'Temos que garantir a resolução de problemas atuais da pandemia', diz Humberto Costa sobre a CPI da Covid
Comissão será instalada nesta terça-feira (27), quando serão escolhidos o presidente, o vice-presidente e o relator do grupo
Às vésperas da instalação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que vai investigar as ações do governo e o uso de verbas federais na pandemia de covid-19, o único senador pernambucano que integra o colegiado, Humberto Costa (PT), diz esperar que a investigação possa não somente olhar para o que já passou, mas também resolver problemas em curso para tentar evitar mais mortes em decorrência da doença. A primeira reunião do grupo será nesta terça-feira (27), às 10h, quando será realizada a eleição do presidente e do vice-presidente da comissão. O presidente será o responsável por escolher o relator da CPI.
De acordo com Humberto, o ideal é que o atual ministro da saúde, Marcelo Queiroga, seja o primeiro membro do governo federal a ser ouvido nas investigações. "A minha preocupação é que a gente precisa não somente fazer uma investigação sobre o passado, mas garantir que agora, no presente, o governo desenvolva ações para resolver os problemas que a pandemia tem. A perspectiva dessa pandemia não é de acabar agora, ela vai demorar, e depende muito da postura que o governo vai adotar. Então a minha ideia é que a gente pressione o governo Bolsonaro, que só faz o que tem que fazer se for pressionado, e que com isso a gente possa, na ação de fiscalização do governo, colocá-lo em uma posição de ser obrigado a decidir as coisas que precisam ser decididas", pontuou o petista.
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A CPI da Pandemia foi criada através de um requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede) para investigar ações e omissões do governo federal no combate à covid-19. O foco de atuação do grupo foi ampliado, porém, depois que o senador Eduardo Girão (Pode) solicitou que a comissão apurasse também o uso de verbas federais usadas por estados e municípios para enfrentar a crise sanitária. Tanto Randolfe quanto Girão defendem que todos os ex-ministros da Saúde que o presidente Jair Bolsonaro já teve - Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello - sejam ouvidos pelo colegiado.
"A CPI é um instrumento de fiscalização das ações do Poder Executivo. Portanto, as nossa ações, as denúncias que a gente apurar, tudo o que vier a concretizar a ação ou ausência de ação do governo, é relevante, é importante para que o governo tome consciência de que se trata de uma investigação efetiva e de que vai trazer danos e prejuízos a ele, à sua imagem, e com isso ele adote o que tem que ser adotado e salve muitas vidas, coisas que o governo não está interessado hoje em fazer", observou Humberto.
Líder do governo Bolsonaro no Senado, o também pernambucano Fernando Bezerra Coelho também foi procurado pela reportagem para comentar o início dos trabalhos da comissão, mas não respondeu às tentativas de contato até a publicação desta matéria.
ELEIÇÃO
A CPI da Covid é composta por 11 senadores e vai funcionar de forma semipresencial, mas só poderão votar para presidente e vice-presidente aqueles parlamentares que estiverem presencialmente no local. Um acordo construído entre sete dos 11 senadores que fazem parte da grupo prevê que Omar Azis (PSD) assuma a presidência, indicando Renan Calheiros (MDB) para a relatoria. A vice ficaria com Randolfe Rodrigues.
Eduardo Girão, porém, já se inscreveu para disputar a presidência da comissão mesmo com poucas chances de ser eleito. Apesar de se colocar como independente, o senador tem relação próxima com o Palácio do Planalto. Além dele, os senadores Ciro Nogueira (PP), Jorginho Mello (PL) e Marcos Rogério (DEM), que também são membros da CPI, têm proximidade com Bolsonaro.
O movimento dos aliados do presidente é para evitar que Calheiros assuma a relatoria da comissão, pois é o relator quem dá o tom das investigações e o emedebista é um opositor ferrenho do militar da reserva. A deputada federal Carla Zambelli (PSL) chegou até a acionar a Justiça Federal para que Renan não assuma o posto, pois, segundo ela, "a presença de alguém com 43 processos e seis inquéritos no STF evidentemente fere o princípio da moralidade administrativa".
Como a comissão também vai investigar os gastos de estados e municípios na pandemia, há críticas ao fato do senador ocupar a relatoria da CPI também porque ele é pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). Na última semana semana, no entanto, o senador usou as suas redes sociais para afirmar que não vai relatar ou votar qualquer tema ligado ao estado governado pelo seu filho.