Para Felipe Carreras, falar em impeachment de Bolsonaro em meio à vacinação contra covid-19 é ''desserviço''
Partidos de oposição, entre eles o PSB de Carreras, apresentaram pedido de impeachment contra Bolsonaro
O deputado federal Felipe Carreras vem deixando claro sua postura de independência dentro do PSB. O parlamentar já afirmou não ser um "avatar" comandado pelo partido e tomou decisões que contrariaram a direção nacional da legenda, tendo, inclusive, sido punido pelo partido em 2019, após votar em favor da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Agora, mais uma vez o socialista vai na contramão do partido e diz que falar sobre impeachment de Jair Bolsonaro em meio ao início da vacinação contra covid-19 é um "desserviço". Na última semana, as lideranças do PSB, PT, PCdoB, PDT e Rede, apresentaram um pedido de impeachment contra o presidente da República.
>> Dividido, PSB cogita até ter candidato à presidência da Câmara dos Deputados
>> Ao apoiar Arthur Lira, prefeito do Recife, João Campos, pode ter diálogo facilitado em Brasília
"Respeito quem pensa diferente, mas falar sobre impeachment num momento que o país se prepara para iniciar um momento histórico da vacinação é um desserviço. O foco total agora é na vacinação e salvar vidas. Vou cobrar do governo federal a distribuição e a imunização do povo", afirmou Carreras em suas redes sociais, na noite desse domingo (17).
No pedido de impeachment, as legendas de oposição consideram a "prática de crimes de responsabilidade em série, que resultaram na dor asfixiante do Amazonas e de milhares de famílias brasileiras". "O presidente da República deve ser política e criminalmente responsabilizado por deixar sem oxigênio o Amazonas, por sabotar pesquisas e campanhas de vacinação, por desincentivar o uso de máscaras e incentivar o uso de medicamentos ineficazes, por difundir desinformação, além de violar o pacto constitucional entre União, estados e municípios", destaca a ação.
Na manhã desta segunda-feira (18), Carreras reforçou em suas redes sociais que faz oposição a Bolsonaro e esclareceu que não concorda que esse seja o momento adequado para um impedimento. "Que fique claro: sou oposição ao Governo. A abertura de um processo de impeachment cabe, exclusivamente ao Presidente da Câmara. Não concordo que seja o momento para isso. É hora do parlamento mostrar compromisso e atenção com a vacinação. O foco deve ser salvar vidas", escreveu o socialista.
Arthur Lira
Outro ponto de discordância entre Felipe Carreras o PSB se dá sobre a eleição para presidente da Câmara dos Deputados. O diretório nacional do partido indicou apoio a Baleia Rossi (MDB), candidato de Rodrigo Maia (DEM), mas Carreras defende a candidatura de Arthur Lira (PP), candidato que tem apoio do presidente Jair Bolsonaro.
>> Aliado de Arthur Lira, Felipe Carreras ironiza eventual aliança do PT com candidato de Rodrigo Maia
Na última semana, Carreras participou de encontro entre Lira e a bancada pernambucana com o governador Paulo Câmara e o prefeito João Campos. Na ocasião, ele falou sobre apoiar o alagoano. "Há a decisão de vários parlamentares do PSB de apoiar Arthur. Quem decide não é partido, são os parlamentares, é decisão interna, quem prega democracia, os partidos que pregam democracia precisam agir dessa forma, para ter coerência. Houve recomendação do diretório, mas vejo o governador, por exemplo, que deixou a bancada tomar a decisão que achar conveniente, o prefeito também. Então, estamos tranquilos e é decisão da Casa não de presidente de partido", destacou o parlamentar.
Além de Felipe, outros parlamentares do PSB questionaram o posicionamento de Alessandro Molon ao definir que iria apoiar o candidato escolhido por Rodrigo Maia. Ou seja, indo contra um indicativo aprovado anteriormente por estes mesmo grupo de deputados, incluindo ainda os prefeitos eleitos João Campos (Recife) e JHC (Maceió), em apoio a Lira. De acordo com estes deputados socialistas, “não houve nenhuma consulta” e muito menos “votação interna''. Eles cobraram, inclusive, a divulgação da lista com a maioria dos parlamentares que defendem a adesão do bloco de Rodrigo Maia.
“O líder se escorou nessa recomendação e só temos visto, pela imprensa, essa comunicação de que estamos evoluindo, e indo para um bloco sem nunca ter votado nesse assunto. Acredito que há uma forçação de barra por uma parte (do partido), e a corda não está sendo esticada pelo nosso campo. Estamos pedindo uma reunião para discutir o documento que formulamos e deliberar sobre o assunto”, frisou Julio Delgado em entrevista recente ao JC.
Felipe Carreras também já disse que a recomendação do Diretório Nacional de não votar em nenhum candidato ligado ao governo federal é incoerente. "O Diretório Nacional fez uma recomendação, em uma reunião que não estava nem pautada a eleição da Câmara dos Deputados. Ficou decidido não apoiar Artur Lira por representar uma candidatura de governo e nenhum outro candidato que represente esse projeto. Mas, o escolhido por Maia foi o deputado Baleia Rossi, que tem 90% dos seus votos em matérias do governo, desde o início da legislatura”, declarou Carreras.
“Fica uma incoerência do partido em apoiar Baleia. Ele vota na base do governo e o MDB tem o líder do governo no Senado. Ele foi líder do governo do presidente Michel Temer, protagonista das reformas trabalhistas e da previdência, algo repudiado pela Oposição”, complementou.
Mesmo tendo se posicionado em favor de Arthur Lira, Carreras tem deixado claro que permanece no campo de oposição ao presidente Jair Bolsonaro.