Eleições 2020

Com menções a Lula, Bolsonaro e Eduardo Campos, candidatos do Recife fazem estreia no guia eleitoral

Os candidatos à Prefeitura do Recife usaram o espaço para salientar uma ligação com lideranças políticas, do ex-presidente Lula ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), passando por Eduardo Campos

Cadastrado por
Cássio Oliveira
Mirella Araújo
Luisa Farias
Renata Monteiro
Publicado em 10/10/2020 às 0:05
DIVULGAÇÃO
LEGADO João apresenta novos planos e também defende atual gestão - FOTO: DIVULGAÇÃO
Leitura:

 

Arte: JC
Eleições 2020 - Arte: JC

Os candidatos à Prefeitura do Recife tiveram nesta sexta-feira (9) a sua estreia no propaganda eleitoral, uma primeira oportunidade de se apresentarem para um público massivo na televisão e no rádio. Cada um à sua maneira, com o tempo que dispunham, eles fizeram uma introdução sobre a sua trajetória e buscaram passar a mensagem sobre diferencial das suas candidaturas. Alguns usaram o espaço também para salientar uma ligação com lideranças políticas, do ex-presidente Lula ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), passando por Eduardo Campos. 

O guia eleitoral será exibido diariamente duas vezes por dia, às 13h e às 20h30, e vai até o dia 12 de novembro, a três dias do primeiro turno. Haverá também as inserções, exibidas nos intervalos comerciais ao longo da programação, totalizando 70 minutos por dia. Neste caso o tempo pode ser dividido entre o candidato majoritário e os proporcionais. 

João Campos

Detentor do maior tempo de guia, 3 minutos e 57 segundos, João Campos (PSB) foi o único dos candidatos que veiculou duas versões diferentes às 13h e às 20h30. No primeiro guia, o candidato fez homenagens aos profissionais de saúde que atuam no combate a pandemia do novo coroanvírus (covid-19), referências ao legado deixado pelo ex-governador Eduardo Campos, seu pai, e um recado direto aos opositores. 

"Essa campanha tem sido diferente, a realidade ainda exige restrições, mesmo quando a vontade é de abraçar, estar perto, agradecer o carinho com mais carinho. Mas, em respeito a cada recifense, em solidariedade a quem perdeu pessoas queridas e em reconhecimento a quem esteve o tempo todo na linha de frente, a gente quer continuar fazendo nossa parte", declarou Campos, que dedicou o seu programa eleitoral aos profissionais de saúde e todos os serviços essenciais que atua no enfrentamento da pandemia.

Iniciar com o mote da saúde, pode ser lido também com uma forma de defesa por parte de João Campos, já que os candidatos a prefeito da oposição têm feitos inúmeras críticas sobre a forma como as gestões do PSB no âmbito municipal e estadual estão conduzindo as ações de combate ao coronavírus, desde que a pandemia começou. Além disso, João Campos tem se deparado durante a campanha, com questionamentos sobre as investigações sobre os supostos desvios de recursos públicos, que seriam destinados ao enfrentamento da covid-19, no âmbito municipal.

>> João Campos faz referência ao pai, o ex-governador Eduardo Campos, em primeiro dia de guia eleitoral

Desde que a corrida eleitoral foi iniciada, João Campos tem feito diversas referências ao seu pai, ressaltando as ações promovidas em seu governo, durante os seus dois mandatos. Nas redes sociais, o socialista também tem feito postagens, citando também seu avô, o ex-governador Miguel Arraes. No guia eleitoral, não foi diferente, e o candidato a prefeito da Frente Popular do Recife recorreu a frases e imagens do ex-governador de Pernambuco, ressaltando os avanços nas áreas de educação, saúde e emprego e renda.

"Olha gente, eu não vou mentir para vocês. Todo mundo sabe que o Recife tem um monte de problemas que precisam ser encarados, até porque, como dizia Eduardo, a gente não tem que dar intimidade a problema, temos que dar solução", afirmou.

João Campos também aproveitou a propaganda eleitoral para mandar um recado direto aos candidatos oposicionistas que têm feito críticas ao fato de ter apenas 26 anos e não ter nenhuma experiência como gestor público. "Sei que essa vai ser campanha dura, os adversários já estão me acusando de ser muito jovem, de não estar preparado. Mas, o tempo que eles gastam se preocupando comigo, eu vou investir me preocupando com vocês. Eu tô aqui para trabalhar e 'pegar no serviço' e vocês sabem com quem eu aprendi isso", referindo-se novamente a Eduardo Campos.

Na versão da noite, foi a vez de apresentar o trabalho já feito pelo candidato, através da sua trajetória como deputado federal, o mais votado em Pernambuco nas eleições de 2018, mas sem abrir mão de várias referências ao nome de Eduardo e de Miguel Arraes.

Depois de algumas cenas do primeiro dia de campanha do socialista, e uma introdução narrada por ele próprio, é traçado um perfil de João, sobretudo da sua atuação na Câmara dos Deputados, a exemplo da criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Óleo. Já a morte de Eduardo é atribuída como o episódio que fez com que ele amadurecesse. "Imagina a responsa de honrar esse legado. Mas filho de quem é João não foge de desafio. Matou no peito e foi à luta", diz o locutor. 

"Ficou bastante claro que ele não vai abrir mão dessa raiz e mostra um pouco aí a disputa pelo legado político do seu pai que hoje vem sendo dividida por alguns políticos no PSB, Geraldo Julio e Paulo Câmara por exemplo", avalia o professor Associado do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho.

"O cara tira onda de tanto que trabalha. Será que lembra alguém?", pergunta o locutor. Em seguida, vem um trecho da entrevista concedida pelo então candidato à Presidência da República Eduardo Campos ao Jornal Nacional na véspera do acidente que o vitimou, em agosto de 2014, em que fala a célebre frase "Não vamos desistir do Brasil". 

Também apareceu nesta versão o prefeito Geraldo Julio (PSB), ressaltando, portanto, os avanços apontados da atual gestão. "O homem vai dar nó em pingo d’água, porque ele não vai só manter tudo que o Recife conseguiu nos últimos anos, e que não foi pouca coisa", diz o locutor em outro trecho do guia.

O cientista político Alex Ribeiro aponta duas características esperadas no guia eleitoral de João Campos: O Eduardismo e a "importância da gestão". "O PSB sempre defendeu o legado do ex-governador Eduardo Campos, e João, por ser seu filho mais velho, talvez seja o maior símbolo dessa representatividade nos últimos anos. E por ser o postulante da situação, ele adota a ideia de uma continuidade e inovação de gestão", explica.

Mendonça Filho (DEM)

O candidato Mendonça Filho (DEM) traz no seu guia a promessa de "arrumar a casa", "retirar o Recife das páginas policiais" e administrar a cidade "em parceria com o governo federal". A candidata a vice-prefeita na chapa de Mendonça Filho (DEM), Priscila Krause (DEM), teve o destaque que nenhum outro postulante ao mesmo cargo apresentou nesta largada, e além de estar presente em toda a produção, foi a responsável por abrir os 2 minutos e 9 segundos disponíveis para a coalizão.

>> Primeiro dia de guia eleitoral no Recife tem Mendonça Filho colocando holofotes em Priscila e prometendo ''governar para todas as famílias''

"Dizem que recifense tem mania de grandeza, mas não é isso não. É que a gente é grande mesmo. E não dá para se acostumar com menos. Ser recifense é ditar o ritmo, é estar na frente em tudo. Mas já tem tempo que a gente perdeu o rumo", diz Priscila, enquanto imagens da cidade e de estações de BRT completamente depredadas são exibidas.

Ernani Carvalho considerou acertada a estratégia de colocar Priscila em evidência "mostrando que se trata de uma equipe, os dois estão juntos", diz. "Segundo o Datafolha, numericamente, ele e João Campos estão entre os dez menos aceitos pelos eleitores. O uso de Priscila Krause é estratégico. No guia eleitoral ela é a responsável por apresentar Mendonça ao eleitorado", completa Alex. 

Pouco depois, na Praça do Derby, surge o próprio Mendonça. Lá, o democrata afirma que a atual gestão "já não governa mais para as pessoas" e diz que o município precisa de uma administração que coloque os recifenses "acima de tudo", uma alusão ao nome da sua coligação, que, por sua vez, remete ao slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido): Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

No guia, o candidato também não deixou de fazer referência a adversários que vêm de família política, como os deputados federais João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), parentes dos ex-governadores Eduardo Campos e Miguel Arraes. "Nenhuma família pode ser mais importante do que a sua. E o nosso compromisso, Priscila, é governar para todas as famílias do Recife", declara. Vale lembrar que Mendonça é filho do ex-deputado federal José Mendonça e Priscila é filha do ex-governador Gustavo Krause.

Como tem feito até agora durante os debates e sabatinas dos quais tem participado, Mendonça também fez questão de ressaltar sua experiência política neste primeiro dia de propaganda eleitoral. "Fui governador, fui ministro da Educação, fiz um trabalho reconhecido em todo o Brasil, mas nada disso é mais importante do que a missão de resgatar o Recife. Vamos arrumar a casa, vamos trabalhar em parceria com o governo federal e tirar Recife do isolamento. Vamos tirar a cidade das páginas policiais. Tenho experiência, uma vida limpa. Vamos juntos trazer de volta a alegria e a grandeza de ser recifense", finaliza o democrata.

Ernani disse sentir falta de uma ênfase maior na sua trajetória. "Talvez porque ele tenha errado a mão em outras eleições, mas cabe aqui a discussão mais forte no sentido de se apropriar da sua expertise como gestor para enfrentar os problemas da cidade do Recife", apontou. 

Marília Arraes

A proposta de combater as desigualdades no Recife, principal eixo do programa de governo da candidata do PT a prefeita, Marília Arraes, foi reforçada durante seu primeiro guia eleitoral, exibido nesta sexta-feira (9). Com imagens da capital pernambucana, seus rios e pontes, a foto de um abraço no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um chamado para as redes sociais, a petista afirmou estar "preparada e motivada" para buscar a retomada econômica no município.

Para Ernani Carvalho, o fato da candidata ter feito uma citação rápida de Lula através da foto por ter relação com a possibilidade de ela ter que disputar o voto bolsonarista mais à frente, caso vá para o segundo com João Campos.  "Isso vai ser fundamental para ela, porque ela e João Campos de certa forma vão estar brigando dentro de um mesmo celeiro ideológico, de centro-esquerda. E obviamente aquele que tiver mais capacidade de articulação com o campo de centro e da direita, que já está se enraizando no país, vai ter mais chances de lograr êxito", disse. 

A própria Marília narrou seu guia - que tem duração de 1 minuto e 23 segundos - e iniciou a propaganda ressaltando que nasceu e se criou no Recife. Destacou o povo trabalhador da capital e exibiu a imagem de pessoas fazendo um coração com as mãos, coração esse, que a petista vem usando em sua campanha. "Uma terra abençoada, vibrante e linda por natureza, de um povo trabalhador, guerreiro, forte. Gente que faz com o coração, que nasceu para brilhar, como o sol que ilumina nossas ruas, pontes, rios e morros, trazendo para cada canto um brilho próprio", afirmou.

>> Em guia, Marília Arraes promete retomar economia do Recife, abraça Lula e se diz preparada

Já Alex Ribeiro considera que a estratégia de se associar à figura de Lula, mas não diretamente ao PT pode ser arriscada. "O Partido dos Trabalhadores tem uma base considerável no Recife. O lulismo é forte na capital, mas seus seguidores abraçam a causa petista. Ignorar isso é criar uma rixa interna que pode implodir sua competitividade durante a campanha", disse o cientista. 


Sem citar nomes, mas alfinetando as gestões do PSB, Marília concluiu o guia afirmando que nos últimos anos, "andaram brincando com a esperança da nossa gente". E completou dizendo ter certeza de que há uma consciência da necessidade de mudança e chamou o eleitorado para seguir suas redes sociais.

Carlos (PSL)

Disputando pelo mesmo partido que o presidente Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, o candidato do PSL, Carlos, iniciou sua jornada prestando solidariedade as famílias das vítimas da covid-19 na capital pernambucana. O candidato ainda associou o número dele ao do presidente Bolsonaro e apresentou uma beneficiária do auxílio emergencial, mas sem citar diretamente o nome do presidente. 

Ernani alerta que essa estratégia é ambígua e até perigosa, lembrando da disputa pelo legado bolsonarista em Recife pelas candidaturas de direita. "Não é só dele, se você observar a delegada Patrícia também utilizou dessa estratégia quando se apresenta como uma nova política e outros candidatos como o coronel Alberto Feitosa que falou dentro de uma linguagem mais conservadora no sentido de pátria-família.  Lembrando que Bolsonaro ganhou na capital no primeiro turno. O Carlos não está sozinho nessa disputa e o próprio Mendonça também vai disputar esse grupo", disse. 

Delegada Patrícia (Podemos)

Com 37 segundos de guia eleitoral gratuito, a Delegada Patrícia (Podemos) se colocou como a opção da "nova política" no seu guia eleitoral. Com direito a boliche, derrubando pinos com os números dos concorrentes, a postulante disse não ser "política profissional, nem herdeira de ninguém".

"Meu nome é Patrícia, tenho 38 anos, nasci no Rio de Janeiro e há doze anos escolhi o Recife para viver, não sou política profissional, nem herdeira de ninguém. Trabalho desde os nove anos de idade porque a minha família era muito humilde. A minha história com o Recife começa quando eu virei delegada. Aqui é o meu lugar, essa é a nossa cidade e a mudança que a gente quer está começando agora", afirmou a candidata.

>> Com direito a boliche, guia eleitoral da Delegada Patrícia promete "derrubar a velha política" no Recife

Ao som da voz de um locutor afirmando que a delegada é a única opção "para derrubar a velha política", a candidata derrubou pinos com os números 40, 25 e 13, respectivamente, de João Campos (PSB), Mendonça Filho (DEM) e Marília Arraes (PT).

A bandeira contra a corrupção, lembra Alex Ribeiro, é característica de uma candidatura "outsider" como a de Patrícia. "Ao apoiar a operação lava jato e o ex ministro Sérgio Moro, a estratégia da postulante é se colocar como a única capaz de inovar a maneira de gerir a cidade. No entanto, é preciso lembrar que o sucesso desse tipo de candidatura não é característico no Recife", afirma. 

Coronel Feitosa

O candidato do PSC e deputado estadual, Coronel Alberto Feitosa, criticou a administração do Recife e afirmou que vai lutar por uma cidade verde e amarela, forte e cristã. O candidato disse ainda que vai cuidar do Recife 'como o presidente Bolsonaro cuida do Brasil'.

Charbel

Carbel Maroun, candidato do Novo, se colocou como o único que não fez "acordão para a eleição" e usou seu tempo no programa eleitoral para criticar os candidatos que usam verba pública para fazer campanha. Cherbel complementa que o dinheiro poderia ser alocado em saúde, e não em publicidade.

Arte: JC
Eleições de 2020 - FOTO:Arte: JC
DIVULGAÇÃO
PSC Coronel Feitosa criticou a atual gestão e colou no presidente - FOTO:DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
PSL Carlos agradeceu aos profissionais de saúde e se associou a Bolsonaro - FOTO:DIVULGAÇÃO
REPRODUÇÃO
Marília Arraes disputou a eleição no Recife em 2020 contra João Campos, do PSB, e foi derrotada no segundo turno. - FOTO:REPRODUÇÃO
DIVULGAÇÃO
PODEMOS Delegada Patrícia construiu o guia focado na sua apresentação - FOTO:DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Mendonça e vem reforçando a imagem de sua vice, Priscila Krause, na campanha no Recife - FOTO:DIVULGAÇÃO

Comentários

Últimas notícias