''Bolsonaro está emparedado e precisa ceder'', avalia cientista político
Para o doutor em Ciência Política Adriano Oliveira, mesmo em crise, um impeachment de Bolsonaro não seria bom para o País
Doutor em Ciência Política, Adriano Oliveira analisou, na manhã desta quinta-feira (25), o encontro de Jair Bolsonaro (sem partido) com representantes de outros poderes para tratar de ações contra a pandemia da covid-19. Na visão do professor, o presidente da República está ''emparedado'' e precisará ceder para evitar uma crise ainda maior no País.
"Bolsonaro está emparedado porque precisa demitir o ministro das Relações Exteriores, está emparedado pelos governadores, que estão de modo responsável defendendo isolamento, ele está emparedado pelo Congresso. Então, para que as coisas melhorem, Bolsonaro precisa ceder. Ele não pode fazer reunião com chefes de outros Poderes e convocar apenas governadores amigos. Ele precisa convocar todos os governadores, convocar representantes de entidades dos prefeitos, pois eles que estão sendo pressionados por falta de oxigênio, por falta de remédio e de vacina, pela falta do auxílio emergencial", destacou Adriano em entrevista à Rádio Jornal.
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Após a reunião com Bolsonaro, o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP-AL) fez um balanço do encontro e disse que a pandemia é a mais importante das mazelas brasileiras, e que estava acionando um sinal amarelo, um alerta, sobre os erros primários cometidos por autoridades fora do Poder Legislativo. Arthur Lira disse que tudo tem um limite. A fala foi encarada como um recado a Bolsonaro de que os rumos do enfrentamento à pandemia precisam ser alterados.
"Quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando matérias teóricas como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no noticiário. Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados. Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta Presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política", afirmou Lira.
Medidas com níveis decrescentes de danos políticos devem ser evitadas. Mas isso não depende apenas desta Casa. Depende também, sobretudo, daqueles que fora daqui precisam ter a sensibilidade de que o momento é grave, a solidariedade é grande, mas tudo tem limite. Tudo. E o limite do Parlamento brasileiro, a Casa do Povo, é quando o mínimo de sensatez em relação ao povo não está sendo obedecido.Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados
Impeachment
O professor Adriano Oliveira comparou a fala de Arthur Lira com o recado de um taxista, afirmando que se o presidente sair do rumo "terá de descer do carro". No entanto, Adriano pondera que não seria bom ao Brasil um processo de impeachment em um momento de crise como o atual. "Discordo de quem o classifica o presidente como genocida, a falta de diálogo dele se dá porque ele não e forjado à política, ao respeito, ao contraditório. Por isso, tem a incapacidade de governar. Mas, nesse momento, um processo de impeachment seria muito ruim para a sociedade, pela crise sanitária e financeira. O presidente precisa de diálogo", comentou.
Comitê
O presidente Jair Bolsonaro anunciou a criação de um comitê de coordenação nacional para o combate à pandemia. O grupo terá reuniões semanais e será formado pelo chefe do Executivo e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, e outros membros.
A medida foi decidida em reunião na manhã dessa quarta-feira, no Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro recebeu, além dos presidentes do Parlamento, o líder do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o procurador-geral da República, Augusto Aras, governadores, ministros de Estado e representantes de instituições independentes.
“Mais que harmonia, imperou a solidariedade e a intenção de minimizarmos os efeitos da pandemia. A vida em primeiro lugar”, disse Bolsonaro em pronunciamento à imprensa após a reunião.
De acordo com o presidente, houve unanimidade entre todos os presentes sobre a necessidade de ampliar a capacidade de produção e aquisição de vacinas para alcançar a imunização em massa da população. Além disso, o presidente também falou sobre a possibilidade de “tratamento precoce”. “Isso fica a cargo do ministro da Saúde [Marcelo Queiroga], que respeita o direito e o dever do medico de tratar off-label os infectados”, disse.
No mesmo dia do anúncio, o Brasil bateu a triste marca de 300 mil mortes por covid-19, dois meses e meio depois de ter chegado a 200 mil mortos, em 7 de janeiro de 2021. Já esta marca demorou pouco mais de cinco meses após a pandemia chegar aos 100 mil mortos, o que ocorreu em 8 de agosto de 2020.
Medidas com níveis decrescentes de danos políticos devem ser evitadas. Mas isso não depende apenas desta Casa. Depende também, sobretudo, daqueles que fora daqui precisam ter a sensibilidade de que o momento é grave, a s
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados