dos biomas brasileiros. Pressionado mundialmente após o País registrar recordes de queimadas na Amazônia e no Pantanal que ameaçam acordos comerciais, o líder brasileiro atribuiu a índios e caboclos a disseminação do fogo em áreas de preservação.
 
"Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta. Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil."
 
O presidente afirmou que a propagação do fogo está relacionada à queima de roçadas por parte de caboclos e índios. "Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas."
 
Em sua fala, Bolsonaro disse que "focos criminosos são combatidos com rigor e determinação". "Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização fundiária, visando identificar os autores desses crimes", afirmou.
 
Bolsonaro alegou que a extensão das regiões Amazônia e do Pantanal dificulta o combate às queimadas e também o trabalho de fiscalização como a extração ilegal de madeira. "Lembro que a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí, a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também, a extração ilegal de madeira e a biopirataria", disse o presidente. "O nosso Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas", completou, citando que "as grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição".
 
No discurso, gravado na semana passada, Bolsonaro fez críticas a medidas de isolamento social contra a covid-19 e acusou a imprensa de espalhar pânico sobre a pandemia. "Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema 'fique em casa' e 'a economia a gente vê depois', quase trouxeram o caos social ao País", afirmou. Com mais de 137 mil mortos, o Brasil é o segundo país do mundo em número de óbitos e o terceiro em casos, com mais de 4, 5 milhões de pessoas contaminadas. Bolsonaro acusou a imprensa de "politizar" a doença e lamentou as mortes no mundo.
 
O presidente também citou que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) delegou a prefeitos e governadores medidas para conter a propagação da covid-19, distorcendo o teor do que decidiram os ministros da Corte. Diferentemente do que disse Bolsonaro, a decisão assegurou aos Estados e municípios autonomia para tomar medidas que tenham como objetivo tentar conter a propagação da doença, mas não exime a União de realizar ações e de buscar acordos com os gestores locais.
 
Como de tradição, o presidente brasileiro foi o primeiro chefe de Estado a discursar no evento, que ocorre de forma virtual e presencial neste ano.

Tecnologia 5G

Durante seu pronunciamento, Bolsonaro citou a tecnologia 5G e afirmou que fará parcerias que "respeitem nossa soberania, prezem pela liberdade e pela proteção de dados".
 
"Nesta linha, o Brasil está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação, a exemplo da indústria 4.0, da inteligência artificial, nanotecnologia e da tecnologia 5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa soberania, prezem pela liberdade e pela proteção de dados", destacou.
 
No início deste mês, em transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que é dele a palavra final sobre o fornecimento da tecnologia 5G no Brasil. Na ocasião, disse que não vai decidir sozinho sobre o assunto e que consulta ministros do governo e até integrantes do governo americano sobre o tema. O leilão do 5G no Brasil, previsto para o ano que vem, é palco de disputa tecnológica entre Estados Unidos e China.

 

Apoio a Trump

 
A 42 dias das eleições americanas, Bolsonaro entrou na campanha do presidente Donald Trump, que tenta um segundo mandato, ao elogiar a iniciativa lançada pelo líder americano como solução para o conflito no Oriente Médio.
 
"O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito israelense-palestino", disse.
 
Bolsonaro afirmou que "a nova política do Brasil de aproximação simultânea a Israel e aos países árabes converge com essas iniciativas, que finalmente acendem uma luz de esperança para aquela região".
 
O brasileiro também prestou solidariedade ao povo do Líbano pelas explosões que deixaram mais de 190 mortos e 6,5 milhões de feridos. Bolsonaro disse acreditar que este "momento é propício para trabalharmos pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio."
 
O presidente ainda fez um apelo pela "liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia". Ao final, encerrou o discurso afirmando que o "Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base".
 
 

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