Pela primeira vez na sua história política, Paulista terá segundo turno nas eleições municipais de 2020. A cidade ultrapassou o número de 200 mil eleitores (216,8 mil exatamente) e precisa cumprir o dispositivo constitucional de realizar a disputa majoritária em dois turnos. Abertas as urnas e divulgados os resultados, os candidatos Yves Ribeiro (MDB), que teve 34,98% dos votos e Francisco Padilha (PSB), com 26,14%, vão se enfrentar no próximo dia 29. A estratégia, agora, é conquistar os votos dos eleitores dos candidatos derrotados e dos que não saíram de casa no domingo (15). Em Paulista, como na maioria dos municípios brasileiros, a abstenção foi alta este ano, chegando a quase 20% (18,67%).
O cientista político Arthur Leandro considera positiva a eleição com segundo turno em Paulista. "As eleições de segundo turno são dotadas de um grau de imprevisibilidade maior, basicamente porque os vereadores são desmobilizados. No primeiro turno, ele pede voto pra si e para o candidato da majoritária, sendo um importante cabo eleitoral. No segundo turno é necessário que os compromissos dos candidatos sejam críveis para convencer a população, o que torna especialmente interessante a condição do segundo turno em Paulista", pondera.
Yves Ribeiro está tentando sua terceira passagem pela Prefeitura de Paulista. Já comandou a cidade em 2005, pelo PPS, e em 2012 pelo PSB. Tenta voltar à cadeira de prefeito num momento de fragilidade do grupo da situação no município. Em seu segundo mandato, o prefeito Júnior Matuto (PSB) foi afastado do cargo pela Justiça por duas vezes, sob denúncia de corrupção e improbidade administrativa. O último pedido para voltar ao cargo aconteceu no final de outubro, mas foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o vice-prefeito Jorge Carreiro assumiu a prefeitura.
O candidato Yves Ribeiro conta que já estava de pé hoje às 6h, depois de ter ido dormir às 3h da madrugada. A pressa é para conseguir apoio dos candidatos que não passaram para o segundo turno e engrossar a coligação. "Nossa estratégia é buscar alianças com os outros partidos e colocar os pés nas ruas para buscar os votos nas regiões onde não fomos muito bem. Acreditamos que muitos partidos vão ficar comigo porque existe muita oposição as atual governo. A maior revolta do povo foi a corrupção (no governo de Matuto) para as páginas policiais", destaca.
Ele conta que já nesta segunda-feira (16) foi em busca do apoio dos candidatos. "Alemão (REP) é um antigo apoiador nosso e teve mais de 8 mil votos, Ramos (PDT) ficou em terceiro lugar e disse que ia ficar neutro, mas tem apoiadores dele e nos apoiam e assim a gente vai construindo. O meu forte é estar junto da massa, mas com o coronavírus isso fica difícil, então vamos fazer caminhadas sem aglomerações, fazer visitas e andar pela cidade com vereadores e líderes comunitários. Mas sabemos que política só se vence no dia", reconhece Yves Ribeiro.
Do lado de Francisco Padilha, a ideia é desvencilhar seu nome da imagem de Júnior Matuto. Embora sejam do mesmo partido, ele diz que a oposição vem usando esse argumento para tentar enfraquecer sua campanha. "Tentam confundir a cabeça do eleitorado fazendo associações indevidas, dizendo que sou igual a Júnior Matuto ou que serei manipulado por ele. Mas Padilha é Padilha e Matuto é Matuto. Ele está encerrando a história dele no final do ano e Padilha vai começar uma nova se o povo quiser", defende.
Disputando sua primeira eleição para prefeito, Padilha diz que é filho da cidade e que trabalhou nos últimos 15 anos na prefeitura da cidade. "Por isso eu digo que Padilha é diferente: é filho da cidade, nunca disputou uma eleição e tem capacidade técnica e administrativa", reforça. A estratégia do candidato para o segundo turno também é buscar apoio dos outros e conversar com o eleitor nas regiões onde houve alto índice de abstenção.
ANÁLISES
Na avaliação da cientista política Priscila Lapa, a situação política do município nos últimos anos gera um clima de descrédito e de desânimo para o eleitor fazer sua escolha. "Paulista foi palco de duas administrações consecutivas do PSB, que findam com escândalo político que afastou o prefeito às vésperas da eleição. Mesmo assim, o candidato do governo chega ao segundo turno, para disputar com uma figura política (Yves Ribeiro) que tem sua candidatura marcada por não ser totalmente afastada de problemas com a Justiça. Mostra também o peso que a corrupção tem tido na eleição. Porém não podemos desconsiderar o peso da máquina, que garantiu o candidato governista no segundo turno", observa.
Yves Ribeiro teve sua candidatura impugnada em outubro deste ano, porque teria tido suas contas públicas da gestão 2005-2008 julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Ele conseguiu liminar suspendendo a impugnação e seguiu na disputa, ficando em primeiro lugar no primeiro turno. Arthur Leandro explica que enquanto a situação dele não for decidida em última instância, ele tem o direito de disputar o segundo turno e assumir caso vença as eleições. "Ele tem os direitos assegurados até o processo transitar em julgado, porque ele não teve os direitos cassados", afirma.
Priscila Lapa também acredita que a eleição em paulista também reproduz a situação nacional de um eleitor mais conservador, com medo de mudanças mais drásticas e que prefere a manutenção de uma situação. "Temos um eleitor incomodado inquieto com a economia, com a pandemia, mas está distante do leitor de 2018 que queria mudança. Receio da mudança resultar em algo pior do que a continuidade", continua.
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